Abstract
In the project ‘Viver ao Vivo: Com Tempo no Centro’, Modest Mussorgsky’s “Pictures at an Exhibition” is reimagined, transcending its original modality to become a multisensory spectacle. Laing (2007) offers a fundamental understanding of Mussorgsky’s work, which informs the authors’ analysis and the project’s ambition to promote the appreciation of classical music for contemporary audiences through the fusion with artistic video. The synthesis of performative music and cinematography discussed by Pandey (2022) elucidates the capability of visual media to extend the narrative of a musical score. This project leverages these insights, as articulated by Penner (2020), by employing auteur video production techniques to create a dialogue between the auditory and the visual, maintaining fidelity to Mussorgsky’s compositional intent. Reason et al’s exploration of audience engagement in live performances (2022) complements this study by highlighting the experience emphasized through visual storytelling, a concept further detailed by Penner ‘s work (2020) on digital narrative in music. The project also serves as a pedagogical platform, as suggested by Shephard & Leonard (2014), bringing the nuances of classical music to a broader audience. Additionally, the initiative addresses the arts as a privileged medium of cultural memory, resonating with Assmann’s (2011) perceptions of the role of the arts in preserving collective heritage. The text culminates in considering the impact of integrating performative and plastic arts, similar to Woycicki’s (2014) examination of cinematic and post cinematic approaches to modern theatre, on the cultural richness of presenting classical music.
Keywords: Synaesthesia, Classical Music, Vídeo, Cultural Memory.
Introdução
Este texto pretende fazer os autores e leitores refletirem sobre memória, artes performativas e artes visuais no contexto do projeto “Viver ao Vivo: Com Tempo no Centro” realizado em três municípios no centro de Portugal - Sardoal, Celorico da Beira e Castanheira de Pera - Arte em Rede, que foi apoiado pelo Centro 2020, sob curadoria artística da Academia Internacional de Música “Aquiles Delle Vigne”. O projeto decorreu nos três municípios ao longo de 2021 e 2022 e integrou atividades culturais variadas que promoviam o património local (natural e edificado, material e imaterial) e exploravam a música clássica, bem como a popular, as artes visuais, a história e lendas locais, a culinária e a caminhada. No projeto ‘Viver ao Vivo: Com Tempo no Centro’, a obra “Quadros de uma Exposição” de Modest Mussorgsky foi reimaginada, transcendendo a sua modalidade original para se tornar uma apresentação multissensorial. Esta transformação visou fomentar uma apreciação multimodal da música clássica entre os públicos contemporâneos, integrando técnicas de vídeo artístico em complementaridade com o piano. Laing (2023) oferece uma compreensão fundamental da obra de Mussorgsky que informa a análise dos autores e a ambição do projeto de promover a apreciação da música clássica através da fusão com vídeo artístico. Este artigo explora a síntese de música performativa e cinematografia, o seu potencial de envolvimento do público através da narrativa visual e as implicações pedagógicas desta abordagem multissensorial.
“Quadros de uma Exposição” de Mussorgsky
“Quadros de uma Exposição” de Modest Mussorgsky é uma suíte para piano composta em 1874, inspirada por uma exposição de pinturas e desenhos de um amigo íntimo de Mussorsky - o artista plástico Viktor Hartmann. A suíte é um exemplo musical notável, onde cada andamento representa uma obra específica da exposição, misturando assim artes visuais e música numa narrativa evocativa. A composição de Mussorgsky é estruturada em torno de um tema recorrente, “Promenade”, que musicalmente retrata o compositor caminhando pela galeria de uma obra para a próxima. A suíte é composta por dez andamentos, cada um caracterizando vividamente diferentes cenas e temas das obras de Hartmann.
Os andamentos incluem:
- “Promenade” - O tema recorrente que liga os andamentos, representando a caminhada do compositor pelo espaço da galeria e pelo ambiente de cada obra plastica.
- “Gnomo” - Descrição grotesca de um gnomo deformado e assustador.
- “O Castelo” - Retrata um antigo castelo com um trovador cantando.
- “Tuileries” - Crianças brincando no Jardim das Tulherias em Paris.
- “Bydło” - Representação de um pesado carro de bois polaco.
- “Ballet dos pintainhos na casca” - Inspirado por um desenho de fantasias para um balé infantil.
- “Samuel Goldenberg e Schmuÿle” - Contraste entre dois judeus polacos, um rico e outro pobre.
