Capítulo / Chapter III | Cinema – Comunicação / Communication

The place of animated cinema at the eradication of some problems of the society and the world: The Box (2016) by Merve Cirisoglu Cotur

O Lugar do Cinema de Animação na erradicação dos problemas da sociedade e do mundo: The Box (2016) by Merve Cirisoglu Cotur

Maria do Rosário da Silva Santana

Instituto Politécnico da Guarda/TECHN&ART, Portugal

Helena Maria da Silva Santana

Universidade de Aveiro/Inet-MD, Portugal

Abstract

The conflicts that affect humanity in different parts of the world, worsening poverty and insecurity among people and nations, have a strong impact on people’s lives. The changes caused by the different conflicts that are taking place worldwide bring about changes in society that impact the security and lives of people, with nations having to rethink ways of life and act to eradicate wars and conflicts, giving priority to peace.
Aiming to achieve, by 2030, peace, diplomacy, and international cooperation to eradicate wars and conflicts that lead to poverty and insecurity among people at different levels, the United Nations World Organization calls for the implementation of Sustainable Development Goals, namely that which concerns peace, justice and effective institutions that force us to rethink ways of life to mitigate the effects of these changes on the planet.
The Box (2016) written, produced, and directed by Merve Cirisoglu Cotur, addresses pertinent issues of modern society, namely the problem lived in Syria and the migrations that take place with a view to survival in the face of conflicts that exist in this, and other parts of the world.
In this sense, our proposal intends, based on this animated film, aims to elucidate the relevance of this narrative for raising human awareness regarding the problems that affect the world and the planet, focusing on specific plans of the film and the areas that we can address regarding Cinema, Education and Arts.

Keywords: Animated Cinema, Sustainable Development Goals, The Box, Education, Arts.

Introdução

Os conflitos que afetam a humanidade em distintos pontos do globo, agravando a pobreza e a insegurança dos povos e das nações, têm um forte impacto na vida das pessoas. As alterações provocadas operam mudanças na sociedade que impactam na segurança e na vida dos povos, tendo as nações que repensar os seus modos de atuar por forma a conseguir erradicar guerras, conflitos, dando prioridade à paz. Enquanto recurso, o filme, transmite uma intenção expressiva do seu autor e uma mensagem. Intenta promover a discussão e reflexão sobre um determinado assunto, proeminente e eminente do ponto de vista social e humano para o seu autor. De modo a se verter ficcionado no registo fílmico, foi, de algum modo, pré-refletido e processado pelo autor do filme, de modo a que aquele que visualiza a sua proposta fílmica seja por ele seduzido e, quiçá, modificado. É no processo de sedução conseguido que o realizador consegue motivar o público a fruir a sua proposta de obra transmitindo a sua visão dos assuntos expostos. Neste sentido, é importante que o filme capte a atenção do fruidor de modo a que as imagens, metamorfoseadas ficcionalmente, ganhem em potencial sedutor e, assim, realimentar o diálogo entre filme e espectador. Como destaca Jacques Rancière (2005, 58), “o real precisa ser ficcionado para ser pensado”. No entanto, a realidade não deve ser modificada na sua essência de modo a que não surja a rejeição naquele que visualiza e frui. Não falamos do caso das narrativas que visão o cinema de ficção, mas aquelas que apelam a uma reflexão e discussão do real.

De modo a incrementar o pensamento e a reflexão sobre temas essenciais à sobrevivência do homem e da humanidade, partimos da visualização de alguns filmes de animação de modo a motivar o nosso público-alvo para os temas neles propostos encetando a reflexão e discussão sobre os mesmos. A partir do filme de animação, pretendemos também elucidar da pertinência desta narrativa para a consciencialização do ser humano face aos problemas que afetam o mundo e o planeta, mormente as questões que incidem sobre a guerra, a violência e todo o tipo de discriminação e desrespeito que se verifica sobre a pessoa humana. Se, à semelhança de Jacques Aumont (2008, 24), podemos dizer que o filme pode se constituir num “meio eficaz de transmissão ou até mesmo de elaboração do pensamento”, ficcionar é, muitas vezes, uma possibilidade de busca e criação de uma forma de pensamento diferenciada e reativa ao modo como percebemos uma determinada realidade. Constitui ainda uma estratégia de motivação para a elaboração de pensamentos sobre determinados assuntos por parte daquele que visualiza e frui a obra, sem o constrangimento de o pensar real. Neste sentido cogitamos que através de uma narrativa ficcionada, ilustrativa das vivências que presenciamos diária e mundialmente, mais facilmente consigamos partir para a sua discussão de modo a alterar atitudes, comportamentos e valores, intentando uma mudança no modo de ser e estar não só a curto como, e sobretudo, a médio e longo prazo.

Em outro,

O ato de assistir a um filme, tal qual a experiência intersubjetiva, propicia, de facto, a reelaboração das dinâmicas de saber-fazer bem como de perceber-se a si e aos outros em relação de construção (Avila Colla 2019, 198).

Da mesma opinião, percebemos que

[...], é importante frisar que as películas representam alternativas para a recriação imaginária dos contextos reais/sociais vividos e, desse modo, possibilitam uma via interessante para repensar esses contextos e, sobretudo, rever práticas, comportamentos, valores, etc. (Avila Colla 2019, 199).

