Capítulo / Chapter III | Cinema – Comunicação / Communication

Cinema and Environmental Education: HOPE (2020)

O Cinema e a Educação Ambiental: HOPE (2020)

Maria do Rosário da Silva Santana

Instituto Politécnico da Guarda/TECHN&ART, Portugal

Helena Maria da Silva Santana

Universidade de Aveiro/Inet-MD, Portugal

Abstract

In a society where problems arising from man’s action on the planet trigger actions by climate activists and people concerned about the future of people and nations, we saw in cinema an important tool to address pressing issues to eliminate some problems in a climate cause. In a society that are widely studied by the United Nations through the monitoring and application of the Sustainable Development Goals at a global level, we saw in the cinema an opportunity to study the results of these objectives.
Aiming to achieve, by 2030, peace, diplomacy, and international cooperation to eradicate wars and conflicts that lead to poverty and insecurity among people at different levels, changes in biodiversity and climate force us to rethink ways of life to achieve soften the effects of these changes on the planet.
Hope (2020), written and directed by Abdulla Al-Janahi, is a film that addresses key issues in Environmental Education today. Based on the life story of a small turtle, it is the starting point to show how man’s action on the planet affects the lives of marine beings and the oceans.
Consequently, our proposal intends, based on this film, to elucidate the relevance of this narrative for raising human awareness regarding the problems that affect the world and the planet, focusing on specific plans of the film and the areas that concerns Education and Arts.

Keywords: Cinema, Sustainable Development Goals, Climate Change, Education, Arts.

Introdução

O desenvolvimento de uma revolução a nível industrial em finais do século XIX e inícios do século XX revelou-se essencial ao desenvolvimento de numerosos meios tecnológicos e industriais desde essa data. Essenciais ao desenvolvimento e ao progresso da humanidade comtemplam, no entanto, algumas facetas menos positivas, nomeadamente a nível social e ambiental, tanto para a sociedade, como para o planeta. Se numa primeira fase o homem não possuía ainda os meios e os recursos para perceber os constrangimentos gerados, hoje em dia, numerosos são os estudos que surgem intentando uma mudança de comportamentos de modo a que, tanto a sociedade, como o planeta, e o homem em particular, não sofram as consequências nefastas decorrentes dessa revolução e da forte industrialização entretanto gerada e implementada. Sendo necessário proceder a uma mudança radical nos modos de produção, transformação e distribuição dos produtos. Não será certamente fácil proceder a vigorosas alterações ao nível dos procedimentos de produção sejam elas agrícola, tecnológica e industrial, não só por via do forte investimento necessário a essa alteração, como pelas robustas alterações no modo de vida do homem e das sociedades, regidos que se encontram por cânones de produção e de consumo fortemente tecnológicos e industrializados, desde finais do século XIX e início do século XX.

Numa sociedade materialista e capitalista como aquela que dominou todo o século XX, e domina ainda hoje, início do século XXI, o paradigma económico e social, onde o materialismo impera fomentando o ganho económico a qualquer preço, inclusive à custa do ser humano, bem-vinda surge a discussão sobre questões sociais e ambientais, bem como aquela que incide sobre a sustentabilidade do nosso planeta. De uns tempos a esta parte, fortes manifestações despontam um pouco por toda a parte de modo a consciencializar o homem para estas questões e os problemas delas decorrentes1. Os mais jovens, alimentados por uma consciência ambiental e uma educação que lhes incute a necessidade de mudança, mostram-se mais maleáveis à conquista das alterações necessárias visando alcançar modos de vida onde impere a sustentabilidade, tanto ao nível dos modos de vida, como aqueles de produção, transformação e distribuição agrícola e industrial.

Mais ativos, responsáveis e empreendedores, cientes que se encontram da sua obrigação social, moral e ética, manifestam a sua preocupação sob as mais diversas formas, sendo a produção audiovisual um meio com forte impacto a nível mundial. Vivemos num tempo de cataclismos constantes, onde nos confrontamos diariamente com notícias que nos apontam índices de poluição e emissão de gases com efeito de estufa jamais alcançados, numa época em que a reciclagem e reutilização das componentes do nosso lixo, seja o doméstico, seja o industrial, se tornou uma realidade. Urge a mudança, sendo necessário proceder à alteração de comportamentos de modo a que o desenvolvimento sustentável se efetive e se mostre bandeira de combate tanto político como social (Avila Colla 2019). A noção que se possui dos constrangimentos e dos danos causados, consequência de modos de vida desestruturantes que alteram o equilíbrio do planeta, dos diferentes ecossistemas terrestres e da vida de um modo geral, conduz a todos, e aos mais jovens em particular, à aplicação e ao desenvolvimento de modos de vida, de produção e consumo que se mostram, progressivamente, mais sustentáveis2.

