AVANCA | CINEMA

An analysis of women's fashion in the 1970’s and 1980’s, based on movie posters

Análise da moda feminina nas décadas de 70 e 80, do século XX, baseada nos cartazes de cinema

Irina Parreira

CIAUD - ULisboa Faculdade de Arquitetura, Portugal

Michele Santos

CIAUD - ULisboa Faculdade de Arquitetura, Portugal

Maria João Pereira Neto

CIAUD - ULisboa Faculdade de Arquitetura, Portugal

Abstract

Fashion and clothing are ways of communication. It is universal, found in almost everything that surrounds us. In cinema, fashion stands out particularly through costume design. Costume design unites fashion design with cinema, there has always been a mutual influence.
In this paper, we intend to explore and analyse the links between female fashion, in the 1970s and in the 1980s, and the power conquered by women during this period, through the analysis of movie posters. This proposal falls into the art group and fits into the theme of Fashion History and Women’s Empowerment.
Following the advancement of feminist mentalities in the twentieth century, changes in this nucleus began to focus on women’s liberation, especially in the 1960s, 1970s, and 1980s. Women’s struggle was not only centred on domestic liberation but also on the freedom of wearing what pleased them best, allying comfort and modernity.
This study intends to analyse the connection between women’s fashion and female power using the posters of the films of the epochs, evaluating the feminine presence and the force that transmits. This research aims to praise and uphold the preponderance of fashion and clothing in this era (70’s e 80’s) of Female Empowerment.

Keywords: Fashion, Women, Empowerment, Cinema, Posters.

Introdução

Os anos sessenta trouxeram transformações nas organizações sociais e culturais. Iniciou-se uma nova era na História que influenciou as décadas seguintes. A década subsequente, destacou-se pela indefinição e irregularidade, com a propagação de controvérsias e ideais liberalizantes.

Até ao final da década de 70 continuou a libertação sexual, o desenvolvimento de movimentos políticos e a reclamação dos direitos femininos. Promoveu-se também o incentivo e a difusão da convivência entre povos o que trouxe uma modernização verdadeiramente notória. (Seeling 1999, 409- 410)

Por sua vez, a década de 80, do século XX, sobressaiu da anterior nos mais diversos sectores. Os anos 80 enriqueceram a sociedade, a cultura, os costumes e a moda. Destacava-se a industrialização e a atualização. Foi uma era de favorecimento económico e magnificência universal, tudo proliferava em prol do enriquecimento.

“Os anos 80 foram uma década de contraste, em nenhuma das décadas anteriores se consumiu tão impensadamente, ao mesmo tempo que se acentuava cada vez mais o abismo entre pobres e ricos. Por fim, podia saborear-se o luxo de modo desenfreado.” (Seeling 1999, 487)

Num contexto geral, os jovens da geração baby boomers dos anos 60, que outrora lutavam por causas políticas, nos anos 80, eram adultos, ambicionavam enriquecer e ser pessoas de sucesso. Eram o reflexo do abandono das crenças idealistas da década anterior. Nesta nova era imperava o enriquecimento e o êxito. (Seeling 1999, 488)

Na década de oitenta prevalecia o que pudesse ostentar riqueza, poder, fortuna e farra. A vida noturna e o divertimento foram um sucesso. Desejava-se viver intensamente cada instante. (Lipovetsky 2010, 218)

Os anos 70 e 80 complementaram-se em inúmeros sectores, nomeadamente no audiovisual, mas com maior destaque no cinema. Foram décadas prósperas no investimento cultural visual e no estudo da sua importância. (Barnand 2001, 1)

Neste artigo o estudo da cultura visual cinematográfica surge com o intuito de aprofundar o conhecimento do vestuário, da moda e do emporwerment da mulher nas décadas em referência, recorrendo ao figurino e aos cartazes dos filmes dessas mesmas épocas.

Cinema e figurino como impulso feminista

No cinema, o figurino constitui-se como um veículo de comunicação das personagens. Foi através do vestuário que se descodificaram as personagens. (Maioli 2013, 70) A relação entre eles, torna-se uma prova documental para o estudo do guarda-roupa.