Neste contexto, o cinema, mormente o filme de animação, pode constituir-se numa valorosa ferramenta de educação, transmitido, quando a isso se propõe, um conjunto de atitudes e valores que potenciam a educação social, moral e cívica. Se a igualdade não pode ser compreendida sem o respeito pelo outro, não nos é possível falar de solidariedade, a fraternidade e paz, sem a presença de uma visão igualitária da sociedade. Vivenciando e interagindo, através da narrativa animada com diferentes realidades, mormente aquelas que incidem sobre os temas da guerra e do conflito, confrontamos o nosso público-alvo com a possibilidade de se pensar e repensar nas situações propostas e, constrangidos que se encontram com formas de violência e desrespeito várias, intentar a alteração de comportamentos, efetivando, progressivamente, a paz. Sabemos que ela inicia em cada indivíduo extrapolando em seguida para o meio em que se insere e em todos com que se relaciona. Aquele que se encontra em paz consigo mesmo não intenta o conflito, não promove o duelo, seja ele, de que modo for. Sabemos que a guerra não é mais do que uma forma de duelo, não aquele que se pratica indivíduo a indivíduo, tão popular em tempos idos, mas aquele que se promove país a país, raça a raça, nação a nação. Tendo por base o desrespeito pelo outro e a sua diferença, sustenta-se no orgulho e no egoísmo, elementos de queda para todo o ser humano e, consequente, para a evolução do mundo e das sociedades que nele residem.

Se aquando da fruição e análise de uma obra de arte, e de um filme em particular, se estabelece sempre um diálogo na relação

filme-espectador e no qual não se pode desconsiderar os valores de verdade, os sentidos, que se pretende veicular, os contrapondo com aquilo que se vive no âmbito social. Na prática educativa, [...], esse diálogo vem pressupondo, geralmente, um segundo nível dialógico que envolve o filme: a intermediação pós-fílmica, em que educadores conduzem os educandos a determinadas leituras sobre a obra. (Avila Colla 2019, 199).

O mesmo autor afirma ainda que,

[...] não se trata, apenas, da formação de espectadores com competências cinematográficas, mais do que isso, trata-se da formação de interlocutores-espectadores docentes capacitados para formar interlocutores-espectadores discentes quiçá, assim, dando os primeiros passos para a formação de um público mais crítico e ciente de seu papel de interlocutor. Um público dessa natureza talvez seja capaz de, tendo refletido semântica e sintaticamente, nesse caso, obras cinematográficas, reler a sociedade e a si mesmo no que tange aos processos de formação de si e do social. E, se vier a calhar, a partir disso, redinamizar condutas para consigo e para com o todo – inclusive no que diz respeito ao ambiente vivo. (Avila Colla 2019, 199).

Mais conscientes e cientes da sua função enquanto membros integrantes e reativos de uma sociedade, prevemos que na interação conseguida com o filme estabelecem formas de interação mais saudáveis com os seus pares, tendo consciência que:

[...] resta a cada um de nós nos orientarmos e educarmos (cinematograficamente falando) no sentido de adquirirmos competência para extrair desse diálogo experiências ético-estéticas construtivas sob o ponto de vista da lógica do convívio com o ambiente vivo, por exemplo (Avila Colla 2019, 200).

E prossegue,

Não se trata de criar ou formar cineastas ou críticos de cinema, mas educar interlocutores-espectadores capazes de pensar a produção de sentidos empreendida por uma linguagem específica por meio de um macro dispositivo industrial perspicazmente atento às dinâmicas sociais (Avila COlla 2029, 200).

Neste fazer, o filme, mormente o de animação, surge um recurso à disposição de todos, sendo a produção mundial proficiente em itens que podemos aproveitar aquando da nossa ação educativa e formativa, seja em que área for.

Intentando a efetivação da mudança, o homem determina já no ano de 2015 um conjunto de objetivos a alcançar de modo a promover o desenvolvimento do milénio de um modo mais saudável e sustentável (We can end poverty. Millennium development gools and beyond 2015 2015). Intentavam estabelecer um conjunto de metas de modo a que toda a sociedade promovesse um conjunto de iniciativas de modo a alterar formas de vida, de produção, transformação e distribuição de produtos, bem como ao nível dos comportamentos humanos, de modo a que tudo concorra para a implementação de modos compatíveis com a sustentação do planeta e de todas as formas de vida nele presentes1.

Paralelamente, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), ampliados a partir dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (We can end poverty. Millennium development gools and beyond 2015 2015), pretendem atingir, até 2030, a paz, a diplomacia e a cooperação internacional com vista à erradicação das guerras e conflitos a nível mundial (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022). Estes objetivos, criados para a tomada de consciência dos grandes problemas que afetam a humanidade, pretendem, através da implementação de projetos justos, eficazes e sustentáveis, fazer com que as tragédias que afetam a humanidade sejam eliminadas por forma a que o progresso das sociedades e do mundo, de um modo geral, sejam uma realidade. Por forma a conseguir erradicar as guerras e os conflitos que sempre desabrocham um pouco por todo o mundo, dando prioridade à paz, de modo a que a vida se consiga sustentar num planeta tão fortemente vítima da incúria humana, é urgente uma educação para a paz2.

