Abstract
The Federal University of Pará, in collaboration with the Federal University of Goiás, both from Brazil, and with AO NORTE from Portugal, conducted fieldwork in Melgaço do Marajó in February 2019, developing two complementary projects, one focused on the community - Youth Film Show and youth audiovisual production workshops, another focused on team formation - Field work practices in Anthropology and Visual Culture Art. Participating in these activities and in the innovative process of participatory training 10 employees: high school students, undergraduate and graduate students, teachers and postdoctoral students. We intend to expose and document the results of these activities told to multiple voices, writing and production and images and the reflection on ethical, aesthetic, epistemological and pedagogical issues arising from these activities.
Keywords: Youth Film Show, Audiovisual Office, Melgaço do Maraj, Anthropology, Art and Visual Culture
Introdução
As atividades desenvolvidas com jovens e crianças do município de Melgaço, na região do arquipélago do Marajó, foram realizadas em dois momentos pelo Grupo de Estudos sobre Antropologia Visual e da Imagem (VISAGEM) em parceria com o professor José da Silva Ribeiro. Incialmente, programaram-se atividades de oficinas de audiovisual para aproximações entre as cidades homônimas de Melgaço do Marajó, na Amazônia brasileira, e Melgaço do Minho, em Portugal.
A oportunidade de trabalhar em parceria com o prof. José da Silva Ribeiro (UAb-PT e UFG) com projeto de Antropologia Visual, no município de Melgaço (Arquipélago do Marajó) despontou a partir de sua vinda a Belém do Pará para atuar como colaborador na disciplina Antropologia Visual, em 2016, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O estudo sobre Melgaço foi iniciado neste ano e em 2017 o Grupo de Estudos Visagem (PPGSA) apresentou sua proposta inicial em evento na cidade de Melgaço (Portugal), cuja temática incide sobre produção fílmica.
Em 2018 realizamos pesquisa de campo em Melgaço, no estado do Pará, buscando as “teias das cidades invisíveis” indicadas por Ítalo Calvino (1972) por considerar que as cidades são construções feitas a partir da memória que cada um lhes dá valor e significado.
Estes dois lugares distantes espacialmente, mas com aproximações outras, nem sempre visíveis pela observação espontânea, guardam elementos comuns interessantes sob o ponto de vista das Ciências Sociais e Ciências das Artes, dentre outras.
A aproximação acadêmica entre pesquisadores e pesquisadoras de Portugal e do Brasil provocou a produção de pequenos vídeos e uma parceria mais incisiva em Melgaço do Marajó, com vistas ao aprofundamento de práticas colaborativas no campo da Antropologia Visual, tendo como inspiração a obra de Jean Rouch.
Por certo, a vivência de quem mora nesta cidade do arquipélago do Marajó foi um elemento enriquecedor nas trocas de saberes que envolvem tanto as práticas da etnografia da Antropologia Visual (Campos, 1999), quanto aqueles que se referem às tramas da memória coletiva deste lugar. Neste aspecto da memória coletiva foi inspiradora a contribuição de Maurice Halbwachs (2003) sobre o tema.
A partir de 2019, buscamos ações que tragam saberes outros, a exemplo do proposto por Gayatri Spivak (2010) quando apresenta o questionamento se subalternos e subalternas podem falar.
Em sua relevante obra Spivak (2010) reitera aquilo que os estudos atuais sobre as regiões antes colonizadas, e em outras ainda marcadas por conflitos de classe, estão buscando conquistar. Para além da hegemonia dos saberes, propõe-se novas epistemologias, novas abordagens, outras perspectivas, e outros saberes.
Compreender aspectos da identidade local, a partir da inserção em campo, utilizando-se de técnicas de fotografia e outras expressões de artes visuais, facilita sobremaneira a participação e expressão em diferentes linguagens. Neste sentido, propomos ações (principalmente oficinas) voltadas para os usos de aparatos tecnológicos para a produção audiovisual em Melgaço do Marajó.
Diante disso, a Mostra de Cinema Juvenil foi uma experiência inovadora e instigante para a população local, possibilitando atividades de pesquisa de campo e aquelas consideradas como extensão da universidade, ou seja, as oficinas de audiovisual, dentre outras.
O que ora apresentamos é um texto com a síntese dos dois momentos em que foram realizadas as atividades preparatórias e de aproximação etnográfica a partir da antropologia visual (2018) e a Mostra de Cinema Juvenil (2019) com o maior intercâmbio de práticas e conhecimentos com jovens e crianças desta região do arquipélago do Marajó.