Segundo a autora Stella Bruzzi (1997, 16), existem peças de roupa icónicas em determinados filmes, com o objectivo de eternizar as cenas, as personagens, as atrizes, o designer da peça e o próprio filme. Estas roupas, utilizadas no Costume Design(figurino), traduzem menções inesquecíveis. Parcerias entre marcas ou designers, com empresas de produção de filmes, eram frequentes desde os anos 50, mas nas décadas de 70 e 80 intensificaram-se. (Bruzzi 1997,16)

O figurino foi um fator importantíssimo na indústria cinematográfica, considerando-se um valor acrescentado à produção. A obra dos costume designers é fundamental na definição da personagem e no sucesso da conexão entre o guarda-roupa e o filme, podendo definir ou contribuir para o seu êxito.

Os figurinistas desde cedo que desempenharam um papel fundamental na sétima arte, mas alguns destacaram-se dos demais, nomeadamente Edith Head (1897-1981). Edith teve uma enorme relevância na área e trabalhou desde os anos 20 até à década de 80 com grandes realizadores, como Hitchcock. Foi uma referência para muitos costume designers.

De acordo com as referências mencionadas e com recurso aos estudos culturais e visuais, enumeraram-se os filmes correntes da década de 70 e 80, ricos em termos de figurinos e com personagens femininas de destaque. Após essa recolha, selecionaram-se oito filmes: Scarface, Flashdance, Casino, Boogie Night, Taxi Driver, Fatal Attraction, American Gigolo e Annie Hall, a partir dos quais se iniciou a visualização e respetiva análise cinematográfica sobre o vestuário feminino. Esta avaliação das personagens femininas incidiu na interpretação do seu guarda-roupa e na associação desse meio ao empowerment e ao feminismo, perante o contexto histórico e feminista vivido. A interpretação da presença feminina nos posters dos filmes, foi também um dos focos da análise.

a) O empowerment feminino e o cinema

Nos anos 70, o feminismo proliferava com o impulso da década anterior. Nesta altura destaca-se Margaret Thatcher, conhecida como a dama de ferro, em que 1979 venceu as eleições no Reino Unido. A sua vitória foi um marco importantíssimo para o Empowerment feminino. As mulheres continuavam a afirmar-se no campo profissional e político e eram cada vez mais bem sucedidas. Elas desejavam atingir os seus objetivos.

A afirmação da mulher processou-se através de duas vertentes feministas. Uma das vertentes composta por mulheres que descoravam de qualquer feminidade no vestuário ou na aparência. E outra vertente seguida por mulheres que se maquilhavam de uma forma suave e que utilizavam vestuário mais discreto. No cinema eram evidentes e representadas ambas as facetas.

No estudo realizado pela autora Stella Bruzzi (1997, 121), de acordo com a opinião da escritora e ativista feminista Simone Beauvoir (1908-1986), em 1949, a relação entre o custume design e a personagem feminina, desfavorecia a mulher pois todo o vestuário era utilizado como veículo de erotismo ou condescendência face ao personagem masculino.

Mas, segundo Stella (1997), essa postura da mulher no cinema começou a mudar a partir dos anos sessenta e com mais incidência nos anos setenta e oitenta. As opiniões divergiam em relação à contribuição e demonstração da emancipação através do vestuário. Algumas convicções defendiam que a roupa feminina significava emancipação, assim como a utilização de roupa mais masculina, mas ambos os estilos não descredibilizavam o sentimento de empoderamento da mulher. A roupa não limitava os seus ideais, pois a maioria das mulheres dos anos 70 e 80, utilizavam o vestuário com que mais se identificavam, independentemente da opinião masculina.

A moda a partir de 1973, depois de romper com as tendências dos anos 60, adoptou uma fase repleta de cores neutras como o bege, o caqui, entre outros tons pastel. Não existia uma regra definida, cada uma adoptava o seu próprio estilo (Seeling 1999, 410). As peças de vestuário comuns eram, as saias com cortes masculinos ou compridas, os chapéus, os coletes, as malhas, os casacos, as calças largas ou à boca de sino. Existia um revivalismo no vestuário e na moda, procurava-se reproduzir de novo as fibras têxteis mais naturais e rústicas. (Laver 1993, p.269)

O estilo feminino mais predominante era o natural, bastante cuidado, mas discreto. Surgiu neste contexto a primeira geração de mulheres jovens urbanas, que apenas usavam calças.