1. O Cinema de Animação enquanto gatilho e recurso para a erradicação dos conflitos

Neste sentido, e com vista à implementação de atividades que promovam a discussão dos elementos que se encontram vertidos no Objetivo do Desenvolvimento Sustentável – Paz, Justiça e Instituições eficazes (ODS número 16), nomeadamente naquilo que são os seus objetivos gerais tais que: a promoção sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionando o acesso à justiça para todos e a construção de instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis, a promoção de sociedades justas, pacíficas e inclusivas, a redução significativa de todas as formas de violência, a erradicação do abuso, da exploração e do tráfico e todas as formas de violência e tortura de crianças, a promoção do estado de direito nos níveis nacional e internacional e a garantia da igualdade de acesso à justiça para todos, fomos levados a arquitetar ideias de projetos, apoiados na literatura e nas artes, planeando a integração dos indivíduos naquilo que são as suas individualidades de modo a promover a discussão, a reflexão e a progressiva alteração de comportamentos, atitudes e valores por parte dos mais jovens (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022). Pretendemos também que, através da ação e do exemplo, aqueles que assim o entenderem, se tornem agentes de mudança, contribuindo para a implementação dos ODS a nível local e global3. Numa sociedade que se diz livre, não só aquilo que nos afeta de forma direta enforma o fazer de arte, como aquilo que nos chega remotamente através dos meios de comunicação social. Tendo consciência do facto de sermos alvo de manipulação constante por via dos conteúdos gerados, não podemos deixar de chamar à atenção para o facto de que numa verdade efetiva daquilo que se propõe, o mundo e o homem clama por ajuda e compreensão.

Neste saber, e partindo da proposta de obra gerada por Merve Cirisoglu Cotur, intitulada de The Box (2016), pretendemos gerar um fórum de discussão sobre modos de violência largamente difundidos e implementados em alguns pontos do globo4. De modo a clamar pela atenção de todos, mormente das instituições que trabalham para o estabelecimento e o continuar da paz um pouco por todo o mundo, bem como dos políticos de uma forma particular, diversas instituições e associações despontam, gerando os recursos que progressivamente contribuem para o colmatar da falta de recursos físicos (e outros) que permitam acolher, aconselhar e amenizar as consequências da violência que sob diversas formas muitos sofrem. Contudo, as formas de violência a que todos estamos expostos não contempla somente aquela proveniente da guerra, mas também aquela que irradia das relações familiares e humanas, em contextos aparentemente saudáveis, ou aquela proveniente da falta de condições de vida económica, ou outra.

Assim, e com vista à redução significativa de todas as formas de violência e das taxas de mortalidade com ela relacionadas, intentamos promover, para além de uma reflexão sobre as formas de violência em contexto bélico, o diálogo em torno daquilo que são os indicadores provenientes de associações de apoio à vítima (APAV) no que concerne a violência entre pares, a violência doméstica, entre outras. Acresce neste conjunto, as formas de violência contidas nos diversos discursos promotores de ódio e violência, mormente aqueles que se encontram escondidos naquilo que são as mensagens presentes nos órgãos de comunicação social e, mais recentemente, nas redes sociais5.

De referir que, no momento, existe uma grande prevalência de população, sem limite inferior ou superior de idade, objeto de violência física, violência psicológica e violência sexual as quais, assustadoramente, se encontram autorizadas e validadas pelos pares. De notar ainda, o aparecimento de grupos de indivíduos que atuam em conjunto, autodenominando-se de justiceiros, espalhando o terror e o medo em cidades consideradas até hoje como pacatas e de baixo índice de violência e criminalidade. Acresce as formas de violência ocorridas em contexto escolar, as quais são cada vez mais frequentes. Salientamos os níveis de violência e crueldade que as mesmas encerram. Urge repensar as nossas ações em termos educativos por forma a estudar a maneira como o ser humano pode, e deve, agir para erradicar a violência latente e imanente. Se as diversas formas de arte têm o dever de alertar e expor os distintos problemas da sociedade, cremos que os produtos difundidos e divulgados junto das populações podem possuir um forte impacto em meio educativo na aceitação, ou não, dos distintos problemas que afetam a nossa sociedade.

No que ao acabar com o abuso, exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra as crianças, é de primaz importância a discussão de temas relacionados com este ponto pois que o número de crianças objeto de tráfico humano, castigos físicos e/ou agressão física e psicológica, é significativo. Acresce que, para além do número de vítimas de tráfico de seres humanos, discriminados por sexo, grupo etário e forma de exploração, temos as formas de violência exercida sobre as pessoas mais velhas e vulneráveis6. Somos da opinião, fruto do trabalho que vimos a desenvolver, que as expressões artísticas e os objetos artísticos por ela criados, são uma fonte inesgotável de possibilidades de trabalho visando a promoção da discussão e da implementação de estratégias de abolição de todas as formas de violência e discriminação na sociedade, nas instituições e estabelecimentos de ensino, de modo particular. Aos autores e artistas, a responsabilidade e necessidade de mudar o mundo, aos educadores a possibilidade de fazer diferente.