A experiência etnográfica audiovisual
As considerações de Mariza Peirano (2014) sobre a etnografia são significativas enquanto reflexão crítica sobre fazer antropológico e, por certo, trata-se de uma obra relevante e que foi incorporada às outras que balizaram este projeto.
Diante disso, propusemos, a partir do aprofundamento de leituras de textos teóricos e audiovisuais, enfatizando a imagem enquanto objeto antropológico e seus desdobramentos teórico-metodológicos, realizarmos reflexões sobre as experiências de pesquisadores e pesquisadoras que se utilizam de imagens em suas investigações desde a origem da Antropologia aos contextos contemporâneos (Achutti, 2003; Altmann, 2008; Peixoto, 2001; Samain, 1995; Simonian, 2006), com destaque às experiências etnográficas que envolvem a prática colaborativa (Hijiki, 2013).
Desse modo, cabe enfatizar que desde seus primeiros primórdios, este projeto foi inspirado naquilo que José Ribeiro (2016) indica como a Antropologia Partilhada de Jean Rouch, cuja essência nos é apresentada de forma muito elaborada, sobretudo em três filmes Moi un Noire, Piramide Humaine e Chronique d’un Été, perspectivas de uma antropologia compartilhada. Estas obras fílmicas unem elementos estéticos e práticas etnográficas que ainda nos tempos atuais são importantes referências no âmbito da Antropologia Visual.
Sobre os usos das práticas etnográficas em Jean Rouch, destaco que a Antropologia Compartilhada, por ele realizada, inspirou-nos em termos da inserção em campo e produção de vídeos com a participação das pessoas envolvidas desde o planejamento de roteiro, orientações quanto aos usos da luz e técnicas de enquadramento. Quando possível, e conforme as condições materiais, inclui-se, ainda, a atividade de edição dos filmes.
A primeira expedição a Melgaço do Marajó
Em janeiro de 2018, iniciamos uma viagem de aproximadamente doze horas de navio partindo de Belém, capital do estado do Pará, passando por inúmeras ilhas banhadas pelos rios Amazonas, Tajapuru, Laguna, Anapu, além da magnificente e vasta Floresta Nacional de Caxiuanã.
O objetivo desta viagem foi aproximar as cidades irmãs: Melgaço do Minho, em Portugal, e Melgaço do Marajó, no Pará,com a realização de oficinas de audiovisual participativa com crianças e jovens.
O desenvolvimento do projeto se deu a partir do contato inicial entre a equipe composta por Alessandro Campos, Denise Cardoso, Michel Ribeiro, Lorena Costa e Priscilla Brito, além de José Ribeiro, com protagonistas do município de Melgaço, em especial, as crianças. Esse contato foi um grande aprendizado tanto para o campo profissional quanto pessoal de nossa equipe, tendo em vista, o diálogo e o acolhimento de forma exitosa por parte dessas crianças que se dispuseram em participar de nossas filmagens.
Contando sobre seus cotidianos nesta cidade, as crianças relataram suas brincadeiras preferidas, quais seus sonhos de profissões, como é a escola e o espaço dela, as histórias que os antigos falam, como é jogar capoeira, além das partidas de videogame, e o famoso e querido banho no rio, sendo este último um lugar considerado bonito para eles. O intuito era justamente falar pouco e escutar mais para que conseguíssemos entender os espaços de convivência, o formato familiar, para “Apreender o ponto de vista do nativo, sua relação com a vida, compreender sua visão do seu mundo” (Malinowski, 1975, 60-61)
Organizados em dois grupos de crianças iniciamos as orientações e práticas para as filmagens. A primeira equipe era constituída por onze e a segunda contava com quatro crianças. Em ambas, foram realizadas as entrevistas e conversas informais, fotografias faladas, sendo esta última considerada de grande relevância para toda a equipe.
A partir desta produção audiovisual cria-se a oportunidade de conhecer, na prática, o que é produzir um vídeo. Por certo, isso favorece a mediação com a tecnologia, possibilitando o processo de aprendizagem de forma eficaz, lúdica e criativa. Consequentemente, o diálogo entre as pessoas envolvidas no processo educacional se refere à potencialidade advinda de algumas destas atividades que podem vir a ser concretizadas entre os sujeitos.
O contato com a câmera foi algo que encantou a maioria, principalmente na atividade que eles manusearam e filmaram seus colegas, alguns ficaram retraídos e com certo receio daquele “novo”, pois essas atividades não são algo familiar para eles.