Os problemas decorrentes da ação do homem sobre o planeta desencadeiam movimentos de interrogação e reflexão sobre os modos de produção e consumo, e sobre diversas questões de ordem climática e ambiental, sendo urgente travar modos de vida e comportamentais que se mostram lesivos do planeta, de forma a que o aquecimento global e a pegada ecológica que todos deixamos, seja mostre a cada tempo e espaço, menor. Neste sentido, diversas fações da sociedade, surgindo de várias áreas de ação e educação, têm promovido atividades que sobrevêm da emergente área da educação e conscientização ambiental, intentando modificar o modo de olhar, utilizar e fruir os recursos do planeta, de forma a melhorar a nossa interação com o mundo e todos os que o integram. A escola, o cinema e as artes, planejando educar e formar para a implementação de formas de vida mais assertivas e atuantes, geram ferramentas e recursos que podemos utilizar em contexto formativo e educativo, de forma lúdica e eficaz, de modo a consciencializar para os problemas expostos. Ativistas de várias áreas de atuação, mormente os climáticos, interagindo com todos aqueles que se mostram preocupados com o futuro das novas gerações, desenvolvem os meios e os recursos necessários à reflexão e à mudança. Dirigido às camadas mais jovens, ma não só, vimos no cinema de animação uma ferramenta que possibilita a abordagem destas questões, as quais se encontram amplamente estudadas e divulgadas pela Organização das Nações Unidas através da monitorização e aplicação, a nível mundial e global, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2022).

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pelos Estados-Membros das Nações Unidas em 2015 (We can end poverty. Millennium development gools and beyond 2015 2015), define as prioridades e aspirações do desenvolvimento sustentável para 2030, procurando mobilizar esforços globais à volta de um conjunto de objetivos e metas que se querem comuns. São 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que exibem um apelo urgente à ação de todos os países – desenvolvidos e em desenvolvimento – de modo a implementarem uma parceria global que pretende atingir, até ao ano de 2030, não só a paz, como a diplomacia e a cooperação internacional (ODS número 17, e todos os outros de modo geral) (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022). Pretendem com isto a erradicação das guerras e conflitos que conduzem à pobreza e à insegurança (ODS números 1, 2, 3, 4, 5, 10 e 16), mas também às alterações que se evidenciam ao nível da biodiversidade e do clima, fatores constrangedores para a vivência de todas as espécies no nosso planeta (ODS números 11, 12, 13, 14 e 15). Alguns registos fílmicos abordam esta questão que tão sensível e premente se revela ao mundo e ao homem moderno, de um modo geral3.

1. O cinema e o audiovisual ao serviço da educação e da formação

Corroborando as palavras de Rodríguez, citadas por Avila Colla (2019), procuramos através de Hope (2020), um filme de animação escrito e realizado por Abdulla Al-Janahi, abordar e discutir algumas questões que se mostram basilares no contexto da Educação Ambiental. Apoiado na história de vida de uma pequena tartaruga, o filme surge como ponto de partida para a nossa ação que se quer não só reflexiva, como formativa e educativa. Através da sua visualização, reflexão e discussão, mostramos como a ação do homem sobre o planeta afeta a vida e a sustentabilidade dos mares e dos seres marinhos em particular. A nossa proposta pretende, a partir da análise e reflexão dos conteúdos expositivos deste filme, perceber da pertinência do seu uso em contexto educativo e formativo, seja ele formal ou não formal, de modo a promover uma consciencialização de todos, em face dos problemas que afetam o nosso planeta, tanto a nível ecológico, como ambiental. A partir da narrativa do autor, incidindo sobre planos específicos do filme, desejamos perceber de que modo os conteúdos expressos nos diversos domínios das Ciências e das Artes, podem ser adquiridos e refletidos através do recurso apresentado. Como segundo objetivo, planeamos ainda promover a mudança de comportamentos naqueles sob os quais temos a responsabilidade de educar e formar científica, estética e eticamente (Lopes da Silva & al. 2026; Ministério da Educação 2018a; Ministério da Educação 2018b).

Através de uma metodologia similar ao expresso por Avila Colla (2019, 194),

procuramos defender a experiência fílmica como um acontecimento onde o espectador é partícipe ativo, portanto, um interlocutor-espectador. Ou seja, um espectador que, sabendo dialogar com o filme, produz, em alguma medida, a renovação de valores inerentes à sociedade por repensá-la a partir da experiência fílmica, reconduzindo seus atos a partir desta. [...] Trata-se de um diálogo contínuo, num processo de socialização participativo, em que o cinema é um dos agentes.

Em outro,

A cultura do audiovisual inserida num contexto de consumo, [...] perscruta a cultura (dominante) vigente na sociedade, no sentido de refletir uma série de valores, crenças e preocupações inerentes a uma dada época buscando, assim, promover um diálogo entre filmes e espectadores, nunca de modo atemporal. Poder-se-ia dizer, dessa maneira, que, ao menos as superproduções da indústria cinematográfica, buscam abordar as principais temáticas que estão em voga em seus tempos (Avila Colla 2019, 193).

Neste contexto salientamos as temáticas subjacentes ao contexto de discussão sobre o clima e as alterações climáticas, ao aquecimento e ao desenvolvimento global e sustentável.

É nossa intenção, à semelhança de Rodrigo Avila Colla (2019, 193)

[...] aproximar a análise [da nossa proposta fílmica] com a temática da educação ambiental e levantar a hipótese de se ter no cinema um aliado na sensibilização ecológica que se almeja. Entendemos sensibilização ecológica como o processo de ecologização, ou sensibilização para os valores ambientais e comportamentos ecologicamente orientados, que parecem se originar (e apostar) primordialmente na sensibilidade, mobilizando antes as emoções que a razão.