1.1 O Cinema de Animação enquanto recurso reflexivo e crítico

O cinema de Animação pode ser uma ferramenta útil para promover a reflexão sobre questões tão importantes como a promoção da paz, de modo a alcançarmos sociedades mais pacíficas, justas e inclusivas. O cinema de animação permite, a partir da sua visualização, a discussão e implementação de atividades que possibilitem alterar consciências e modos de atuar face ao outro e à sociedade em que se inserem. Através da divulgação do cinema de animação construído sobre a discussão dos temas expostos, promovemos o diálogo para a paz, fomentando a confiança e a interajuda, levando a que todos modifiquem a sua visão sobre o tema, tema esse que consideramos pertinente e urgente discutir. Hoje em dia numerosas são as propostas de filmes de animação que podemos utilizar para iniciar do debate. Desde os temas da guerra e do conflito, passando pela questão das migrações e dos refugiados, ou pelas minorias de género ou ideológicas, diversos são os recursos à nossa disposição7. As suas narrativas, incidindo sobre os meios de construir o caminho para a paz e a tolerância, promovem a igualdade entre todos, independentemente da sua origem, proveniência, raça, etnia ou religião. Estando na mira das nossas ações enquanto indivíduos, mas também artistas e educadores, percebemos que o uso de filmes de animação na nossa prática pedagógica poderia se constituir um recurso bastante positivo e eficaz. O carácter lúdico associado à sua visualização e discussão, um fator de interesse e de crescente motivação para a aquisição de uma consciência moral e cívica consentânea com as necessidades evidenciadas e narradas no conjunto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável aprovados para 2030, tornou-se um fator de motivação para todos os envolvidos.

The Box (2016) filme escrito, produzido e dirigido por Merve Cirisoglu Cotur, aborda questões relevantes que afetam direta e indiretamente a nossa sociedade, nomeadamente a guerra e o conflito que se vive na Síria e o inevitável êxodo das suas populações conduzindo a fortes vagas de migração. Estas vagas, efetuam-se somente porque o homem, ciente da necessidade de sobreviver, cuidando de si e dos seus mais próximos, intenta alcançar espaços de vivência que se encontrem em paz e os recebam de modo a também eles puderem nela poisar. Através da visualização, reflexão e discussão, sobre os conteúdos propostos em The Box (2016), pretendemos elucidar da pertinência desta narrativa em contexto educativo de modo a consciencializar o homem face aos problemas que afetam o mundo e o planeta, em particular. Incidindo sobre planos específicos, e os domínios que podemos abordar no que concerne a Educação e as Artes, pretendemos realizar uma reflexão sobre a guerra e todas as formas de conflito e violência entre pares de modo a que desta emerjam comportamentos mais saudáveis do ponto de vista moral, social e ético.

A Organização Mundial das Nações Unidas apela constantemente a uma mudança de comportamentos e à implementação da paz, da justiça e à constituição de instituições eficazes para a promoção e a irradicação de toda a espécie de conflitos. Urge o repensar dos modos de ser e estar na vida e no mundo, por forma a conseguir suavizar os efeitos de todas estas ações, não são só as que diretamente agem sobre o indivíduo e que destroem o nosso planeta, como aquelas que indiretamente o fazem, estando a guerra e a violência à cabeça da lista de ações que promovem o extermínio tanto do homem, como de toda a biodiversidade8.

Com vista ao uso, apresentação e implementação de elementos diversos que se possam ser usados como indutores de ação em sala de atividades, foram selecionados alguns filmes, nomeadamente aquele que aqui apresentamos, The Box (2016) de Merve Cirisoglu Cotur, e que versa sobre a guerra e a vida nos campos de refugiados. A gestão de conflitos a nível social e mundial, individual ou grupal é uma constante. Os conflitos que afetam o homem, a sociedade e a humanidade em distintos pontos do globo, agravando a pobreza e a insegurança têm um forte impacto na vida das pessoas. As alterações por eles provocadas operam mudanças significativas na sociedade, impactando na segurança e na vida dos povos. O homem, consciente destes factos, tem noção de que deve repensar modos de vida e atuação por forma a conseguir erradicar todas as formas de conflito individual, grupal, social, nacional e mundial, priorizando à paz e a benevolência entre os povos.

2. The Box (2016): A proposta de Merve Cirisoglu Cotur e a possibilidade de análise de conflitos a nível socioeducativo

The Box, realizado em 2016, foi escrito, produzido e dirigido por Merve Cirisoglu Cotur. Abordando questões tão pertinentes da sociedade contemporânea como o problema que se vive com a guerra na Síria e a questão das migrações e dos refugiados, será o gatilho de promoção da discussão destes temas, bem como daqueles descritos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022). Identificado o número 16 que pretende

Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis, [verificamos que tem como objetivos gerais e operacionais,] Promover sociedades justas, pacíficas e inclusivas; Reduzir significativamente todas as formas de violência; Erradicar o abuso, a exploração e o tráfico e todas as formas de violência e tortura de crianças; Promover o estado de direito nos níveis nacional e internacional, [e] Garantir a igualdade de acesso à justiça para todos (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022).