A iniciativa deste trabalho foi justamente dialogar com sujeitos sociais daquele espaço, sendo estes os que moram e convivem com as dificuldades, mazelas sociais, mas também com o bem-estar de morar em lugar calmo e sem violência, como ressaltaram todas as crianças.
Os astros do futebol como Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi foram os mais escolhidos como modelos para as crianças e até mesmo o sonho de se tornar um jogador renomado com estes destacados. Além de sonhar em ser jogador de futebol, outras profissões como as de engenheiro civil, bombeiro, médico e contador tiveram grande destaque.
Evidenciou-se que o que mais motiva as crianças a seguirem uma carreira é, de fato, mudar a realidade social e econômica da família. Porém, sair do lugar de origem não é algo que a maioria deseja, pois grande parte comentou que ficaria no máximo em cidades próximas como por exemplo Breves, que além de possuir um campus da UFPA também possui a universidade particular Unopar.
A oficina se deu a partir desse diálogo de uma fotografia falada, dividimos as equipes e nelas as crianças realizavam as filmagens um das outras, cada uma relatando seu modo de vida, sonhos, brincadeiras e perguntas que iam surgindo, foi uma espécie de alfabetização no que tange a comunicação visual, além de imagens em espaços da cidade como forma de demonstrarem a cidade a partir da percepção delas, conforme Felizardo (2000, 13):
Fotografar é conferir importância e o olhar é uma forma de conhecimento. (...) Palavra e imagem, por sua vez, sempre andam juntas, ora se completando, ora brigando, ora se separando, ora se juntando. Não importa. As duas formas de expressão são necessárias para o relato, para as histórias que queremos contar. E quando uma vem para enaltecer a outra, é perfeito.
A linguagem fotográfica e a audiovisual proporcionou uma interação maior com as crianças nas oficinas, sendo uma experiência nova para todos que participaram, ampliando horizontes e aprendizados, “propiciando às pessoas a possibilidade de, pela aquisição do manejo de uma nova linguagem, experimentar o alargamento de seu poder de investigação e de redescoberta da vida” (Humberto, 2000, 71).
Em outro momento, distribuímos telefones celulares às crianças para que elas registrassem imagens da cidade e os pontos mais importante para cada uma. Procuramos deixar todas à vontade para expressarem-se de forma poética e criativa seus registros. Ao final, reunimos as imagens no computador e passamos no Datashow para cada equipe explicasse os pontos turísticos da cidade e porque são importantes. Barthes (1987, 187) exemplifica que
A cidade é um discurso, e esse discurso é verdadeiramente uma linguagem: a cidade fala aos seus habitantes, nós falamos a nossa cidade, a cidade onde nós nos encontramos simplesmente quando a habitamos, a percorremos, a olhamos.
Uma documentação visual dentre comunicações que interagem com as pessoas que acrescentam pensamentos e diversas interpretações diante do espaço citadino. Segundo Armando Silva (2011), “a cidade se faz por suas expressões é também a construção de uma mentalidade urbana” (p. XXV).
O uso da fotografia proporcionou unir a percepção de cada criança, dentre as representações visuais, dentre os espaços selecionados a igreja é o lugar mais bonito da cidade e o motor da pequena embarcação, denominada de Rabeta, também possui também uma grande importância, eles descrevem com facilidade e domínio, os tipos de motores e os respectivos tamanhos, haja vista, que aprendem desde pequenos a manusear juntamente com os pais.
De acordo com Barthes (1984, 49),
A fotografia é contingência pura e só pode ser isso (é sempre alguma coisa representada) – ao contrário do texto que, pela ação repentina de uma única palavra, pode fazer uma frase passar da descrição à reflexão.
A imagem é, portanto, uma forma de comunicação, pois, no entendimento de (Ferreira, 2013, 21), a fotografia torna-se uma narrativa textual. Ou seja,
Tanto fotografias quanto vídeos são textos que devem ser lidos com cuidado para que assim possam ser entendidos tanto em seus objetivos quanto em seu contexto.
Paulo Freire (1983, 45) enfatiza ainda que
A educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados.
As atividades com o audiovisual despertaram interesse e curiosidade entre as crianças e jovens, haja vista que muitos ainda não haviam tido contato com a câmera e todos os demais equipamentos de filmagens.