No final dos anos setenta, a naturalidade, no vestuário e na aparência, foi substituída por maquilhagem mais contrastante, com os lábios vermelhos e os olhos pintados de preto. O vestuário também viria a sofrer as suas alterações nomeadamente na utilização de tons mais escuros.

Na maioria dos filmes da década de setenta e oitenta, as personagens femininas vestiam roupa feminina com traços masculinos, evidenciando a sua postura perante uma nova vivência.

O vestuário das personagens femininas era uma das melhores estratégias de divulgação da independência da mulher. Esta exaltação da mulher foi mais notória nos anos oitenta, com a afirmação da mulher feminina e poderosa.

A década de 80 foi um marco importantíssimo para a mulher, assinalou a sua vida ativa em diversas profissões e sectores. As mulheres esforçavam-se para se poderem sustentar na independência. (Lipovetsky 2010, 162)

As mulheres distinguiam-se pelas suas capacidades de liderança, competitividade e profissionalismo, demonstrando iguais méritos e aptidões que os homens.

“Procurava cumulativamente realçar a sua presença pelo seu aspecto cuidado e atraente, por emitir opiniões, eliminando a falsa e preconceituosa ideia de mulher-objeto veiculada pela moda dos anos 50.” (Teixeira 2000, 205).

A utilização de vestuário feminino, com traçado masculino, foi uma das afirmações da cultura, do corpo e do Empowerment.

Todavia durante os anos oitenta, inúmeras mulheres fizeram com que as suas capacidades sobressaíssem e foram muitas as celebridades femininas que se destacaram. Madonna, em 1984, atinge uma grande popularidade, era uma das mulheres mais influentes, tal como Tina Turner, a atriz Meryl Streep e a Michelle Pfeiffer, entre outras. O cinema apostou muito no talento feminino e surgiram vários filmes protagonizados por mulheres ou destacando-as.

Os anos 80, como foi explanado, foram fortemente influenciados pela obsessão laboral, que já se evidenciava na década de 70. A sociedade estava muito embrenhada na carreira profissional e na prosperidade. Esta geração abandonou quase por completo os ideais do liberalismo, emergindo num novo perfil social, os yuppies (young upwardly mobile professionals).

A moda movia-se de forma horizontal, mais focada na identidade pessoal.

“Neste processo, a moda tornou-se um comportamento do quotidiano, e temporariamente assistimos (…) a uma maior autonomia cultural da mulher, que a partir de agora adquire a liberdade de ser quem é por meio de seu estilo.” (Maioli 2013,p. 30)

A geração dos yuppies foi um símbolo dos anos oitenta. Eles caracterizavam-se pela aparência cuidada do power look (o look do poder). Este estilo era a marca de ambição e da mentalidade positiva.

As mulheres yuppies utilizavam roupa mais cintada, chumaços nos ombros e saias estreitas. Elas desejavam transmitir autoridade e poder, afirmar a emancipação e Empowerment. Os anos 80 reverteram-se na década do dress for success (vestir-se para o sucesso). Os ombros enchumaçados expunham uma postura imponente, tal como o vestuário cuidado. (Teixeira 2000, 205). A mulher exibia um estilo feminino, mas com traços visíveis do vestuário masculino. Conquistou um vestuário único e autêntico.

Na realidade, formularam-se diversos juízos classificatórios da década de 80. O cinema foi muito próspero e enalteceu um guarda-roupa peculiar e expressivo da década. A figura feminina começou a ser representada de uma forma mais enaltecida e poderosa, utilizando tanto um vestuário vistoso como discreto, dependente do carácter que a personagem pretendia representar.

b) Análise cinematográfica e cartazes

No estudo realizado até ao momento, com base nos filmes visualizados e analisados, já mencionados anteriormente, as personagens femininas, no geral, têm um grande destaque e são posicionadas como mulheres emancipadas e poderosas. Esse poder é-lhes notabilizado pela postura, pelo impacto e também através do vestuário. No entanto, no geral, essas personagens ainda dependem da opinião e atenção do protagonista masculino ou de outra entidade masculina.