Sendo suas metas

Reduzir significativamente todas as formas de violência e as taxas de mortalidade com ela relacionadas, em todos os lugares; acabar com o abuso, exploração, tráfico e todas as formas de violência e tortura contra as crianças; promover o Estado de Direito, ao nível nacional e internacional, e garantir a igualdade de acesso à justiça para todos. Até 2030 [tem ainda como metas operacionais], reduzir significativamente os fluxos ilegais financeiros e de armas, reforçar a recuperação e devolução de recursos roubados e combater todas as formas de crime organizado; Reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em todas as suas formas; Desenvolver instituições eficazes, responsáveis e transparentes, a todos os níveis; Garantir que a tomada de decisão, a todos os níveis, é responsável, inclusiva, participativa e representativa; Ampliar e fortalecer a participação dos países em desenvolvimento nas instituições de governação global. [Até 2030 pretende ainda,] fornecer identidade legal para todos, incluindo o registo de nascimento; assegurar o acesso público à informação e proteger as liberdades fundamentais, em conformidade com a legislação nacional e os acordos internacionais (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, 2022),

percebemos ser o mais adequado à elaboração da nossa proposta. Da reflexão sobre as metas propostas percebemos uma intenção clara de trabalhar para a implementação da paz e de todas as formas de integração e desenvolvimento da pessoa humana. Não é essa também a função da escola nas suas diversas valências?

Em outro, e se a narrativa de The Box (2016) ilustra alguns dos objetivos e metas narrados, identificamos a componente sonora como essencial à fruição dos conteúdos fílmicos. A composição musical, a cargo de Amer Nazri, Merve Cirisoglu Cotur e Alex Nechifor leva-nos por um universo de sons e imagens que nos conduzem pelos cenários de guerra que se erguem em alguns locais do nosso planeta, e que, na atualidade, se disseminam um pouco por todo o mundo, alastrando a outras zonas do planeta, zonas essas, anteriormente em paz. A composição e o desenho de som, a cargo de Oliver Wegmuller, tem um forte impacto no espectador. Os silêncios e os objetos sonoros que usa com o objetivo de desenhar paisagens sonoras, mostram-se, conjuntamente com a imagem, plenas de intenção e significado (The Box 2016). Os silêncios, fortemente expressivos, corroboram a força das imagens; os sons, fortemente capacitados pelos silêncios, são usados para imprimir crescendos e diminuendos de tensão, tanto no discurso das imagens, como no discurso e movimento impresso às personagens que encontramos ao longo do filme, conduzindo a narrativa.

O filme inicia com uma imagem serena de um céu noturno onde a lua brilha plena de intensidade sobre o lado esquerdo do écran. Abrindo o discurso que se efetuará logo de seguida mostra-nos uma cidade em festa e o fogo de artifício em cores fortes e vivas mostrando o colorido da vida e a alegria de viver num local que se apresenta irrepetível e em paz (00:13) (The Box 2016). Depois da apresentação deste plano da cidade, a câmara conduz a narrativa (00:17) para a janela de um prédio que se encontra iluminada com uma luz interior amarelada, sobre fundo azul, a mesma imagem com que o filme principia, um céu azul, noturno, com uma lua cheia amarelada, a mesma luz que nos revela a janela iluminada. Essa luz estende-se mais tarde a outra janela do prédio, dando-se sequência à nossa história, uma história que se efetiva sem recurso a diálogos. Portador de uma enorme caixa de cartão9, uma caixa que servirá a todos os seus intentos, surge na companhia do seu gato, o companheiro de todas as suas brincadeiras, atividades e ações (The Box 2016)10.

O protagonista de toda a narrativa, o nosso herói, aparece movendo-se no interior da sua residência, seguido do seu amigo gato, demonstrando uma felicidade e um contentamento pleno. Se o nosso protagonista se mostra feliz, o gato, por outro lado, demostra alguma supressa perante tal artefacto, a caixa (00:20). Entretanto, numa outra divisão da casa, o quarto, os dois brincam, transformando o objeto anteriormente carregado, a caixa, numa outra realidade. Na ação que desenvolvem conjuntamente estão felizes11. De modo a alterar o objeto carregado, a mão do nosso herói surge de modo enfático (00.26) para recolher um lápis que se encontra no chão. Essa escolha é efetuada pelo seu companheiro de aventuras, o gato, que lhe indica o lápis azul (00:28)12. E o nosso herói desenha (00:32). A partir de uma forma arredondada, desenha uma flor com cinco pétalas, ao lado da sua mão que tem o mesmo número de dedos, sendo que cinco também é o número de pontas da estrela que nos guia, a Estrela de David. E o plano segue e o nosso herói transforma a caixa de cartão numa casa, num abrigo, onde se resguardará com o seu amigo gato que lhe agradece com um miar. O som e a surpresa do gesto transformam o semblante do rosto do menino (00:45). E os dois se deitam na casa de cartão desenhada, no seio da divisão da sua casa, num claro momento de confiança, repouso, contentamento e paz (00:54)13. E os dois adormecem. Contudo esses sentimentos e o sono reparador dos dois surge perturbado pelo sonoro que transforma todo o ambiente de paz e felicidade que se vinha sentindo.

Neste fazer, um novo elemento, agora perturbador, surge, num crescendo constante (00:59), indiciando a transformação que se dará de forma progressiva, mas enfática, perturbadora e audaz (01:04). Primeiro vivenciamos a imagem da casa a tremer indiciando um terramoto (01:05)14. Violentamente a vida do nosso pequeno protagonista se estilhaça (01:12), como se estilhaçam os vidros, nomeadamente aquele que protege a foto da sua família. Sonoramente, o uso das cordas numa rítmica constante e numa dinâmica forte indicam que algo de relevo se irá passar num espaço breve (01:18). O écran a preto indica-nos essa mudança, bem como o silêncio que imprime espectativa.