1.1 Aprendizagens essenciais e metodologias implementadas

Os seres humanos desenvolvem-se e aprendem em interação com o mundo. Ao iniciar a educação pré-escolar, a criança já adquiriu um conjunto relativamente vasto de vivências e aprendizagens, tendo retido em si, já alguns comportamentos, não só sobre o mundo social e natural envolvente, como sobre o modo como interage com os diversos objetos e instrumentos com que se relaciona no quotidiano. A área do Conhecimento do Mundo enraíza-se na curiosidade natural da criança e no seu desejo de saber e compreender o porquê das coisas (Lopes da Silva & al. 2026). Esta curiosidade é fomentada e alargada na educação pré-escolar através da criação e implementação de diversas atividades que contemplam em si diferentes oportunidades para aprofundar, relacionar e comunicar o que já conhece, bem como desenvolver o contacto com novas disposições que suscitam a curiosidade e o interesse por explorar, questionar, descobrir e compreender as coisas, o seu porquê e para quê, sendo a criança encorajada a construir e desenvolver afincadamente o seu conhecimento do mundo. Em outro, encara-se esta Área como uma sensibilização às diversas ciências, naturais e sociais, abordadas no processo de ensino e aprendizagem, articulando e mobilizando aprendizagens de todas as áreas do conhecimento (Lopes da Silva & al. 2026)4.

A abordagem à área do Conhecimento do Mundo implica também o desenvolvimento de atitudes positivas na relação com os outros, nos cuidados consigo próprio, e a criação de hábitos de respeito pelo ambiente e pela cultura, evidenciando-se a sua inter-relação com a área de Formação Pessoal e Social. As crianças vão compreendendo o mundo que as rodeia quando brincam, interagem e exploram os espaços, os objetos e os materiais. Nestas suas indagações, vão percebendo a interdependência que se gera entre todos – minerais, vegetais e animais -, e o meio ambiente. Vão compreendendo, progressivamente, a sua posição neste mundo, e o papel que nele desempenham, assim como o modo como as suas ações podem exercer nele a mudança. Uma abordagem, contextualizada e desafiadora ao Conhecimento do Mundo, facilita o desenvolvimento de atitudes que promovem a responsabilidade partilhada, a consciência ambiental e de sustentabilidade (Lopes da Silva & al. 2026).

Conquistando-se valores, atitudes e comportamentos diferenciados, conduzem-se progressivamente os atores ao exercício de uma cidadania ativa, consciente e responsável, em face dos efeitos da atividade humana sobre os diversos patrimónios naturais, culturais e paisagísticos que o planeta encerra. Segundo o autor, a abordagem da área do Conhecimento do Mundo partirá sempre do acervo de experiências e conquistas que as crianças já possuem (Lopes da Silva & al. 2026). A exploração do meio próximo tem para estas um sentido afetivo e relacional que facilita a sua compreensão e apreensão, proporcionando também, a elaboração de quadros explicativos indutores da compreensão de outras situações vivenciais que se encontram em meios mais distantes aos seus5. Evidencia-se ainda um conjunto de conhecimentos relativos ao meio social e cultural que a criança vai adquirindo nos seus contextos sociais imediatos, no ambiente da sua comunidade. Estes saberes facilitam uma progressiva consciência de si, do seu papel social e das relações com os outros e uma melhor compreensão dos espaços e tempos que lhe são familiares, permitindo-lhe situar-se em espaços e tempos próprios mais alargados6.

Na educação pré-escolar podem explorar-se aspetos relacionados com o conhecimento de si integrando esse saber com os seus contextos mais próximos. Neste âmbito incluem-se também saberes que permitem a identificação e apropriação de conhecimentos sobre os membros da sua família e o seu lugar no contexto social, económico e cultural onde se insere. Também é importante o desenvolvimento de conhecimentos sobre o contexto escolar, não só no que se refere às características do espaço físico, mas também aos membros que o integram, os seus papéis e inter-relações. Podem ainda ser incluídas as características físicas, culturais e sociais, da comunidade, tanto em termos mais restritos, como em termos mais alargados, trabalhando assim aspetos importantes no que concerne os papeis e o lugar que ocupa na sociedade e no meio7.

Neste processo, há também que mobilizar intencionalmente estratégias que permitam à criança distinguir o presente do passado e prever o que vai fazer num futuro mais ou menos próximo, levando-a a compreender as semelhanças e as diferenças entre o que acontece no seu tempo e nos tempos de vida dos pais, dos avós e demais familiares e amigos presentes no seu dia-a-dia. O desenvolvimento contextualizado e articulado destes saberes permitirá à criança conhecer as características da sua e de outras comunidades, os seus hábitos, costumes, tradições e elementos do património cultural e paisagístico, facilitando o desenvolvimento de atitudes de respeito e compreensão face à diversidade. Promovendo a tomada de consciência da sua identidade e pertença a diferentes grupos do meio social próximo, o reconhecimento de unidades básicas do tempo diário, semanal e anual, a criança pode refletir sobre o impacto das suas ações. Refletindo sobre si e aquilo narrado no objeto fílmico, identifica progressivamente os tempos de atividade presente, passado e futuro, compreendendo a sua relação intrínseca e as consequências de uma sua compreensão. Compreendendo a influência que têm na sua vida e na marcação dos distintos tempos que formam a obra de arte, no caso a proposta fílmica, compreenderá também a sua ação sobre os seus atores, neste caso a pequena tartaruga, os seres marinhos, o oceano e o planeta de um modo geral8.