- “Limoges. O mercado” - Ilustração de um mercado movimentado em Limoges.
- “Catacumbas (Sepulcrum Romanum)” – Andamento sombrio ambientado nas catacumbas romanas.
- “ Baba Yaga” - Descrição da cabana da bruxa Baba Yaga.
- “O grande Portão de Kiev” - Celebração do design majestoso de um portão triunfal para a cidade de Kiev.
Esta estrutura intrincada não apenas demonstra a habilidade de Mussorgsky em traduzir arte visual em música, mas também serve como uma homenagem à visão artística de Hartmann. A suíte é renomada pela sua imagética vívida e profundidade emocional, tornando-se um marco no repertório clássico e uma rica fonte para várias orquestrações e adaptações.
No projeto ‘Viver ao Vivo: Com Tempo no Centro’, a versão é interpretada por um pianista convidado (Tracy Tang no castelo de Linhares da Beira e Hok Chun Andy Chung no Centro Cultural Gil Vicente em Sardoal) e apresentada juntamente com vídeos artísticos que acompanham cada andamento, proporcionando uma experiência multimodal que combina som e imagem de maneira inovadora e envolvente. Esta abordagem não só realça a narrativa musical de Mussorgsky, mas também cria um diálogo entre as artes performativas e visuais, oferecendo ao público uma compreensão inter-artes da obra.
Os vídeos autorais foram concebidos especificamente para este projeto e na seguinte ordenação:
1. “Promenade”
2. “Gnomo”
3. “O Castelo”
4. “Tuileries”
5. “Bydło”
6. “Ballet dos pintainhos na casca”
7. “Samuel Goldenberg e Schmuÿle”
8. “Limoges. O mercado”
9. “Catacumbas (Sepulcrum Romanum)”
10. “Baba Yaga”
11. “O grande Portão de Kiev”
Música Performativa e Cinematografia
A integração da média visual nas performances musicais tem o potencial de estender e aprimorar a narrativa de uma partitura musical. A cinematografia pode enriquecer a experiência do público ao fornecer um contexto visual que complementa os elementos auditivos (Pandey, 2022), no entanto, também pode distrair e descentrar os melómanos que apreciam a música na sua especificidade imaterial, pelo que a integração dos dois elementos obedece a uma categoria que os autores entendem como de re-atuação invertendo o processo de conceção da obra por Mussorsky (das artes visuais para a música). Este projeto aproveita essas perceções ao empregar técnicas de produção de vídeo, conforme articulado por Penner (2020), para criar um diálogo entre o auditivo e o visual, mantendo a fidelidade à intenção composicional de Mussorgsky. Ao fazer isso, o projeto respeita a obra musical original, mas também amplia potencialmente a sua acessibilidade e impacto. Os autores que também fizeram a curadoria do processo junto dos artistas visuais enfatizam a importância, seguindo Penner (2020), de manter a integridade da composição musical enquanto introduzem novos elementos visuais. Este equilíbrio cuidadoso assegura que os componentes visuais não ofusquem a música, mas sim ampliem o espectro da experiência geral. Ao integrar essas tecnologias, o projeto visa criar uma experiência coesa e imersiva que apela a um público alargado.
A intenção dos autores foi a de reevocar a experiência fundadora de Mussorsky transformando um concerto tradicional numa experiência mais imersiva que capta a atenção do público e aprofunda sua conexão emocional com a música. Este projeto baseia-se nas descobertas de Reason et al (2022), incorporando técnicas de narrativa visual que se alinham com os temas e emoções de “Quadros de uma Exposição” de Mussorgsky. Ao fazer isso, o projeto explora novas vias de compreensão e a apreciação do público pela música, criando uma experiência mais memorável e impactante que chama a atenção física também para o património cultural existente in locco, como o concerto de Linhares da Beira onde os vídeos foram projetados diretamente na parede do castelo.
Preservação da Memória Cultural
O projeto aborda as artes como um veículo para a memória cultural, ressoando com as perceções de Assmann (2011) sobre o papel das artes na preservação do patrimônio coletivo.” Ao re-imaginar “Quadros de uma Exposição” de Mussorgsky através de uma lente contemporânea, o projeto ajuda a manter a música clássica viva e relevante para as futuras gerações. A integração de elementos visuais e auditivos cria uma ferramenta poderosa para preservar e transmitir a memória cultural, assegurando que a música continue a ressoar com públicos ao longo do tempo.