E o discurso muda efetivamente, assim como muda a vida dos dois (01:20). Assustados, os dois despertam (01:23) e a radical e desesperada mudança se dá (01:26). Surgindo indiciada pela localização da caixa que se transforma agora, não num elemento lúdico no espaço do quarto, mas numa casa localizada no meio de um conjunto de tendas num campo de refugiados confrontados com a precaridade, a solidão, o desenraizamento e a fragilidade da vida (01:26). E a revelação se dá (01:28) e o espanto se instala, assim como a descoberta de uma nova realidade e vida. Neste momento, a sonoridade muda por completo e a sua caracterização é feita com um aglomerado de vozes que estão presentes em conjunto com um sonoro que se apoia na alternância de apoios quais passos que se descobrem num caminhar expectante e seguro por entre as tendas que se apresentam em toda a tela (01:38) (The Box 2016).

E a narrativa prossegue. Uma imagem forte e impactante surge na visão que nos mostra de um desconhecido que se coloca à porta de uma tenda. Esse desconhecido, assim como a tenda, desenham, com um pedaço de madeira, uma nova imagem de casa, de abrigo, no chão. Vislumbramos alguma tristeza e desalento na sua face, pois que essa casa nunca se mostrará lar (01:44). E nova imagem surge revelada, uma mãe que lava o seu filho em frente a outra tenda. Na precaridade da vida, no desalento da situação, o seu rosto revela também ele tristeza e preocupação (1:49). Pouco depois, outra imagem de inegável valor comunicacional se revela (01:56), duas crianças que buscam nas folhas de arvores moribundas o seu sustento e o mitigar da fome (01:56).

Neste narrar, descobrem-se os despojos de guerra (02:08), através do olhar dos nossos heróis (02:10). O medo e o pânico ficam expressos na face do menino (02:16) que se fecha na sua casa de cartão, refúgio e lugar seguro. Mas a sua casa, o seu lugar seguro treme, da mesma forma que ele treme, sendo que o seu amigo, o companheiro de todas as ocasiões, o seu gato, também ele expressa medo e preocupação. O vento que sopra leva-lhe o abrigo que lhe resta (02:24), e ele corre pelo campo na busca da sua casa, do seu lar, destapando todas as vivências destes lugares (02:50). E quando este se encontra já desanimado pela irreparável perda, eis que a sua casa se prende no limite desse campo, no arame farpado que o delimita e que surge para o nosso herói como uma porta que se abre para a libertação (03:05) (The Box 2016). Almejando a libertação agarra na sua caixa de cartão, a sua casa presa nos limites farpados do campo, e que, agora dobrada, coloca debaixo do braço. Interrogando-se, o nosso herói pergunta-se o que estará para além do campo, para além dos limites que conhece e que não lhe convêm (03:06). E ultrapassa esses limites, não sem marcas que se desenham no cartão que é rasgado no arame farpado. Mas não só no cartão ficam essas marcas, esses rasgos, rasgado está também ele não só física como emocional e espiritualmente (03:12). Mas não desiste e caminha em direção ao destino que a vida lhe reserva, sendo os dias e as noites contados a partir das dificuldades e vicissitudes que vai vivenciando e observando15.

Depois de planos sucessivos desenhados num azul que se apresenta mais ou menos claro, dando-nos a indicação sumária da passagem do tempo, do dia e da noite, há uma mudança que se anuncia clara pelo aparecimento de cor no plano (03:30). A cor indicia-nos esperança, pois surge num momento de grande intensidade vivencial e expressiva: a imagem mostra-nos o nosso protagonista a carregar às costas, meio curvado, em grande esforço, a sua caixa-casa. Mas nem tudo é negativo e, de repente surgem os seus pais. Não se encontrando mais só, acompanhado unicamente do seu gato, o nosso herói ganha vida e ânimo. Contudo iremos perceber que os pais faleceram em confrontos anteriores. Aparecendo em espírito ao nosso protagonista, são um apoio de grande sentido e significado, uma força que o conduzirá até ao final do seu percurso (03:34). Esta presença é anunciada pelo seu gato que mia, e leva a que o menino levante o olhar encontrando sua mãe que lhe estende os braços. Animado, entende-lhe a mão àquela que nunca o desamparou. No entanto, quando este lhe estende a mão, ela desaparece e a alegria do menino desvanece (03:39). Mesmo que desvanecida a alegria, surge a revelação de uma força renovada. O nosso herói segurando agora a caixa com uma só mão se vira para o pai (03:41). Renova-se a esperança no seu olhar. Todavia, e da mesma maneira que sofre com o desaparecimento da mãe, o desalento se instala quando reconhece a ausência de seu pai. O mesmo se anuncia no seu amigo gato (03:43). E assim, a viagem e a vida continuam sendo que toda a ação decorre com muito esforço e determinação, o esforço revelado no suor que se desenha no seu rosto (03:50). E uma nova esperança se instala apesar do desanimo e do cansaço presente (03:54) quando avista o céu azul e as gaivotas voam numa dança embriagante (03:56). E o mar nos é revelado numa imagem forte e plena de significado, no confronto vivido nas cores, texturas e sonoridades (04:01) (The Box 2016) e, pela primeira vez se ouve uma paisagem sonora calma que embala como embala e aconchega o colo de uma mãe.