O contacto com seres vivos e outros elementos da natureza e a sua observação são normalmente experiências muito estimulantes, proporcionando oportunidades para refletir, compreender e conhecer as suas características, as suas transformações e as razões por que acontecem. Este conhecimento poderá promover o desenvolvimento de uma consciencialização para a importância do papel de cada um na preservação do ambiente e dos recursos naturais. O seu conhecimento sobre a paisagem, ou seja, o reconhecimento dos seus elementos materiais e imateriais, sociais, culturais e naturais e a interação que naturalmente se desenvolve entre eles, contribui para melhorar a ligação afetiva e pessoal com esta, alicerçando a identidade local e o sentido de pertença a um lugar. Esta atitude de pertença positiva para com o lugar onde se vive é desenvolvida, em paralelo, com um maior sentido de responsabilidade para a salvaguarda do património tendo a consciência das consequências das suas ações sobre ele, o território e o planeta no geral.

A leitura da paisagem pode ocorrer de forma direta através da observação do local onde vivem ou de um qualquer parque temático que visitaram, ou de forma indireta recorrendo a imagens, fotografias, vídeos, mapas, alargando assim os espaços de partilha e discussão, alertando ainda para a preservação do ambiente e dos recursos naturais. O procedimento pode constituir-se ainda espaço de reflexão e discussão sobre a pertinência das ações perpetradas e divulgadas pelos meios de comunicação social, com vista à defesa do meio ambiente e da sociedade de um modo geral. Neste sentido poderão ser abordados alguns conteúdos relativos à biologia, nomeadamente no que ao conhecimento dos órgãos do corpo, dos animais, do seu habitat e costumes, de plantas, diz respeito, e ainda à física e à química sobretudo apontando para a noção de luz, ar e água para efetuar experiências com as crianças, permitindo a compreensão de um conjunto de saberes nesta área (Lopes da Silva & al. 2026).

Alguns destes conhecimentos articulam-se diretamente com questões ligadas às áreas da saúde e segurança permitindo uma sensibilização das crianças para os cuidados com a saúde e com o corpo e para a prevenção de acidentes. Em face das alterações climáticas com que se deparam todos os dias, fruto igualmente das notícias veiculadas pela comunicação social, podemos ainda promover a aquisição de conhecimentos na área da meteorologia, nomeadamente integrando o vento e a chuva como elementos criativos a nível das suas ações no domínio da educação artística e que são aspetos que interessam às crianças e que podem ser tratados de forma mais profunda9. Assim, poderemos, a partir das distintas áreas de conteúdo, explorar a noção de energia e a diferença entre fontes de energia renovável e não renovável promovendo aprendizagens tais que compreender e identificar características distintivas dos seres vivos e reconhecer diferenças e semelhanças entre animais e plantas. Entender e identificar diferenças e semelhanças entre diversos materiais, relacionando as suas propriedades com os objetos feitos a partir deles. Descrever e procurar explicações para fenómenos e transformações que observa no meio físico e natural. Demonstrar cuidados com o seu corpo e com a sua segurança. Manifestar ainda comportamentos de preocupação com a conservação da natureza e respeito pelo ambiente.

Do exposto podemos inferir como extensa pode ser a nossa ação e como grandiosa é a nossa possibilidade e responsabilidade enquanto agentes de educação e capacitação científica, moral, ética e social.

2. Cinema e Educação Ambiental

Todos estes conhecimentos podem ser abordados a partir das diferentes áreas relacionadas com a criação artística, nomeadamente o cinema e as outras artes. Numa sociedade onde os problemas decorrentes da ação do homem sobre o planeta desencadeiam ações de ativismo, mormente o climático, vimos no cinema de animação uma ferramenta e um recurso para abordar questões tão prementes à sociedade como aquelas que se encontram amplamente estudadas e divulgadas pela Organização das Nações Unidas através da monitorização e aplicação dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022). Pretendendo atingir, até 2030 e como referido, a paz, a diplomacia e a cooperação internacional, de modo a alcançar a erradicação das guerras e dos conflitos que se encontram implementados a nível local e, consequentemente, a nível regional e mundial, conduzindo progressivamente à pobreza e insegurança a nível mundial, todas as ações de consciencialização face ao facto são meritórias e urgentes. Em outro, pretende a mesma organização, alertar para as alterações climáticas e aquelas decorrentes das transformações que propaga junto à biodiversidade e aos modos de vida dos povos, um pouco por todas as regiões do mundo. De modo a atingir os seus objetivos, são realizadas ações de esclarecimento, mas também de implementação de medidas de modo a que homem atinja e promova, não só uma educação social e ambiental transformadora, como promova o desenvolvimento de ferramentas e recursos que considere como os mais adequados à sua ação.

Neste sentido, consideramos ser possível abordar, através de Hope (2020), uma curta-metragem de animação, escrita e realizada por Abdulla Al-Janahi, questões basilares da área da Educação Ambiental. A nossa proposta pretende assim, e a partir deste filme de animação, elucidar da pertinência desta narrativa para a promoção de consciencialização dos mais jovens para as questões ambientais, bem como para os diversos problemas que afetam o mundo e o planeta, em particular. Incidindo sobre planos específicos do filme, e alicerçados que estamos nos domínios que podemos abordar no que concerne a Educação e as Artes, propomos a utilização do filme de animação Hope (2020) em contexto formativo e educativo. Através dele pretendemos promover a aquisição, reflexão e discussão sobre os conteúdos que expõe, relacionando-os com as aprendizagens a desenvolver dentro dos diferentes domínios do conhecimento. Contudo, não pretendemos que o cinema, qualquer que seja o género ou o seu modo de utilização em contexto educativo e formativo, tenha por objetivo substituir o professor ou formador em sala. Este, terá sempre um papel essencial, no sentido de que “precisa desenvolver a capacidade pedagógica de exercitar a reflexão com seus alunos” (Taglieber 1997, 76). O cinema é opção e não solução para as diferentes questões que se colocam a nível didático. Por isso é que “é preciso que o professor atue como mediador entre a obra e os alunos, ainda que ele pouco interfira naquelas [...] horas mágicas da projeção” (Napolitano 2003, 14-15). Paralelamente, uma Educação Ambiental crítica e problematizada tem a função de ir para além de uma educação apenas modificadora de comportamentos individuais (Vieira 2009). Através da exibição do registo fílmico, da reflexão orientada sobre os conteúdos expressos, pretendemos não só a aquisição de um conjunto de conhecimentos, como a construção de uma cultura ambiental, voltada para a implementação de atitudes social e ambientalmente mais responsáveis, intentando alterar comportamentos e ações.