Por cada filme, é vulgar existirem duas personagens femininas em destaque, mas apenas uma é a personagem secundária ou principal.

Relativamente ao figurino, o Costume Design dos filmes é muito rico e uma fonte permanente de cultura visual. É através da visualização e análise do vestuário que se estudam as personagens, as suas expressões e as realidades vividas na época. Os filmes visualizados foram selecionados por estrearem nas décadas de 1970 e 1980, ou por caracterizarem esse período.

American Gigolo

O filme American Gigolo realizado por Paul Schrader, em 1980, teve a colaboração de Giorgio Armani no costume design, as personagens enquadram-se no estilo yuppie. A personagem feminina com mais destaque utiliza maquilhagem em tons naturais e subtis toques luminosos. É evidente o início da utilização de vestuário com traços masculinos, como as gabardines, os casacos mais estruturados e os sapatos rasos. Mas também está muito presente a leveza das peças e os vestidos cintados, assim como a utilização de camisas fluidas e abaloadas. O filme explana o culto pela tez bronzeada e boa forma física.

Na avaliação do empowerment feminino, o filme aborda a emancipação da mulher através da valorização do prazer sexual feminino. As personagens femininas são no geral mulheres mais velhas, determinadas, sofisticadas e sem tabus.

Neste contexto, após a averiguação do cartaz do filme (figura1), onde apenas conta o protagonista, conclui-se que o destaque vai para a personagem masculina, mas existe uma ressalva escrita dirigida às mulheres. No poster do filme, o lettering a vermelho revela a ousadia, a luxúria e a tentação presentes no filme, antecipando algum do conflito da trama. A sombra do protagonista descodifica o lado mais obscuro do filme, tal como o tom mais escuro e sombrio, antecipado algo delituoso.

Figura 1- Poster do filme American Gigolo, 1980. Fonte: IMDB

Scarface

O filme Scarface, de 1980, realizado por Brian de Palma conta com Patrícia Norris na direção do guarda-roupa, é um filme memorável. Michelle Pfeiffer interpreta Elvira, uma das personagens femininas mais notáveis no cinema da época. Elvira utiliza um vestuário muito sofisticado e elegante. Grande parte das vezes apresenta-se com vestidos fluidos e sem soutien, demonstrando ousadia, emancipação e segurança. Alguns dos looks utilizados são fatos cintados e de cores mais neutras, no entanto o vestuário noturno é mais escuro e brilhante, onde é evidente o culto pelo estilo disco.

O empowerment feminino é incontestável, neste filme a mulher está em destaque pelas suas conquistas e inteligência. Elvira Hancock, é uma mulher muito impactante. Ela utiliza um vestuário arrojado, apresentando-se de uma forma emancipada e descomprometida de tudo, destemida e confiante, num mundo de homens, onde a mulher não é habitual. É uma personagem que evidência muita personalidade através do figurino. A maquilhagem é subtil, o vestuário é ousado mas ao mesmo tempo é uma representação da sua libertação pessoal. Ela demonstra um grande amor próprio, enaltecendo o Empowerment feminino.

Scarface é um filme violento, triste e intrigante, todos esses adjetivos estão subtilmente representados no cartaz (Figura 2). A violência e a tristeza são visíveis através do vermelho nas letras e na expressão facial do protagonista. A dualidade básica entre o preto e branco representam as duas facetas da personagem. Contrariamente, ao invés do filme, na capa não existe presença feminina nem qualquer menção à mulher.

Figura 2- Poster do filme Scarface, 1980. Fonte: IMDB

Casino

Casino é um filme de 1995 e retrata a década de 70 e início dos anos 80. Casino é realizado por Martin Scorsese, na direção de figurino conta com a dupla Rita Ryack e John Dunn. O filme distingue-se pelo figurino cuidado e detalhado que representa os anos setenta e termina com os anos oitenta. O guarda-roupa da personagem feminina principal, interpretada por Sharon Stone, expressa bem as diferenças e mudanças entre as duas décadas. No começo do filme as cores do vestuário são mais neutras, dentro do que era o estilo dos anos 70 e no final mais escuras referentes aos anos 80. No entanto, no geral, o vestuário é demasiado exuberante e até excêntrico para a década de 70, mas totalmente perceptível pois passa-se tudo num ambiente de casino muito glamoroso. No final do filme, representação do inicio da década de 80, a personagem de Sharon Stone exibe um corte de cabelo sofisticado e usa roupas mais escuras, como preto e vermelho, padrões fortes, fatos de cabedal, casacos estruturados e oversized.