Interpretação Sinestésica: Integração de Música Clássica e Média Visual
A relação entre a música clássica e a média visual é um campo de estudo em expansão que oferece novas maneiras de experimentar e apreciar as artes. Esta relação é particularmente relevante no contexto de ‘Quadros de uma Exposição’, onde elementos multimídia foram explorados para ampliar a evocação da narrativa e a profundidade emocional da performance musical. A música clássica tem uma rica história de integração multimídia, remontando ao período barroco, quando a ópera combinava música com teatro e espetáculo visual. O conceito de Gesamtkunstwerk, ou “obra de arte total”, proposto por Richard Wagner no século XIX, buscava unificar várias formas de arte, incluindo música, drama e artes visuais, em uma experiência coesa. Esta ideia lançou as bases para as performances multimídia modernas.
Com o advento do cinema e, posteriormente, das tecnologias digitais, o potencial para integrar mídia visual com música clássica expandiu-se dramaticamente. Cineastas do início do século XX, como Walt Disney, experimentaram essa fusão em projetos como “Fantasia” (1940), que emparelhou composições de música clássica com sequências animadas. Este trabalho pioneiro demonstrou a capacidade da mídia visual de adicionar novas dimensões à música clássica, tornando-a mais acessível e envolvente para um público mais amplo. A integração de música clássica com mídia visual está enraizados em conceitos de sinestesia e aprendizagem multimídia. A sinestesia, um fenómeno onde a estimulação de uma via sensorial leva a experiências automáticas e involuntárias em uma segunda via sensorial, oferece um quadro para entender como estímulos visuais podem melhorar a experiência auditiva da música (Cytowic, 1989). Woycicki (2014) examina o impacto da integração das artes performativas e plásticas no teatro moderno, destacando como essas abordagens podem melhorar a experiência do público. Este projeto baseia-se nas percepções de Woycicki para explorar o potencial de combinar as artes performativas e plásticas no contexto da música clássica, criando experiências ricas e multidimensionais que envolvem o público em múltiplos níveis. A integração de elementos visuais e performativos não só melhora o apelo estético da performance, mas também aparenta aprofundar a curiosidade, compreensão e apreciação do público pela música.
“Quadros de uma Exposição” em Colaboração com Artes Visuais
Esta obra musical de Mussorgsky inspirou inúmeras colaborações com as artes visuais desde sua criação em 1874. Essas colaborações assumiram várias formas, desde performances de palco tradicionais com acompanhamentos visuais até instalações multimídia mais contemporâneas. Uma das primeiras tentativas de representar visualmente “Quadros de uma Exposição” veio na forma de performances encenadas onde obras de arte reais ou imagens projetadas acompanhavam a música. Essas performances visavam recriar a inspiração original por trás da composição de Mussorgsky: os desenhos e aguarelas de Viktor Hartmann. Ao exibir as obras de Hartmann junto com a música, essas interpretações iniciais forneceram ao público um contexto visual direto para as composições. Esta abordagem ajudou a fechar a lacuna entre as artes sonoras e visuais, permitindo que o público experimentasse a música de Mussorgsky de uma maneira mais alinhada com o seu processo de criação original (Bosseur, & Broniarski, 1993).
No meio do século XX, com o advento da animação e do cinema, surgiram novas possibilidades para interpretar visualmente “Quadros de uma Exposição”. Um dos exemplos mais celebrados é o filme animado de 1972, produzido pelo diretor japonês Osamu Tezuka. A versão de Tezuka de “Quadros de uma Exposição” é notável pelas suas interpretações visuais imaginativas e muitas vezes surreais da música. Cada andamento da suíte é acompanhado por animações distintas e vibrantes, criando uma experiência multissensorial rica que dá vida à música de Mussorgsky de uma maneira nova (Pandey & Bhardwaj, 2022).
A integração de “Quadros de uma Exposição” em produções de palco e performances de ballet também resultou em inovações artísticas significativas. Um exemplo notável é a adaptação de ballet de Maurice Béjart, que estreou em 1966. Béjart, um renomado coreógrafo, usou a música de Mussorgsky como base para uma performance de dança dinâmica e expressiva. O ballet contou com cenários e figurinos elaborados inspirados nas obras de arte de Hartmann, criando assim um espetáculo visual que aumentou o envolvimento do público com a música. A coreografia de Béjart enfatizou os elementos emocionais e narrativos da suíte, demonstrando o potencial da dança para complementar e amplificar o impacto da música (Beckerman & Boghossian, 2021).