2.1 Hope (2020), um recurso ao serviço da transformação

Hope (2020) escrito e realizado por Abdulla Al-Janahi, e produzido por Abdulaziz Khashabi, é um filme cuja história alerta para as diferentes questões que afetam o nosso planeta a nível ambiental, incidindo mais particularmente sobre quesitos da biodiversidade e da sustentabilidade ambiental (Hope 2020). Elaborada por Abdulaziz Khashabi, Elena Napoli e Abdulla Al-Janahi, alerta ainda para a necessidade de mudar o nosso comportamento e o modo como nos relacionamos com o planeta. Os autores, apoiando a narrativa no desenrolar da vida de uma pequena tartaruga, mostram-nos como a ação do homem sobre o planeta detém um conjunto de consequências lesivas para a natureza, e, consequentemente, a médio-longo prazo, para si próprio. Alertando para isso, alerta também para a nossa ação sobre a vida dos seres marinhos, e dos oceanos, em particular (Hope 2020).

A personagem principal da narrativa, uma pequena tartaruga, pertence a uma das espécies animais mais ameaçadas do nosso planeta. Há um total de quatro famílias de tartarugas-marinhas (Toxochelyidae, Protostegidae, Cheloniidae e Dermochelyidae) e somente as duas últimas possuem espécies viventes. As Tartarugas-marinhas, pertencentes à família das Cheloniidae, são aquelas cuja família inclui as espécies que habitam os mares tropicais e subtropicais em todo o mundo. O grupo é constituído por seis géneros e sete espécies, sendo que todas elas se encontram ameaçadas de extinção. Consequentemente, um grande esforço está a ser feito por toda a comunidade mundial de modo a que não se extingam. Encontramo-nos cientes da necessidade de salvaguarda da biodiversidade. Contudo, diversos fatores concorrem para a sua extinção e o homem nem sempre se mostra alerta e sensível ao facto. Parece que as suas ações não têm consequências quando essas consequências não o afetam diretamente.

Neste contexto, podemos afirmar que a sobrevivência das tartarugas-marinhas continua em risco devido não só à caça intensiva de que foram alvo para o consumo da sua carne e utilização da sua carapaça ao longo dos séculos, mas também pelas consequências inerentes a uma subida progressiva e constante da temperatura dos oceanos e o seu nível de poluição que, cada vez maior, afeta de forma inenarrável todas as espécies que habitam não só a terra como os grandes mares. Acresce a tudo isto uma das suas maiores ameaças, aquela que incide sobre as suas áreas de nidificação e que, logo à partida impede a sua eclosão. Se atualmente a caça destes animais está controlada, eles continuam ameaçados pela atividade da pesca. São cerca de quarenta mil exemplares que são apanhados pelas redes de pesca dos navios que se dedicam a esta atividade e que nem sempre se encontram alerta e sensibilizados para o facto. Outra das suas ameaças é o desenvolvimento costeiro que se verifica nas suas áreas de nidificação, o que impede as fêmeas de pôr os ovos e impossibilita a sua reprodução10.

No que concerne a sua sobrevivência, sabemos que as tartarugas-marinhas apresentam um ciclo de vida muito complexo, utilizando diferentes ambientes ao longo da vida, o que implica uma mudança constante de locais e de hábitos. São marinhas, mas utilizam o ambiente terrestre, a praia, para a desova, garantindo aquando desta época, a escolha do local mais adequado para a sua largada e a consequente incubação e posterior eclosão das crias. Ao nascerem, os pequenos seres rumam imediatamente para o mar, onde atingem zonas de convergência de correntes que formam grandes aglomerados de algas (principalmente sargaços) e matéria orgânica flutuante. Nestas áreas encontram não só o alimento, como a proteção necessária ao seu desenvolvimento. Nelas permanecem por vários anos, migrando indiferentemente pelo oceano na busca de alimento. A primeira fase da sua vida é crucial para a sua sobrevivência. Mesmo antes de atingir o mar são alvo de uma caçada constante pelos seus predadores. Quando em ambiente marítimo a sua sobrevivência encontra-se também fortemente penalizada sendo necessário atingir rapidamente um local onde as condições apresentadas se mostrem as mais adequadas à sua sobrevivência e desenvolvimento. Neste sentido, e mais uma vez, percebemos a fragilidade da vida e a necessidade de viabilizar as condições necessárias à não alteração dos habitats naturais para as espécies. Hope, de modo sensível e eficaz, alerta-nos para estes problemas, constituindo-se ferramenta e recurso socioeducativo de relevo.