Sharon Stone interpreta Ginger. Ela é uma personagem forte e aparenta ser como uma mulher independente, mas na realidade é submissa a um ex-namorado e isso torna-a insegura e emocionalmente fraca. Durante o filme Ginger vai sofrendo um declínio gradual e acaba como uma mulher neurótica. Na realidade, a sua postura, no filme, degrada-se e todo o simbolismo do empowerment inicial desvanece.

No entanto, esta personagem é um dos grandes focos do filme e faz parte do cartaz (Figura 3). O cartaz do filme é muito simples e conta com a presença do elenco principal, um triângulo amoroso. As cores são quentes em contraste com o fundo preto, inserindo o espectador numa atmosfera de luxúria.

Figura 3- Poster do filme Casino, 1995. Fonte: IMDB

Flashdance

Flashdance de 1983, é uma obra do realizador Adrian Lyne e do figurinista Michael Kaplan. Dos filmes visualizados este é o único protagonizado por uma mulher. Alexandra Owens (Alex) a protagonista, interpretada por Jennifer Beals, é uma mulher sonhadora e ambiciosa, que deseja ser uma bailarina profissional.

Alex é uma mulher jovem, insegura e pouco confiante, mas ao ultrapassar os seus medos torna-se invencível. O figurino está muito bem desenvolvido, conferindo-lhe personalidade. Quando ela dança, os looks são mais ousados proporcionando o status que Alex deseja atingir. Todos estes fatores expressam a determinação e a resiliência feminina.

O cartaz de Flashdance (Figura 4) é simples e discreto, com a presença da protagonista e do título, é subtil mas ousado. As cores são quentes e transmitem bem-estar e tranquilidade em contraste com a moldura preta.

Figura 4- Poster do filme Flashdance, 1983. Fonte: IMDB

Taxi Driver

Taxi Driver é um dos filmes mais célebres do realizador Martin Scorsese, produzido em 1976, com o apoio da costume designer Ruth Morley. A trama dispõe de 1 protagonista e de 2 personagens secundárias, a Betsy e a Iris, ambas muito importantes para o desenvolvimento da trama e da personalidade do protagonista.

Uma das personagens femininas, Betsy apresenta-se com um estilo casual chique e utiliza vestidos e fatos. Inicialmente usa vestidos cintados e roupa mais feminina, mas ao impor-se sobre a personagem masculina, manifesta-se com uma postura muito mais rígida começando por vestir fatos/calça em tons mais claros. A Iris, a outra personagem feminina, distingue-se transversalmente por um estilo ousado e roupa muito curta, como calções, tops e calças à boca de sino.

Em análise ao empowerment feminino, a personagem da Betsy não tem muita presença no ecrã, mas é um marco importante para a personagem principal. As suas atitudes demonstram muito empowerment. A Iris é um ponto de viragem para o protagonista e é mais relevante na história. Nas conclusões do filme é louvável a atenção do realizador para a consciencialização do respeito pela a mulher.

Considerando todo estes factos o poster do filme (Figura 5) é verdadeiramente notável pela mistura de tons frios e quentes que revelam a personalidade do protagonista. O cartaz prova a solidão do protagonista na sua condução noturna. O amarelo do táxi e da faixa a baixo poderão representar a luz da mudança na sua personalidade.

Figura 5- Poster do filme Taxi Driver, 1976. Fonte: IMDB

Boogie Nights

Boogie Nights é um dos filmes mais singulares e peculiares do realizador Paul Thomas Anderson. Neste filme, Paul Thomas Anderson, como era habitual, trabalhou com o inigualável figurinista Mark Bridges.