Sonoramente as gaivotas cantam e exaltam de alegria com a conquista dos nossos heróis. É o confronto entre a terra que se mostra adversa e o mar que abre todas as possibilidades. E o mar se apresenta único e imenso, convidando à descoberta (04:11). E o menino pensa na possibilidade que se lhe oferece de mudar a sua casa para um barco de modo a conquistar o desconhecido e a aventurar-se nesse mar imenso que lhe oferece a liberdade (04:18). É o sonho que comanda a vida iniciando-se a transformação (04:26), surgindo o barco que o levará rumo à liberdade e à paz que anseia (04:47). Mas o seu companheiro de vida recusa-se a prosseguir viagem (04:56), recusa essa que se apoia na sua dificuldade em tocar a água. E vem o desalento de mais uma perda (05:11) pois que o nosso herói embarca no seu barco rumo ao desconhecido, à esperança e à renovação (05:22).

Num plano superior (05:37) é-nos mostrado o esforço do nosso herói rumando à liberdade e à libertação das amarras de uma guerra para ele sem sentido, e cujas consequências são desumanas e de difícil compreensão. E o plano vai-se desenhando, as nuvens envolvendo a sua jornada e deixando em aberto o sucesso da sua operação (06:01) numa imagem estática do barco, no meio do oceano. Musicalmente o piano surge num solo que nos releva o significado do uno, assim como a imagem de uma única gaivota que atravessa o écran de baixo para cima, num apelo a uma leitura de sucesso na tarefa encetada a partir do campo de refugiados num país em conflito e destruição. Forte de conteúdo e significado, intenso de vivências e emoções, The box surge intenso e imenso. Enquanto recurso didático, possibilidade de conexão com os elementos que nos propomos veicular, discutir e afrontar.

Considerações finais

O uso do filme de animação e o potenciar da experiência fílmica em contexto educativo e formativo, demonstra um grande potencial de formação e educação, mas também de transformação social. O uso deste recurso e ferramenta, favorecendo a formação de interlocutores-espectadores, torna-se um elemento motivador e, quando assim se mostra, transformador de valores e de modos de proceder em sociedade. No que concerne a sensibilização para os problemas da guerra e da gestão de conflitos, o processo descrito representa uma possibilidade de abertura a novos modos de apresentação e experimentação da realidade, contribuindo para a ampliação das fontes passíveis de serem utilizadas em contexto formativo e educativo. Interlocutores-espectadores abertos a viverem a experiência proposta, a criação de conhecimento reflexivo e crítico sobre um assunto em concreto, não se tornam apenas multiplicadores de valores morais, éticos e sociais, mas agentes potenciadores de novas condutas sejam elas de que ordem for. Contudo, a educação social, ética e moral não deve refinar apenas para a constituição de condutas moralmente orientadas, mas para a perceção do mundo como autoridade formadora e, nesse sentido, o conjunto de obras fílmicas que incidam sobre um determinado assunto que queremos discutir e veicular, pode tornar-se um aliado de grande valor no momento de atuarmos como agentes de educação e formação (Avila Colla, 2019). The Box, realizado em 2016, escrito, produzido e dirigido por Merve Cirisoglu Cotur, revelou-se uma ferramenta eficaz para a discussão e reflexão dos ODS, sendo um importante recurso formativo e educativo. A partir de uma linguagem aparentemente simples, mas que complexa e determinante se faz, tivemos a oportunidade de refletir sobre as questões relativas a erradicação da guerra e ao estabelecimento da paz, mas igualmente àquelas relativas aos migrantes e refugiados e às condições desumanas em que vivem e que se encontram quantas vezes esquecidas e desmerecidas por toda uma sociedade. Não mudamos de país porque queremos, algumas vezes somos obrigados à viagem. Quando assim é, levamos connosco o que somos e tudo aquilo que a violência, o desrespeito e a atrocidade humana nos impôs. Ao homem de ser caridoso, abnegado e compassivo como gostaria que com ele o fossem. No respeito das liberdades dos outros, nos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade promovidos pela revolução francesa e que ainda hoje não vemos implementados, encontraríamos certamente um pouco mais de paz. A todos de a ela servir.

Notas Finais

1 Note-se que já há várias décadas se discutem as questões ambientais procurando a que o planeta, tão ameaçado que se encontra a vários níveis de extinção, consiga sustentar as formas de vida que nele radicam de modo sustentável e eficaz. Na realidade o eclodir da revolução industrial em finais do século XIX promove já a reflexão e a discussão sobre a necessidade de verificar sobre as consequências de uma forte industrialização dos meios de produção. Veja-se neste contexto também, o eclodir de diversos movimentos artísticos que procuram uma maior relação com a natureza discutindo já as questões ambientais (os movimentos Arte Nova por exemplo).