Hope (2020) inicia com a indicação que surgirá a vida num pequeno ponto deste planeta, uma praia, após o processo de desova e incubação dos ovos que aí foram deixados pela tartaruga-mãe (1:10) (Hope 2020). Após esta ação, sem a qual não existe vida, uma pequena tartaruga eclode (1:25) e a história da sua vida inicia e prossegue. Aos 1:55 são-nos mostrados dois planos diferentes a partir do olhar da jovem tartaruga, que ao despontar para a vida, na sua inocência, desconhece os inevitáveis perigos que a jornada sobre o planeta terra contem, iniciando o seu percurso de descoberta do mundo e da vida. Nesses dois planos surgem o mar e a lua com a sua luz a iluminar as águas, numa luminosidade que cativa e esconde os perigos que nela se detém e que a nossa heroína, mais cedo ou mais tarde encontrará no seu percurso até ao mar. Ao seu lado esquerdo, é-lhe mostrada uma luz mais quente, nas cores amarela e laranja, que se revelará uma fogueira que foi deixada acesa pelo homem em tempo anterior ao seu nascimento. É no seu percurso de descoberta dessa fogueira e do calor que dela emana, que a pequena tartaruga se irá confrontar com um primeiro perigo revelando uma das ignorâncias do homem. Mostrando a falta de civismo deste ao deixar acesa uma fogueira, alerta para a pegada ecológica que todos deixamos no resultado das nossas ações sobre o planeta. Inconsciente o homem deixa, presente pelos locais por onde passa um conjunto de perigos para a natureza. Nos resíduos que deixa após disfrutar dos momentos de prazer que esta proporciona, está ele a danificar o habitat de outros seres marinhos. O calor que emana da fogueira pode ainda constituir-se elemento fatal para os ovos que se encontrem enterrados na areia, constrangendo a sobrevivência dos pequenos seres que neles intentam a vida. Não só é deixada a fogueira e os seus perigos, como são deixados resíduos de toda a espécie. Neles encontramos os sacos de plástico dos snacks que serviram ao convívio, como garrafas de vidro e restos de comida que são experimentados pela nossa pequena tartaruga na exploração que inicia do mundo (Hope 2020)11.

Se a fogueira é o primeiro elemento de contacto com a incúria humana, logo surge um novo desafio. Por detrás da garrafa de vidro que desafortunadamente foi deixada, aparece uma criatura que merece toda a sua atenção, despertando a sua curiosidade: um caranguejo (3:10). Este animal, que terá um papel importante na história, pois interage com a nossa heroína. Contudo, este será repentinamente surripiado do seu olhar por uma ave que surge repentinamente no plano da ação. Se o primeiro momento de perigo foi o contacto com o fogo, logo percebemos que este pequeno animal, um crustáceo a ela desconhecido, é o primeiro ser vivo com que se depara na sua ainda breve vida. Se num primeiro momento somos levados pela emoção, podemos perceber logo em seguida que ao escolher o crustáceo e não a pequena tartaruga como alimento, a ave permitiu a sua sobrevivência. Mas será que os perigos passaram? Será que a nossa heroína se encontra a salvo?

O continuar da narrativa mostra-nos que este momento não é o único com algum perigo para a nossa pequena tartaruga. Logo após o desaparecimento do pequeno caranguejo pela ação de caça perpetrada pela ave que, em voo picado o alcança e devora, a mesma ave intenta apanhar a nossa pequena, inofensiva e inocente tartaruga. Alvo de um novo ataque, agora de modo direto, a nossa heroína desperta para o perigo desenvolvendo um sentimento de medo perante o desconhecido e o perigo que se faz iminente. Assim, e pela primeira vez, a nossa tartaruga sente que tem de fugir e se esconder rapidamente de modo a que não seja apanhada por este ser que a persegue de forma tão vil. Foge para um local que lhe parece seguro. No entanto, aquilo que se poderia constituir um local de e proteção logo se transforma, pois, surge uma outra ave no horizonte que com ela luta, uma luta que se faz novamente pela sua sobrevivência (4:39). Neste momento a nossa pequena tartaruga confronta-se com a visão aterradora de uma ave que a que engolir, fazer dela seu alimento e, aos 4:40 o écran fica a negro representando a morte. Aos 5:45, 1’05’’ depois do acontecido, o nosso pequeno ser abre os olhos verificando que se encontra dentro da ave. Nota-se a tensão inerente à situação que vivencia, mas também ao facto de se encontrar perante um elemento novo, a escuridão. No entanto, desistir não é palavra que a nossa tartaruga conheça e após uma luta feroz com a ave que a tenta devorar, esta, derrotada, expele a pequena tartaruga para o ar, caindo o pequeno ser na praia junto ao mar (5:03). Este é um momento dos mais importante no decurso da história dado que lhe é dada, em primeiro lugar, uma segunda oportunidade de vida, e lhe é apresentado um novo cenário que mais uma vez se mostra de morte. A pequena tartaruga confronta-se com a chegada já sem vida à praia de uma tartaruga mais velha. Analisando-a verifica que esta possui ao redor do seu pescoço um anel de plástico, anel esse que lhe tirou a vida (5:13) (Hope 2020)12. Intentando a sobrevivência desesperada da tartaruga adulta, rebenta o anel de plástico que se encontra à volta do seu pescoço (5:35), mas já é tarde, a tartaruga adulta já tinha perecido. Emocionada chora a sua morte, retirando a tartaruga da borda de água para terra, deixando-a junto a flores que se iluminam com a luz da sua ação (5:58). Após esta ação, conhecendo os perigos que o mar detém, a pequena tartaruga enceta o seu percurso de vida entrando nas águas desse mar profundo e onde a vida desponta em todos os pontos num intercambio e numa interação que permite por um lado a sobrevivência de uns, e por outro, o perecimento de outros. É o normal funcionamento da vida e dos ecossistemas que encerra (Hope 2020). Contudo neles não se deveriam de sentir os malefícios causados pela incúria do homem.