A interação foi aumentando ao longo do processo, pois antes das gravações, fazíamos uma “roda de conversa]’ referente à cidade, as histórias de vida, os sonhos, o andamento da vida escolar, entre outras perguntas que iam surgindo ao longo do diálogo. Dessa maneira, criaram-se condições para os debates participativos, logo ampliar o espaço de sociabilidade e democratizar o acesso as mídias e filmes entre os sujeitos participantes é uma interação cultural de intervenção social e a construção de uma alfabetização visual e comunicacional.
Logo, pensar o audiovisual como um procedimento metodológico de ensino é pensar uma escola que abre possibilidades e não se feche para concepções pedagógicas no que se refere a inserir nas aulas e junto aos conteúdos, escutando os alunos, dando a oportunidade de exercitarem a cidadania de modo mais amplo no espaço escolar. Fica evidente que estabelecer um contato mais próximo com a comunicação requer pensar estratégias e diálogos frente às práticas sociais e à própria realidade dos alunos e alunas.
As atividades prosseguiram na Escola Getúlio Vargas, onde são realizadas as aulas do curso de ciências naturais da Universidade Federal do Pará, onde foi desenvolvido o Workshop de Ciências e Cinema, coordenado por José da Silva Ribeiro e Priscilla Brito (integrante do Grupo VISAGEM), com o objetivo de aproximar as produções cinematográficas para a sala de aula, neste caso acaba sendo um dispositivo pedagógico na formação dos educadores.
Esta experiência foi importante para a equipe, pois a escola e a universidade são espaços de socialização do conhecimento e de transformações ao longo da história, e nesta oportunidade, o aprendizado foi uma “via de mão dupla”.
A produção fílmica, seja ela expressa em longa ou curta metragem, em documentários, traz na imagem-movimento, através do cinema, da televisão, do vídeo e DVD, na escola algo atraente aos alunos. No dizer de Priscilla Brito (2018) e de Napolitano (2011), este tipo de produção pode vir a ser uma ferramenta pedagógica que se articule com várias disciplinas, podendo o educador de diferentes áreas utilizar esta mesma metodologia para construir seu trabalho.
As impressões etnográficas proporcionaram novas experiências e novos olhares e reflexões, mesmo sendo relatos parciais reportam as vivências dos sujeitos pesquisados, o contato com a cultura visual, desencadeou aprendizados no campo midiático e a possibilidade da inserção do audiovisual e a fotografia na sala de aula como suporte metodológico, em busca de uma alfabetização visual e comunicacional.
A fotografia falada realizada juntamente com as crianças do município, foi possível conhecer a cidade de Melgaço a partir de observações subjetivas de cada criança, ver a cidade como uma construção cultural e dialógica com o uso da imagem de forma livre e espontânea para registrarem lugares de maior identificação e ditas “preferidas”. A participação da comunidade de Melgaço, em especial neste trajeto de cunho etnográfico, conhecemos a cidade sendo está um produto cultural de cunho social, político, econômico.
Neste aspecto, foi inspiradora a experiência de Guaracira Gouvêa, Lucia Pralon, Carmen Oliveira e Maria Machado (2016), na medida em que incorporam em seus projetos, tanto no contexto da escola como em contextos de educação não formal e de museus, a relação entre ciência e artes, na perspectiva de Gaston Bachelard (1972).
O uso das produções cinematográficas na sala de aula foi uma experiência nova para os estudantes da cidade Melgaço e o diálogo com docentes sobre metodologias de ensino a partir da incorporação do audiovisual e das composições visuais.
A expedição de 2019 e a Mostra de Cinema Juvenil
Nesta etapa do projeto contamos com a participação de membros da Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Goiás e da Associação AO NORTE, além da Fundação Cultural do Pará, totalizando cerca de onze pessoas na Expedição de 2019. Também houve parceria com a Prefeitura de Melgaço.
Cabe ressaltar que a participação da professora Maria Alice de Sousa Carvalho Rocha, docente da Universidade Federal de Goiás (UFG), especialista na produção fílmica que conta com participação de jovens e crianças, foi um dos principais fatores para o êxito das atividades tanto da Mostra de Cinema Juvenil, quanto das oficinas de audiovisual. Suas práticas na área de audiovisual foram de grande valia para a execução das atividades e metas pretendidas nesse projeto.