Em Boogie Nights, a personagem feminina com mais destaque é a Amber, interpretada por Julianne Moore. Amber é uma atriz pornográfica e o seu estilo varia entre o fim dos anos 70, no inicio do filme, até aos anos 80, no final do filme. A trama principia-se com a representação da década de 70, perante um vestuário colorido e estampado. Depois surgem as roupas mais juntas e ornamentadas, sem a utilização de soutien. Por fim, na representação dos anos 80, os penteados são mais trabalhados, o cabelo mais cuidado, o vestuário brilhante e luzidio, com fatos e maquilhagens mais exageradas. A estética do filme enaltece o vestuário arrojado e diferenciado ao longo da trama.

Examinando o empowerment feminino, todas as personagens femininas representadas no filme, têm um grande relevo. Apesar do filme relatar os anos de ouro da indústria pornográfica americana, não existe uma exploração excessiva da mulher. No entanto o vestuário é muito sexual, mas é perceptível perante a temática.

Na avaliação e consideração do poster do filme Boogie Nights(Figura 6), foi perceptível a analogia entre a estrela da fama e todas as personagens no seu interior, uma vez que o filme fala dos anos de estrelato da pornografia em Hollywood. A capa acaba por ser coletiva, mas com o relevo do protagonista, pois salienta-se dos demais presentes. As cores são quentes e existe uma forte predominância do vermelho, cor da paixão, da luxúria e do pecado, substantivos associados à história do filme.

Figura 6- Poster do filme Boogie Night, 1997. Fonte: IMDB

Fatal Attraction

Adrian Lyne é o realizador do filme Fatal Attraction, de 1987, protagonizado por Michael Douglas e Glenn Close, com a colaboração da inigualável costume designer Ellen Mirojnick.

Protagonizada por Glenn Close, Alex é a personagem feminina com maior exposição. Ela tem um estilo feminino muito urbano e cosmopolita. Alex é uma mulher distinta e utiliza vestuário ousado, cuidado e elegante. O guarda-roupa da personagem é repleto de sobretudos e blazers com chumaços nos ombros, elegantes power suits e roupa cintada.

A personagem de Glenn Close primeiramente exibe uma atitude muito emancipada e independente. No entanto, todo o empowerment feminino evidente no início do filme, acaba por dissipar-se quando Alex desenvolve uma paixão desmedida e neurótica pela personagem de Michael Douglas. A atitude de mulher independente dos anos 80, desaparece quando Alex começa a ser obsessiva e manipuladora. Por esse facto, a personagem perde alguma da sua magnificência.

Como tem sido evidente em grande parte dos filmes dos anos 80, o poster do filme Fatal Attraction (Figura 7) também tem uma forte presença da cor vermelha. O vermelho neste poster aparece como símbolo da proibição, da traição e da paixão, separando o casal de amantes. A cor roxa das personagens torna o enquadramento misterioso e mágico. Todos estes factos exaltam a curiosidade e desejo de ver o filme.

Figura 7- Poster do filme Fatal Attraction, 1987. Fonte: IMDB

Annie Hall

Annie Hall, de 1977, é um dos filmes mais célebres e premiado do realizador Woody Allen e conta com a colaboração de Ruth Morley no guarda-roupa. Woody Allen além de realizador do filme, é o protagonista, juntamente com Diane Keaton.

Diane Keaton interpreta Annie Hall, uma personagem muito emancipada, revolucionaria e hábil. Annie tem um estilo muito próprio e um figurino interessantíssimo repleto de fatos com calças, coletes, blazers, camisas e profundos apontamentos mais masculinos, como as gravatas e os sapatos rasos. O seu estilo próprio e a maquilhagem suave, com os olhos contornados a pretos, são um marco no filme.

Annie Hall é uma mulher determinada, intensa, livre e corajosa. Ela é genuína e vinca a sua personalidade, independentemente dessa atitude agradar aos seus amigos, ou marido. Annie é uma mulher afirmativa nas suas crenças, opiniões e ideais. A sua prioridade na vida é ser feliz e ter realização profissional.

Contrariamente aos posters dos restantes filmes abordados, o poster do filme Annie Hall (Figura 8) é totalmente a preto e branco. No cartaz consta uma imagens dos protagonistas e o restante elenco por escrito. É de salientar a presença feminina no poster. Diane Keaton e Woody Allen protagonizam o filme e aparecem juntos no cartaz. A afirmação feminina no filme é bastante evidente e esse facto está claro também no poster.