Hope (2020), no conjunto da narrativa que propõe, e nos assuntos que nela evidencia, mostra-se uma curta metragem que permite a discussão de temas prementes à sociedade em face das medidas governamentais que se promovem um pouco por todo o planeta intentando o atenuar dos efeitos das alterações climáticas e da poluição que alastra em distintos pontos do mundo. Em alguns deles, emerge um forte constrangimento ambiental fruto da não ação do homem em face da premente necessidade de defesa do meio ambiente. Esta não ação, consequência da opressão exercida pelas condições económicas ainda vigentes e que sugam os recursos naturais do planeta, encontram-se secundadas quantas vezes, por um fraco exercício do poder político que, acanhado, descora e descolora o nosso planeta, um mundo que gostaríamos permanecesse um pouco mais azul.

Reflexão final

Hope, para além de um registo fílmico de inegável valor a nível cultural e artístico, permite a discussão e reflexão sobre conteúdos prementes à sociedade atual. Questões sociais, políticas e ambientais podem ser abordadas em contexto social e educativo a partir do recurso identificado. Neste contexto, consolidando e integrando saberes ao nível da formação inicial de professores e educadores de infância, desenvolveram-se algumas ações que se mostraram bastante positivas e gatilhos de mudança comportamental. Agregando duas componentes fundamentais ao nível do ensino e aprendizagem, e que se encontram interrelacionadas, a primeira assentando num modelo de gestão integrada do currículo com a finalidade de potenciar a aquisição de competências na Área do Conhecimento do Mundo13, e uma outra resultante, essencialmente, da aplicação de metodologias conducentes ao desenvolvimento de um processo de autoformação e promoção de competências várias14, foram criados diversos produtos. De entre eles encontramos a elaboração de uma composição ilustrativa e elucidativa dos conteúdos considerados por cada um dos intervenientes, como dos mais relevantes ao nível da narrativa do filme. Os mesmos deveriam refletir a reflexão efetuadas sobre os ODS de modo a consolidar as aprendizagens nestes domínios. Em consonância com o expresso os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os autores foram ainda convidados a se expressar criativamente elaborando uma pequena composição musical que serviu de base a elaboração de uma pequena canção.

Enquanto recurso didático e educativo o uso de recursos alternativos em sala de aula ou atividades seja uma mais valia em todo o processo. Prevemos, à semelhança e fundamentos que nos encontramos em outros autores, que a importância de se utilizar o cinema como recurso didático se estabelece no sentido de que

trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte (Napolitano 2009, 11-12).

No caso particular da Educação Ambiental podemos afirmar, à semelhança de Silva e Krasilchik (2007, 6-7), que,

um filme pode mostrar alguns temas geradores no sentido de apresentar os conflitos pelo acesso e pelo uso dos recursos naturais, interesses privados e públicos relacionados à problemática ambiental, a responsabilidade diferenciada dos diversos atores sociais na degradação ambiental, as maneiras como os impactos ambientais atingem diferentes camadas sociais,

constituindo-se um recurso de inegável valor e eficácia.

O filme pode e deve ser um ponto de partida útil e eficiente, permitindo que o discente, através da sua própria ação, consiga conhecer e compreender a realidade. A partir do filme, pode até chegar a modificar os seus valores, adquirindo outros, como os que incidem sobre o respeito para com o outro e o meio ambiente, em particular. Ao longo da nossa prática docente, temos vindo a aferir que nem sempre é fácil conceber o processo de ensino e aprendizagem partindo das características de uma turma ou grupo, integrando conhecimentos prévios e deslocando, para estes, os centros de decisão. Ao colocar neles os centros de decisão, muitas vezes deparamo-nos com dificuldades acrescidas na obtenção de resultados, pois existe por vezes um elevado nível de desconhecimento e uma inércia elevados.

Assim sendo, questionamos frequentemente as opções tomadas de modo a proporcionar momentos diversos de aquisição e reflexão sobre conteúdos e práticas, concebendo lugares de discussão e aprendizagem múltipla de saberes, através da integração de elementos provenientes de áreas de conhecimento exteriores àquelas em desenvolvimento e aquisição. Nesse sentido, somos levados a propor atividades cujos procedimentos e modelos de ação tocam outras áreas do conhecimento, nomeadamente a área da Expressão e Comunicação no Domínio da Educação Artística. Vemos nesta proposta, um dos caminhos possíveis para alargar estes princípios e oferecer um maior significado às aprendizagens, a partir duma prática promotora da integração do currículo pela inter-relação e interdisciplinaridade que reclama.

Notas Finais

1 Desde as primeiras ações realizadas por Greta Thunberg conhecidas como Fridays for Future, que um pouco por todo o mundo surgem manifestações e greves a favor do clima e da proteção do nosso planeta.

2 Segundo o exposto no Relatório Brundtland, redigido no ano de 1987, “o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”.