2 Os conflitos que afetam a humanidade em diversos pontos do globo, agravando a pobreza e a insegurança dos povos e das nações, têm um forte impacto na vida das pessoas. As alterações sociais e vivenciais provocadas pelos conflitos que assomam a nível político, social e cultural, e as mudanças operadas na biodiversidade e no clima pelo uso abusivo de químicos, impactam na segurança e na vida dos povos.

3 Partindo da ação sobre o indivíduo singular, vazando progressivamente para o grupo, e mais tarde, para a comunidade, tornamo-nos gradual e enfaticamente, agentes de transformação e mudança ao nível dos comportamentos, atitudes e valores, contribuindo para a efetivação de um mundo melhor.

4 Vejamos o caso atual das guerras instaladas na Ucrânia e na Palestina (Faixa de Gaza), mas também todos os percursos migratórios decorrentes das precárias condições de vida que encontramos um pouco por todos os continentes, mormente o africano. Em Africa alertamos para o caso de países como o Ruanda, a República Democrática do Congo, a Etiópia, entre outros, bem como todos os fluxos migratórios de populações provenientes do Norte de Africa em direção à Europa, etc. Procurando fugir da guerra, mas também por melhores condições de vida e de trabalho, encontramos ainda os fluxos migratórios de países do continente americano como o México, visando os Estados Unidos da América. Contudo estes fluxos acontecem um pouco por todo o mundo e, nalguns casos por perseguição étnica e religiosa.

5 Apesar do constante apelo por parte das instituições responsáveis para a erradicação de todas as formas de violência e de todos os fatores que conduzem à violência e à discriminação negativa de pessoas e bens (materiais ou imateriais), somos confrontados todos os dias com notícias onde alguns elementos narrados nos são apresentados como inofensivos, mas que trazem escondidos discursos que se alimentam de formas de ódio e discriminação para com grupos minoritários ou etnias diferenciadas.

6 Não esquecer que tanto neste ponto como naquele que concerne o número de mulheres e homens jovens objeto de violência sexual, o número de vitimas que ocorre em menoridade deve ser objeto de cuidadosa análise dado que são inúmeros os relatos de violência que ocorre deliberada e reiteradamente, não só pela discriminação que sofrem mas também por influência dos meios de comunicação e outros disponíveis para a revelação de conteúdos multimédia com vista à promoção de visibilidade individual, esquecendo os deveres e as obrigações morais de cuidado e defesa dos mais vulneráveis.

7 Neste sentido, podemos e a título de exemplo, referir Nayola (2023), a primeira longa metragem de animação sobre a guerra civil em Angola, Another Day of Life (2018) baseado no livro de Ryszard Kapuscinski, abordando o mesmo tema; Flee (2021), uma animação documental sobre refugiados de guerra, Persepólis (2007) escrito e dirigido por Satrapi e Vincent Paronnaud, ou Valsa com Bashir (1008) de Ari Folman, sobre a mesma temática.

8 Todas as formas de conflito, mormente as mais graves, conducentes à guerra e ao extermínio de todas as formas de vida existentes sobre o planeta em zonas de conflito, potenciam a morte e o fenecimento; a terra, um planeta exausto, senão moribundo, carecendo do nosso mais saudável gesto de edificação.

9 A caixa, de grandes dimensões será a base de toda a nossa história e da transformação profunda na vida e na leitura que o nosso herói fará do mundo e da vida.

10 Na intensidade dos elementos som e imagem, percebemos uma obra portadora de uma intensidade expressiva que dispensa o recurso à fala (The Box 2016).

11 Essa felicidade transparece nas feições e gestos dos intervenientes, no conjunto dos lápis coloridos que se encontram espalhados pelo chão da divisão, e no pitoresco das cenas enunciadas.

12 O mesmo azul do plano inicial, o mesmo azul que inunda o início da história, o mesmo azul que será usado para delinear as escolhas futuras que se vislumbrarão no percurso a efetuar perante as adversidades. Será igualmente a cor e o sinal da esperança.

13 Este momento encontra-se sonoramente sublinhado pelo ronronar do gato e pelo seu descanso junto do menino denotando sentido sentimento de confiança, relaxamento, segurança e paz.

14 Mas que não se concretiza logo num primeiro momento, tendo nós que reportar para mais tarde a descoberta do que está a acontecer, num dia de grande festa e contentamento para os nossos protagonistas e que, de tal marcante, modificará para sempre as suas vidas.

15 Num ambiente inóspito (03:22) o nosso herói acompanhado do seu companheiro de brincadeira enceta um percurso em direção ao desconhecido que será a sua libertação.

Referências Bibliográficas

Aumont, J. 2008. Pode o filme ser um ato de teoria? Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 33, n. 1. 21-34.

Avila Colla, R. 2019. Cinema e Educação Ambiental: a experienciação do ambiente fílmico como alternativa para a sensibilização ecológica. Pesquisa em Educação Ambiental. 192-206. DOI: http://dx.doi.org/10.18675/2177-580X.2019-13268

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. (2022). https://ods.pt/

We can end poverty. Millennium development gools and beyond 2015. 2015. www.un.org/millenniumgoals

Rancière, J. 2005. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34.

We can end poverty. Millennium development gools and beyond 2015. 2015. www.un.org/millenniumgoals

Filmografia

The Box. 2016. De Merve Cirisoglu Cotur. https://www.youtube.com/watch?v=KwCtWfwYlkw