Nos últimos anos vários artistas e compositores contemporâneos continuaram a explorar as possibilidades de instalações multimídia baseadas em “Quadros de uma Exposição”. Essas instalações frequentemente utilizam tecnologias avançadas, como projeção digital, realidade virtual e interação, para criar ambientes imersivos que respondem à música em tempo real. Um exemplo notável é a instalação de 2011 do artista britânico David Hockney, que colaborou com a Filarmónica de Los Angeles no projeto “Bigger & Closer e com o músico Nico Muhly para criar uma reinterpretação da suíte com uma música nova. A instalação de Hockney apresentou projeções digitais de suas próprias obras de arte, que evoluíam e se transformaram em resposta à música, proporcionando ao público uma paisagem visual em constante mudança que espelhava a natureza dinâmica da composição de Mussorgsky (Bacharach, Fjærestad, & Booth, 2016).
Plataforma Pedagógica
Além dos seus objetivos artísticos e experienciais, o projeto também serve como uma plataforma pedagógica e de mediação que é uma dimensão de inclusão necessária à expansão da apresentação e fruição cultural contemporânea. Instituições educacionais e museus já abraçaram o potencial das colaborações com as artes visuais para enriquecer a experiência de “Quadros de uma Exposição”. O projeto “Pictures Reframed” do pianista Leif Ove Andsnes e do artista visual Robin Rhode é um exemplo notável. Este projeto, que fez uma turné internacional de 2009 a 2011, combinou performances de piano ao vivo com a arte visual de Rhode, incluindo animação em stop-motion e desenho ao vivo. A natureza interativa do projeto, onde Rhode criou arte visual em tempo real em resposta à performance de Andsnes, ofereceu ao público uma maneira única, educativa e envolvente de experimentar a suíte (Bacharach, Fjærestad, & Booth, 2016). Estes exemplos multimodais são evidências no reforço da dimensão pedagógica dos concertos uma vez que as pessoas aprendem de forma mais eficaz quando a informação é apresentada em múltiplos formatos, como está sugerido de acordo com a teoria da aprendizagem multimídia (Mayer, 2001). De acordo com a teoria de Mayer, a combinação de elementos auditivos e visuais pode aumentar a compreensão e retenção da informação. No contexto da música clássica, isso significa que a média visual pode ajudar o público a compreender melhor o conteúdo narrativo e emocional da música. Shephard & Leonard (2014), reforçam a postura de Mayer sugerindo que a integração de elementos visuais na educação musical pode ajudar a fechar a lacuna entre a música clássica e os públicos contemporâneos. Ao proporcionar uma experiência multissensorial, o projeto torna a música clássica mais acessível e envolvente, especialmente para públicos mais jovens. Este aspeto educacional é crucial para fomentar uma apreciação duradoura pela música clássica e assegurar sua relevância contínua na sociedade contemporânea.
Conclusão
O projeto ‘Viver ao Vivo: Com Tempo no Centro’ representa uma abordagem ousada e inovadora para a apresentação da música clássica e na aproximação de culturas valorizando a multidimensionalidade do sentido de património. Ao integrar mídia visual, narrativa digital e artes performativas, o projeto cria uma experiência multissensorial que transcende os limites tradicionais. Esta abordagem não só aprimora o envolvimento e a apreciação do público, mas também serve como uma poderosa ferramenta pedagógica e um meio de potenciar e preservar a memória cultural. Através deste projeto, “Quadros de uma Exposição” de Mussorgsky é reimaginado para públicos contemporâneos e quando realizado por músicos portugueses ou tendo Portugal como referência cultural e quando projetado em monumentos portugueses reforça o caráter intemporal da música e o potencial da simbiose do audio com o visual assegurando a sua relevância e impacto contínuos.
Referências Bibliográficas
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Woycicki, P. (2014). Post-cinematic theatre and performance. Palgrave Macmillan. DOI: 10.1057/97811373 75490
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/04057/2020 com o identificador DOI <https://doi.org/10.54499/UIDB/04057/2020>.
This work was supported by FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia, I.P. by project reference UIDB/04057/2020 and DOI identifier <https://doi.org/10.54499/UIDB/04057/2020>.