3 Contudo, “Victor Amar Rodríguez (2009) defende a ideia de que o cinema pode contribuir [para] a educação ambiental, uma vez que estimula a sensibilização (ou comove), porém rechaça a categorização cinema ambiental, admitindo que qualquer género pode ser problematizado no sentido de sensibilizar ambientalmente” (Avila Colla 2019, 201).

4 De modo a estruturar e representar a sua compreensão do mundo, a criança recorre a diferentes meios de expressão e comunicação (linguagem oral e escrita, matemática e linguagens artísticas), encontrando-se aqui a possibilidade de implementar a linguagem própria do cinema.

5 Atualmente, as crianças contactam com instrumentos e técnicas complexos e têm acesso, através dos media e das tecnologias digitais, a saberes sobre realidades mais distantes, que também fazem parte do seu mundo, e, de que, gradualmente, se vão apercebendo e apropriando. Por isso, se incluem nesta área as ferramentas ligadas às tecnologias e meios de comunicação e informação. Em outro, verificamos que a introdução às diferentes áreas do conhecimento, e às ciências em particular, inclui, para além do alargamento e desenvolvimento dos seus saberes, mormente aqueles proporcionados pelo contexto de educação pré-escolar e pelo meio social e físico em que esta vive, a abordagem de aspetos científicos que ultrapassam as suas vivências imediatas. Na multiplicidade de domínios científicos que podem ser trabalhados e na diversidade de aprendizagens que podem proporcionar, importa que o/a educador/a esteja atento aos interesses das crianças e às suas descobertas, para escolher criteriosamente quais as questões a desenvolver, interrogando-se sobre o seu sentido para a criança, a sua pertinência, as suas potencialidades educativas e a sua articulação com os outros saberes. Na abordagem a esta área podem explorar-se saberes relacionados, tanto com a construção da identidade da criança e o conhecimento do meio social em que vive, como relativos ao meio físico e natural.

6 Embora existam articulações entre estes saberes, eles serão em seguida apresentados separadamente, de modo a facilitar a sua contextualização.

7 Enquanto cidadã inserida na Europa e no Mundo, a criança deverá ter oportunidade de desenvolver um sentimento de pertença, que não pressupõe uma identidade uniforme, mas decorre de uma história heterogénea, com influências diferentes resultando numa comunidade plural em termos de vivências, culturas e valores, apelando à tolerância e aceitação da diferença e das culturas provenientes dos diferentes países do mundo. A abordagem a estes aspetos deve ser feita numa perspetiva global, considerando não só o momento presente, mas também o passado próximo ou distante, promovendo-se na criança a compreensão gradual da sua situação no espaço e no tempo. A consciencialização das rotinas, dos diferentes momentos que se sucedem ao longo do dia e ao longo do ano, a elaboração e uso de horários e calendários, presentes nas distintas atividades que se realizam ao longo do seu percurso académico, são importantes para a compreensão de unidades básicas do tempo. É através delas que a criança toma consciência do desenrolar do tempo e assimila os conceitos de antes e depois, chegando depois ao conceito de semana, mês e ano. São ainda trabalhadas competências que permitem aferir da interiorização da noção do tempo marcado pelo relógio.

8 Desenvolvendo a nossa ação, alargando os temas e os objetos de discussão, permitirá ainda a esta conhecer recursos centrais da sua comunidade, realçando os seus aspetos físicos, sociais e culturais, e identificando algumas semelhanças e diferenças com outras comunidades. Associando-as a questões e situações de vida e práticas culturais, podemos induzir a que esta conheça e respeite a diversidade cultural presente nos espaços que a rodeiam.

9 Neste sentido, também as aprendizagens podem ampliar-se e diversificar-se, para além do meio imediato, tanto em geografia como em geologia, tendo em conta o contexto e os interesses das crianças.

10 A maioria das espécies são migratórias e vagueiam pelos oceanos, orientando-se com a ajuda do campo magnético terrestre. Pequenas alterações que se efetivem neste campo são calamitosas para esta e para todas as outras espécies que se orientam desta maneira.

11 O fogo que a atrai e que lhe causa desagrado e até a fere, é o princípio da descoberta de outras ações que não lhe são benéficas como sejam os sacos de plástico e as garrafas de vidro deixadas pelo homem, elementos reveladores do claro desleixo e desrespeito do homem face à natureza que sempre o acolhe, dignifica e sustenta.

12 Ao olhar para a tartaruga inanimada, inicia uma luta chamando à atenção para os perigos decorrentes das diversas formas de poluição que decorrem da ação do homem. Nas sociedades contemporâneas o consumismo exagerado e a constante utilização de produtos descartáveis estão a exercer uma grande pressão sobre os recursos do nosso planeta e toda a biodiversidade que nele se expressa, deixando uma enorme pegada ecológica que surge reflexo do uso excessivo dos recursos do planeta, mormente de todos os derivados do petróleo, nomeadamente os plásticos.

13 Pois que esta é uma área que integra aprendizagens várias que se revelam essenciais à formação do indivíduo no seu todo.

14 Nomeadamente ao nível da reflexão sobre a prática docente e os resultados obtidos, integrando a Área da Expressão e Comunicação no Domínio da Educação Artística, nomeadamente a escrita de uma reflexão individual sobre o modo como o filme agiu sobre a pessoa humana, a elaboração de um cartaz, utilizando a técnica da colagem.

Bibliografia

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Filmografia

Hope. 2020. De Abdulla Al-Janahi. https://www.youtube.com/watch?v=1P3ZgLOy-w8