Foram realizadas as oficinas de fotografia e cinema infantil e juvenil, juntamente com a Mostra de Cinema Juvenil de Melgaço, onde foram produzidos curtas dirigidos, filmados e roteirizados pelas próprias crianças e jovens participantes das oficinas. Também foram produzidas duas biografias visuais: a de Dona Maria, parteira de Melgaço, e de Miguel Cassiano, professor de matemática na cidade e nas regiões ribeirinhas do entorno. Além disso, ocorreram filmagens a fins de produção documental com jovens mulheres de Melgaço participantes de um time de futsal e uma jovem estudante ribeirinha.
A produção da biografia de Dona Maria foi coordenada por Denise Machado, e a de Miguel Cassiano, por José Ribeiro. Ambos contaram com a colaboração de Gonçalo Netto, Mauro Costa, Michel Ribeiro, Alessandro Campos e Márcio Cruz, participantes do grupo do projeto. A Mostra de Cinema foi coordenada por Maria Alice Carvalho, com auxílio de Alessandro, José e Ana Lídia Nauar. Para as filmagens do documentário sobre as mulheres melgacences, fiquei responsável, junto de Sofia, de coordenar e dirigir, contando com a colaboração de Márcio Cruz e Mauro Costa.
No que tange à Mostra de Cinema e as oficinas, a dificuldade inicial foi de assegurar que a divulgação do evento abrangesse o nosso público-alvo no tempo que ocorreu de forma que ele comparecesse nas atividades. Felizmente, a divulgação foi bem-sucedida tal qual as atividades, sempre com público para as oficinas durante as manhãs e as mostras de filmes durante as tardes.
Especificamente na parte do documentário sobre as mulheres de Melgaço, a dificuldade mais notável era a de aproximação com as jovens da cidade, pois um dos motivos iniciais do documentário era a ausência de meninas e mulheres participantes nas edições anteriores do projeto. A falta dessa comunicação sobre onde elas estavam, onde elas iam e o que faziam na cidade se tornou uma pequena complicação, que foi superada quando eu e Sofia encontramos o time de futsal Amigas Futebol Clube treinando na quadra da cidade. Assim como ao encontrar Clarice em um dos dias das oficinas. Elas foram nossas protagonistas no curta documental.
Conclusões
A mostra de cinema Juvenil realizada pelo Grupo Visagem em Melgaço do Marajó, em 2019 foi um desdobramento daquelas expedições a Melgaço no ano anterior. Inspiradas em etnografia com interlocução participativa e reflexiva, a viagem a Melgaço do Marajó. Objetivava, inicialmente aproximar as duas cidades irmãs: Melgaço do Minho e Melgaço do arquipelago marajoara a partir de oficinas de audiovisual participativas com crianças e jovens. Por meio da fotografia falada e conversas informais, a participação das crianças nestas oficinas proporcionou momentos lúdicos de aprendizagem.
Ao fim da realização do evento, graças as oficinas de cinema e fotografia, foram produzidos cinco curtas realizados pelas crianças e jovens, sendo eles protagonistas, diretores, roteiristas e produtores destes. No último dia, esses curtas foram exibidos para o público na Câmera dos Vereadores da Cidade, juntamente com teasers das biografias, que estão em processo de montagem.
O documentário sobre as mulheres de Melgaço foi filmado com as jovens do time de futsal e a estudante Clarice, e também está em processo de edição e montagem.
Por certo, a equipe interdisciplinar, com vasta experiência em pesquisa de campo com jovens (Ferreira; Cardoso, 2014), práticas colaborativas, exercícios etnográficos com imagens, participação em projetos de ensino e extensão voltados para estudantes de ensino Médio e Superior, além das produções voltadas para incorporação e valorização de diferentes epistemologias, contribuíram para o alcance de objetivos e metas propostos.
Desse modo, consideramos relevante destacar que este projeto possibilita o reconhecimento dos saberes locais na academia; ao buscar o diálogo entre os saberes locais e os saberes da academia a partir do envolvimento da sociedade (indivíduos, grupos comunidades) na resolução de seus problemas e nos processos de mudança.
A formação de antropólogos, cientistas sociais, cineastas e artistas; a produção científica, artística e cultural; a fundamentação epistemológica, ética e estética destas práticas; a passagem de Racionalidade Instrumental à Racionalidade dos Valores também são importantes elementos que fazem exitoso este projeto de práticas audiovisuais colaborativas com jovens e crianças de Melgaço.
Como projeto em rede e de pesquisa participativa buscamos aproximações com os interesses locais, dos atores sociais e populações envolvidas, dos grupos de pesquisa, dos programas acadêmicos.
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