Figura 8- Poster do filme Annie Hall, 1977. Fonte: IMDB

Conclusão

Após a análise dos filmes mencionados e respetivo relacionamento da moda feminina ao posicionamento da mulher na trama, podemos deduzir que essa conexão está presente e é fundamental. O trabalho das equipas do Costume Design nos filmes visualizados foi importantíssimo para a construção das personagens. Os filmes visualizados, datados entre 1970 e 1980, representam a mulher de uma forma independente e poderosa, através do vestuário arrojado e cuidado. Este facto é potencializado pelo trabalho exímio dos figurinistas.

Mas ao avaliar a posição da mulher nos filmes e o seu empowerment, podemos visualizar algumas contradições entre o vestuário e as atitudes ao comparar o desenvolvimento da personagem durante o enredo. Em alguns dos filmes mencionados, a mulher acaba por ter atitudes desmedidas e neuróticas e esse facto descredibiliza-a. Nestes filmes onde a mulher acaba por ser humilhada em função do homem, ela perde a sua segurança e postura.

De salientar que quando a personagem feminina não é desvalorizada, existe uma certa necessidade da mesma ter a aprovação masculina. Dentro dos filmes visualizados, apenas em três a mulher é uma figura forte e integra do início ao fim.

Considerando todos os dados em estudo, os posters dos filmes têm algumas cores padrão como o vermelho e as tonalidades quentes. Na maioria dos cartazes existe um apontamento vermelho e depois alguns contêm tonalidades quentes no redor. Apenas os filmes com contornos mais sombrios evitam a saturação e a temperatura quente das cores escolhidas.

Em suma e de acordo com os autores consultados, podemos concluir que as personagens femininas nos filmes dos anos 70 e 80, dispunham de um figurino elegante e distinto. Contudo, o rumo das personagens em alguns dos filmes, desvanece esse empowerment. Nos cartazes a presença feminina é muito escassa, claro que contabilizando apenas os filmes avaliados. Todavia, é de salientar que as mudanças no cinema da década de setenta e oitenta já eram notórias e a mulher era mais realçada e valorizada contrapondo com décadas anteriores.

Bibliografia

Barnard, Malcolm. 2001. Approacher to understanding visual culture. New York: Malcolm Barnard.

Barnanrd, Malcolm. 1998. Art, Design and Visual Culture. London: Malcolm Barnard.

Breward, Christopher. 1998. Fashion. Oxford: Oxford University Press.

Bruzzi, Stella. 1997. Undressing Cinema. New York: Routledge.

Laver, J. 1993. A roupa e a moda. São Paulo: Companhia das Letras.

Lipovetsky, Gilles. 2010. O IMPERIO DO EFEMERO, A moda e o seu destino nas sociedades modernas. Lisboa: Dom Quixote, 2ª Edição.

Maioli, Fah. 2013. Manual de Coolhunting, métodos e práticas. Porto Alegre: Vidráguas.

Teixeira, Madalena. 2000. A moda do século 1900 - 2000. Lisboa: Museu Nacional do Traje.

Seeling, Charlotte. 2000. Moda: O SÉCULO DOS ESTILISTAS 1900 - 1999. Konemann.

Filmografia

American Gigolo. 1980. Dir.: Paul Schrader; Elenco: Richard Gere, Lauren Hutton, Hector Elizondo.

Annie Hall, 1977. Dir.: Woody Allen; Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts.

Boogie Night. 1997.Dir.: Paul Thomas Anderson; Elenco: Mark Wahlberg, Julianne Moore, Burt Reynolds.

Casino. 1995. Dir.: Martin Scorsese; Elenco: Robert De Niro, Sharon Stone, Joe Pesci.

Fatal Attraction. 1995. Dir.: Adrian Lyne; Elenco: Michael Douglas, Glenn Close, Anne Archer.

Flashdance. 1983. Dir.: Adrian Lyne; Elenco: Jennifer Beals, Michael Nouri, Lilia Skala.

Scarface. 1980. Dir.: Brian de Palma; Elenco: Al Pacino, Michelle Pfeiffer, Steven Bauer.

Taxi Driver. 1976. Dir: Martin Scorsese; Elenco: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd.