Capítulo III – Cinema – Comunicação

Analyzes and correlation of The Rewrite’s movie with active teaching methodologies

Análise e correlação do filme The Rewrite com metodologias ativas de ensino

Favaro, José Estevão

Universidade Presbiteriana Mackenzie, CCL- Publicidade e Propaganda, Brasil

Abstract

The objective of this article is to establish a relation between The Rewrite movie with active teaching methodologies’s relative aspects, whether they have been purposefully inserted or not in the script, since the movie, although having a clear entertainment purpose, fitting into the comedy/romance genre and not in cine-education, appropriates aspects related to that teaching methodology. There is also a characterization of pre-conceived aspects and models of a communication professional, who assumes the teacher role, without having previously taught or been adequately prepared for it. This point will also be considered in the analysis and the unfolding of the movie until it’s end, which will be the guiding thread for the conclusion of the article.

Keywords: Teaching, Movie, Active Methodologies, Communication Professional, Script.

Introdução

O objetivo deste artigo é estabelecer uma relação entre o filme The Rewrite com aspectos relacionados às metodologias ativas de ensino, quer elas tenham sido inseridas no roteiro de forma proposital ou não, visto que o filme, embora tenha um propósito claro de entretenimento, que se encaixa no gênero comédia/romance e não cine-educação, se apropria de aspectos relativos às metodologias de ensino citadas. Também há uma caracterização de aspectos e modelos pré-concebidos de um profissional de comunicação que assume a docência sem ter algum tipo de experiência didática, ou mesmo se preparado adequadamente para isto. Estes aspectos citados foram analisados, e para tanto, foi feito um breve resumo da história do filme, onde foram estabelecidas algumas relações com as metodologias ativas de ensino, tendo como principal fonte de referência primária, pesquisas e entrevistas a docentes da área de Comunicação, realizadas durante o desenvolvimento do doutorado do autor.

O filme The Rewrite, ou “Virando a Página”, como foi chamado no Brasil, é uma produção americana, feita pela Castle Rock Entertainment, subsidiária da Warner Bros, uma divisão da AT&T’s WarnerMedia, em 2014, tendo sido lançada no Brasil em 25 de junho de 2015, cujo roteiro e direção é de Marc Lawrence, diretor, roteirista e produtor, nascido em Nova Iorque, EUA. (ABOUT.ATT.COM, 03/12/2020).

O filme é uma comédia romântica, com o seguinte elenco: Hugh Grant, como o personagem Keith Michaels; Marisa Tomei, como Holly Carpenter; Bella Heathcote, como Karen; Allison Janney, como Mary Weldon e Chris Elliot, como Jim; e descrita conforme sinopse do site Adoro Cinema (29/12/2020):

Keith Michaels (Hugh Grant) já foi um roteirista de sucesso, vencedor do Oscar, mas décadas mais tarde, a fama desapareceu e ele enfrenta graves problemas financeiros. Por isso, este homem amargo e machista aceita dar aulas de roteiro para universitários, embora despreze a profissão de professor. Durante os cursos, ele deve lidar com a sua fama, com a falta de prática no ensino e com a atração pela mãe solteira Holly Carpenter (Marisa Tomei), que decide assistir às suas aulas.

Os dois pontos principais abordados no filme, conforme consta na sinopse: fama e machismo parecem lugares comuns na vida de publicitários presentes na época em que se desenrola o filme, ou, no mínimo na percepção que havia em relação a estes profissionais. Mas, é importante lembrar que o machismo esteve presente, e ainda continua de certa forma, na vida não só de pessoas da área de comunicação, mas sim de forma generalizada.

Entretanto, a experiência do autor como publicitário há mais de trinta anos, é a percepção de que os profissionais da área da comunicação, independente do gênero, eram ‘rotulados’ como pessoas de reputação duvidosa. Isto me referindo mais especificamente à década de 1980, quando ainda, no Brasil se vivia o final da ditadura militar e os jovens estavam vivendo a rebeldia iniciada nos anos 1960, nos Estados Unidos, com o movimento hippie. Era um momento de contestação política, de rompimento com as regras impostas pela sociedade, de liberdade sexual, da moda, do início do empoderamento feminino, presente na cultura como um todo.

Consequentemente, eram presentes, atitudes machistas, incutidas e percebidas como “naturais” pelos homens e na maioria das vezes aceita por uma grande parte das mulheres, por ser a norma vigente durante séculos. O estigma de que publicitários eram movidos por seus hormônios, mais do que pela razão, era forte.

Esta contextualização se faz necessária em função de uma das cenas do filme em questão, a ser abordada, porém, é importante a observação de que, no Brasil, a grande maioria dos professores do ensino superior na área de comunicação, não tem formação em pedagogia, não tem licenciatura, o que faz com que cada um siga seu próprio modelo de ensino, a não ser que a universidade estabeleça e treine seus professores em um sistema específico, o que na realidade, é feito por poucas instituições.

É comum, em boa parte das faculdades, no ato da escolha do professor, que se realize uma aula teste, onde o candidato tem algum tempo para convencer a uma banca que é capaz de cumprir com sua função.

Também se pode afirmar que, atualmente, nos cursos de nível superior, seja exigido que os docentes tenham no mínimo, titulo de mestrado.

O que não implica necessariamente com a questão da postura, da forma de dar aula, ou de como expressar a troca de conhecimentos com os discentes.

Na ocasião do desenvolvimento do estudo do doutorado, tive a oportunidade de fazer uma pesquisa qualitativa com professores de uma reconhecida instituição de ensino superior da cidade de São Paulo, curso na área da comunicação, sobre a utilização de metodologias ativas e, pôde-se perceber que boa parte dos entrevistados desconheciam estas metodologias. Outros, que as conheciam ou tinham ouvido falar, mas que não sabiam como utiliza-las. O interessante a obsevar é que, mesmo intuitivamente, acabavam por fazer uso. Com o relato de que em suas aulas práticas, promoviam a participação dos alunos, o que torna as aulas mais motivadoras, com maior lembrança ao que se pratica e maior significado para os alunos. (FAVARO, 2018).

Fazendo um comparativo com o filme em questão, de maneira geral, intencionalmente ou não, há uma apropriação do uso de metodologias ativas, que no caso do personagem representado por Hught Grant, - Keith Michaels – acaba colocando em uso algumas dessas práticas.

No item a seguir, foi feito um resumo do filme, onde buscou-se dar ênfase às partes mais significativas relacionadas com o assunto em questão.

Num segundo momento, foram apresentados alguns aspectos das metodologias ativas, tendo como fonte principal de referência, os estudos desenvolvidos pelo autor em seu doutorado (FAVARO, 2018).

Na sequencia, são apresentados os argumentos comparativos entre partes específicas do roteiro, com a teoria (na prática) das metodologias ativas de ensino, e para a conclusão do trabalho, sugere-se o debate sobre os metodos de ensio praticados nas escolas de comunicação.

Resumo do filme ‘The Rewrite’

Logo, nas cenas iniciais do filme (The Rewrite, 2014, 2’45” a 3’25”), o personagem principal, Keith fica inconformado com a proposta para dar aulas, por entender que professores são pessoas fracassadas, que não tem nenhuma relevância, mas em função das circunstancias financeiras – no momento em que está falando com sua agente sua energia/luz é cortada por falta de pagamento– ele acaba por aceitar. O personagem mora em Los Angeles (estado da Califórnia), na costa oeste dos Estados Unidos e a vaga é em uma cidade chamada Binghamton, no estado de Nova York, na costa leste.

No desenrolar das cenas, o protagonista (Hugh Grant), chega à cidade do interior para onde foi deisignado, e em uma lanchonete, troca algumas palavras com garotas, a distância, e uma delas reconhecendo ele, mantém contato, indica que se inscreveu em sua aula , e a partir daí, acaba se envolvendo sexualmente ja neste encontro, em seu primeiro dia na cidade.

Na faculdade, no dia seguinte, o protagonista recebe do diretor, uma caixa com cerca de setenta roteiros de trinta páginas cada um, para decidir quais alunos fariam parte de sua turma, sendo que as aulas iriam começaram em dois dias. Com isso, precisa decidir o mais rápido possível, mas, por considerar a leitura dos roteiros cansativa e enfadonha, e também pelo curto espaço de tempo que possue, decide por fazer a seleção, considerando apenas os atributos físicos, pela beleza das candidatas, dando prioridade pela maioria de mulheres na sala.

Na sequencia do filme, no dia posterior, há uma recepção para os professores interagirem, uma reunião de boas-vindas, regada a vinho, onde o protagonista já consideravelmente alcoolizado, é apresentado aos vários docentes, entre eles a professora Mary Weldon (Allisonn Janney), uma professora titulada, com vários artigos publicados e membro do conselho de ética. Ela defende uma posição feminista, não compartilhada por Keith Michael (Hugh Grant), que até então, não sabendo de quem se trata, com seu jeito debochado, acaba criando uma situação desagradável e, até mesmo relacionada a assédio moral, do ponto de vista da professora, que pretende demiti-lo em função disso.

Na continuação (The Rewrite, 2014, 21’42”) em seu primeiro dia de aula, ingressa na sala, cumprimenta os alunos que já estão em seus lugares e, se aproveitando do fato de que os alunos haviam escrito os roteiros para admição da disciplina, argumenta que, como os mesmos têm trinta páginas e que então – os alunos se preparam nesse momento para anotar suas observações – como um roteiro normalmente precisa de ter pelo menos uma cento e vinte páginas, se eles escreverem três páginas por dia, durante seis dias por semana, terão todas as páginas necessárias em um mês. E dispensa os alunos para voltarem em trinta dias com o roteiro pronto, deixando, basicamente todos estupefatos.

Nesse momento do filme, a situação poderia ser encaminhada para um período de tranquilidade para o protagonista, caso ele tivesse lido o roteiro de Holly Carpenter (Marisa Tomei), uma aluna mais velha que as demais discentes do grupo, que trabalha no próprio campus para poder se sustentar, e que faz um curso que não está relacionado com a área específica da disciplina na qual se candidatou. A questão é a de que, quando Keith Michaels (Hugh Grant), “escolheu” os roteiros, Holly ainda não havia entregado o seu porque o fez com atraso e não foi aceito, porém, encontrando com o professor no campus pede para que ele o aceite. Ele o aceita, porém, como ja era de se esperar, também não o lê, e decide não aceitat-la como aluna.

Como seu roteiro não foi aceito, Holly decide perguntar para Michaels o que havia de errado e o que ela poderia melhorar. Por não ter lido, mas não querer dizer isto, Michaels responde aos questionamentos de forma genérica. Ela percebe que ele não leu e pergunta se o problema estava relacionado à determinada situação que ela inventa, ou seja, não estava no roteiro. Ele confirma que sim, que o problema estava exatamente ali. Diante disso ela diz para ele que não havia lido o roteiro. Ele se propõe a fazer a leitura e dizer a ela se a aceitaria ou não no curso, dando uma justificativa pouco elaborada para a razão de não ter lido.

O ingresso de Holly na vida de Michaels é, de acordo com o roteiro, um ponto importante para sua transformação como professor, e boa parte dos acontecimentos do filme estão entrelaçados a essa personagem.

Voltando para o resumo do filme, em função da atitude de Michaels em relação à professora Mary Weldon e, como o diretor da universidade o havia alertado sobre a intenção dela em demiti-lo, ele busca agrada-la com brindes. Ela o informa que, além do comportamento inadequado dele, ela sabe que ele dispensou sua turma de alunos por trinta dias. Mas, mesmo assim que daria a ele uma segunda chance.

Michaels, entendendo que sua situação não estava boa, decide, então, corrigir alguns de seus erros: lê o roteiro de Molly, manda e-mail para a sala com o aviso de que vai retomar as aulas. Novamente em sala de aula (The Rewrite, 2014, 27’31”), ele não sabe o que fazer, e permanece mudo. Acaba sendo salvo por Molly que faz uma pergunta sobre a razão dele dar aula e se tornar um professor, uma vez que é um roteirista premiado. Para não dizer que era porque não conseguia mais emprego, mente dizendo que estava escrevendo um roteiro sobre como ser um professor em uma universidade e que iria chamar um ator famoso para interpretar o papel, que será o protagonista. Isto acaba dando a ele um insight para explicar o significado desta palavra, o que a pessoa representa no filme e, a partir daí consegue evoluir sua aula.

Também conversa com um dos alunos da sala, após a aula, para elogiar o material que já havia entregue e descobre que o discente tem o roteiro completo e pede para que o leve para que possa avaliar o conteúdo.

O filme segue seu desenrolar com Michaels se envolvendo com os alunos, acompanhando e discutindo com eles seus roteiros.

Faz-se importante observar duas situações na sequencia do filme: por um lado, Keith Michaels fica impressionado com o roteiro de um de seus alunos e o envia para sua empresária para que o submeta a algum produtor. Ela vê o roteiro de uma forma muito positiva também e imediatamente fala com alguns produtores, que parecem se interessar. Por outro lado, Karen (Bella Heathcote), a aluna com a qual ele teve um relacionamento e, posteriormente se afastou por temer ser demitido, fica contrariada em relação a ele, não só por sua atitude de por um fim ao relacionamento, mas, principalmente pelo fato de não defende-la no jantar que foram, porque, quando escolhem a bebida, ela pede champagne, e a garçonete (Molly), pede seu documento para servi-la e ela apresenta um documento falsificado.

Posteriormente, no momento de seu atendimento sobre o roteiro, como Keith Michaels fez com todos os demais alunos, Karen interrompe o atendimento, sai da sala reclamando em voz alta e diz que iria a casa dele buscar a droga que havia deixado lá. Isto acontece no corredor onde tem as salas dos professores, inclusive da professora Mary Weldon.

Por causa deste acontecimento, a professora Weldon coloca como condição, a de que ele se retire da faculdade imediatamente, se desligue, sem acabar de cumprir o semestre ou, ela iria leva-lo a um processo interno, que poderia acabar tendo repercussão externa, ou seja, poderia vir a se tornar público e ser um escândalo.

Keith Michaels fica indeciso sobre o que fazer, mas como está tentando se reaproximar de seu filho, entende que um processo, caso viesse a público, poderia prejudicar sua tentativa de reaproximação. Em função disso, opta por deixar a faculdade.

Após sua última aula, quando já havia comunicado que para resolver questões pessoais não poderia dar mais aulas, tendo inclusive se despedido da turma, recebe uma ligação de sua empresária dizendo que os produtores desejam falar com ele e o seu aluno sobre o roteiro que havia enviado. Parte então para Nova York com o aluno e se encontram com os produtores. No meio do jantar percebe que todas as atenções estão voltadas para o jovem, que o momento é dele, inclusive recordando o que já havia acontecido com ele no passado. Então, toma uma decisão: chama o aluno, e o incentiva a continuar a reunião sózinho, conseguindo seu objetivo. Ao mesmo tempo toma um ônibus decidido a voltar a Binghamton. Vai até a casa do diretor e solicita que agende uma reunião com a professora Weldon, afirmando que pretende conversar com ela para dissuadi-la da ideia de ter que sair da faculdade.

Na reunião (The Rewrite, 2014, 1:20”22’), Keith Michaels concorda com todos os pontos apresentados pela professora, em relação a todos seus erros cometidos no curto espaço de tempo que ficou na instituição: desde seu relacionamento com a aluna; seu desrespeito a um colega e à própria profissão de professor; escolha dos alunos como se fosse um catálogo, enfim, todos os equívocos apresentados. Mas, por outro lado, aponta como ele mudou. E é importante observar esse momento em que ele percebe como aprendeu a ensinar, e como isto ficou marcado em sua personalidade. Para ele fica mais presente o conceito de ensinar e como aprendeu a fazer isto e, consequentemente, a importância que isso teve em sua vida.

Weldon acaba por decidir não o processar, dando nova oportunidade, mas em troca pede para que ele analise um roteiro que ela escreveu, dando seus comentários a respeito do mesmo e como ela poderia vir a filma-lo. Michael volta às aulas, agora mais amadurecido e ainda mais envolvido com as atividades dos alunos.

Metodologias ativas de ensino

Com o intuito de apresentar alguns conceitos sobre metodologias ativas de ensino, este item pretende estabelecer uma relação entre seu uso como estratégia de ensino pelos docentes mais especificamente da área de comunicação, mesmo que estes o façam apenas de forma intuitiva, pelo fato de que o tipo de conhecimento que possuemm se aproxima da prática profissional no mercado publicitário ou de sua formação não acadêmica.

Uma das discussões mais presentes entre os professores, como foi observada nas entrevistas realizadas no processo do doutorado, é a forma como o aluno aprende ou deveria aprender:

Considerando que a forma tradicional de ensino aprendizagem, nesse momento em que basicamente tudo é mediado pela tecnologia, no qual a informação está disponível a qualquer momento, bastando para isso o acesso a smartphones, e que a competição com o entretenimento tem sido acirrada, a busca pela atenção dos alunos - que por sua vez fazem parte de uma geração conhecida como millenials, que tendem a não se concentrar em uma única atividade, ou seja, realizam diferentes tarefas ao mesmo tempo, até mesmo em sala de aula, o que por si só já é um desafio - torna a atividade de estabelecer troca de conhecimentos cada vez mais difícil. (FAVARO, 2018, p. 38)

Moran (29/12/2017) se refere aos métodos tradicionais, que privilegiam a transmissão de conhecimento e informações somente pelos professores, faziam sentido quando o acesso às informações era difícil. Com os meios digitais e tecnológicos, pode-se aprender em qualquer lugar e qualquer hora, e com pessoas com experiencias diversas, o que demonstra a complexidade do tema, pois ainda não conhecemos modelos que ajudem a aprender de forma tão flexível, como observa o autor.

A apendizagem significativa não acontece quando o aluno não consegue perceber uma relevância ou utilidade imediata ao que ele esta aprendendo, o conteúdo se perde, dificultando sua compreensão. De outra forma, quando se entende que o aluno é quem deve aprender, ou seja, ele deve ser o protagonista em sala de aula, por meio da prática, do como e do por que fazer, onde o professor aponta caminhos a serem seguidos, onde também há uma troca de conhecimento, de estímulo à pesquisa, à informação, essa forma de ensido têm mais significado ao aluno, e é o que se convencionou chamar de metodologias ativas.

A denominação originou com os numerosos movimentos de reforma escolar, na Europa e na América no início do século XX, como observa Aebli (1978, p. 17):

Sua diversidade era grande, mas todos reconheciam as insuficiências da didática tradicional e aspiravam a uma educação que levasse mais em conta a psicologia da criança. Costumavam-se reunir essas novas tendências pedagógicas sob o nome de pedagogia da “escola ativa”.

No Brasil, as metodologias ativas são decorrentes da Escola Nova, que também se encontra como Escola Ativa, ou Progressiva, movimentos que buscavam a renovação do ensino. Podemos citar como nomes que foram fundamentais na história pedagógica brasileira, como Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1960), entre outros.

Aebli (1978) apresenta J. Dewey como um dos pensadores e precursores da escola ativa, e observa em suas análises sobre a organização intelectual que a necessidade de pensar para executar algo além do pensamento é mais forte do que pensar apenas para pensar. O pensamento é visto sob um contexto de uma ação. O indivíduo é levado a reflexão quando, diante dele, surge uma dúvida ou alternativa. E complementa que, Dewey considerra que educar é ensinar a pensar de maneira reflexiva.

Ou seja, sugere que o educador deve desenvolver os conteúdos escolares à partir dos interesses dos alunos, e apresentalos em forma de problemas, ou algo que requer solução.

Moran (29/12/2017) observa que atualmente, as metodologias ativas são as grandes diretrizes que orientam os processos de ensino-aprendizagem, e são apresentadas através de abordagens e técnicas específicas e diferenciadas: “as metodologias ativas num mundo de ensino hibridos, blended, com muitas possíveis combinações”.

Nesse sentido, se faz necessário que docentes dominem estratégias e técnicas para que possam encontrar o momento para utiliza-las e para que possam ajudar os alunos a ir além de onde poderiam conseguir sozinhos.

Dentre as estratégias conhecidas, serão brevemente abordadas as seguintes:

Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL – problem based learning)

O professor elabora um problema ou situação que intencionem gerar duvidas, que seja desafiador, interessante para que os estudantes, através da capacidade de levantar hipóteses, comparação, análise e interpretação, resolvam com experiências concretas, com interações ativas, por fim, conforme observa Cyrino, Pereira-Toralles, (2004), que levem o aluno a uma aprendizagem significativa.

Aula Expositiva Dialogada

A estratégia tem como proposta, um planejamento prévio do tema e conceitos a serem trabalhados pelo professor, para que possa estimular o questionamento dos alunos, sem que se perca a condução das discussões. Conforme Anastasiou e Alves (2006, p. 79):

A aula expositiva dialogada é uma estratégia que vem sendo proposta para superar a tradicional palestra docente. Há grandes diferenças entre elas, sendo que a principal é a participação do estudante, que terá suas observações consideradas, analisadas, respeitadas, independentemente da procedência e da pertinência das mesmas, em relação ao assunto tratado. O clima de cordialidade, parceria, respeito e troca é essencial.

Aprendizagem Baseada em Projetos

A estratégia parte do pressuposto de que os alunos façam as escolhas dos temas a serem desenvolvidos em seus projetos, dentro da disciplina, ou que pelo menos eles estejam envolvidos na escolha, para que dessa forma, ele “(...) leve adiante a busca, na qual há de recolher, selecionar, ordenar, analisar e interpretar informação”. (HERNANDEZ, 1998, p. 89). O autor também sugere que os resultados sejam compartilhados com o grupo, para favorecer o conhecimento como um todo.

Ensino com Pesquisa

A prática desta estratégia altera os processos de ensino tradicionais, uma vez que leva o aluno a estrapolar o conteúdo programático da disciplina. Promove a prática do aprender a aprender, e valoriza principalmente os processos, e nao necessariamente os resultados. (LIMA, 2000).

Estudo de Caso

A característica dessa estratégia trabalha a construção de conhecimentos a partir da vivência e experiências significativas. Os conteúdos são oferecidos em sala de aula em forma de problemas, como um objeto de estudo, estando relacionado a situações práticas do mundo profissional. A partir do estudo de caso, o aluno é levado a discutir, analisar e apresentar soluções com o objetivo de contruir relações com conceitos que precisará assimilar. Conforme Peixoto (2016, p. 43) “Estudos de caso promovem a capacidade dos estudantes de aplicar a teoria que aprenderam em uma situação do mundo real”.

Aspectos relativos a Metodologias ativas de ensino e argumentos comparativos com o filme

Se faz importante observar que, embora não haja nenhuma citação direta no filme em relação a metodologia de ensino da Universidade de Binghamton, quando se busca informação em relação a mesma, é possível encontrar a seguinte descrição (BINGHMTON, 15/01/2021):

A Universidade de Binghamton tem seu próprio Centro de Aprendizado & Ensino, que trabalha para melhorar a maneira como os alunos são ensinados e para garantir que o ensino em toda a universidade seja centrado no aluno. Esta contínua melhoria significa que a qualidade do ensino é a do mais alto padrão.
Os Serviços de Design Instrucional trabalham com os docentes - de membros seniores a professores assistentes - para conduzir eventos, programas de treinamento e observar cursos, consultoria e busca por novas estratégias de ensino para programas específicos de graduação.

Conforme Favaro (2018), as metodologias de ensino que colocam o aluno como centro, protagonista de sua aprendizagem, são as metodologias ativas.

Dessa forma, é possível inferir que o filme se apoia em um tipo de metodologia ativa, para dar veracidade ao seu desenrolar, onde se observa que tem a presença do humor nas aulas, comunicação através de branded content, mesmo que seja de uma forma implícita e não explicita, embora as abordagens não sejam identificadas como fazendo parte de alguma metodologia de ensino.

Até um determinado momento do filme, a universidade é apenas um local que faz parte do roteiro e do set de filmagem, porém em seu desenvolvimento, nota-se a mensagem a ser compreendida por quem nela possa se interessar a estudar: ela tem qualidade de ensino e, o aluno, é a parte mais importante disto. (FAVARO, 2018)

Suas aulas seguem uma metodologia de aulas expositivas dialogadas, ao mesmo tempo em que ele dedica parte de seu tempo livre em atendimentos individuais para possíveis discussões dos trabalhos dos alunos e, como poderiam refletir sobre eles para melhora-los.

Pose-se considerar que, o roteiro dos alunos, é um projeto, o que pode ser visto como outra técnica que faz parte dos estudos dos tipos das metodologias ativas, que é a aprendizagem baseada em projetos, onde o objetivo está em preparar o aluno para que consiga solucionar questões relativas à sua realidade, o que pode levar a despertar a curiosidade e dar mais autonomia para que o próprio aluno resolva problemas.

A discussão do roteiro e o fato de cada aluno abordar algo de seu interesse, estabelecendo conexões entre sua experiência e o aprendizado, se relaciona com o conceito de aprendizagem com significado, onde o aluno relaciona uma nova ideia, com conhecimentos já presentes, em uma situação que seja importante para seu desenvolvimento.

Dessa forma, para os alunos se torna um elemento facilitador de aprendizagem, ao mesmo tempo em que permite uma melhor fixação do que foi ensinado.

A prática, onde o aluno se torna protagonista de seu próprio estudo, é fundamental em metodologias ativas. Através dela, que o aprendizado se dá, conforme aponta Siberman, apud Barbosa; Moura (2013, pg. 54), em uma adaptação do que foi dito por Confúncio:

- O que eu ouço, eu esqueço;
- O que eu ouço e vejo, eu me lembro;
- O que eu ouço, vejo e pergunto ou discuto, eu começo a compreender;
- O que eu ouço, vejo, discuto e faço, eu aprendo desenvolvendo conhecimento e habilidade;
- O que eu ensino para alguém, eu domino com maestria.

Fica claro, então, que através das metodologias ativas, o professor é praticamente um tutor, um condutor do que deve ser produzido, do que será elaborado e finalizado pelos alunos, para que eles possam ter a compreensão do problema a ser resolvido, testem e apresentem uma solução. Além disto, o professor participa de um desenvolvimento mais amplo de seus alunos, em outros aspectos que não só o acadêmico.

Como exemplo, pode-se observar, num comparativo com o filme citado, a forma como o protagonista Keith Michaels, encontra para resolver seu dilema, é o mesmo que boa parte dos professores do ensino superior mais especificamente na área da Comunicação, que possuem prática mercadológica como atividade principal, busca fazer quando começam a dar aulas: ensinar o que sabe fazer, sem saber como fazer para ensinar. Isto acaba levando quase que de uma forma instintiva ao fazer na prática. Em pesquisa para o desenvolvimento do meu doutorado, foi possivel verificar atraves de entrevistas, que, os professores acabam por se utilizar de metodologias ativas sem que saibam que estão fazendo uso delas, e na maioria das vezes, as técnicas estão relacionadas a aulas expositivas dialogadas, aprendizado baseado em problemas ou, aprendizagem baseada em projetos. Voltando à comparação com o filme em questão, embora o personagem Keith Michaels ainda não saiba, ele está aprendendo a ensinar para ensinar a aprender, tendo os alunos como protagonistas de suas atividades. O ser professor está se apropriando dele.

Metodologias ativas e sua relação com o ensino na área da comunicação

No iníciodos anos 1990, quando ainda era pequeno o número de instituições de ensino superior na área de Publicidade e Propaganda no Brasil, cabia às agências de publicidade preparar seus próprios funcionários, eram as chamadas ‘Agencias escolas’, que ensinavam em um processo muito semelhante às metodologias ativas de ensino, pois considerando que os professores tinham a prática do mercado publicitário e traziam essa experiência, de alguma forma, para a sala de aula, o conhecimento era aprendido por meio da observação e da prática, sob a orientação de um tutor que já detinha maior conhecimento.

Essa “forma de ensinar” foi levada originalmente para a sala de aula e os professores, mesmo sem terem conhecimento didático ou de metodologias de ensino, na maioria das vezes conseguiam com que seus alunos aprendessem aquilo que deveriam saber. (FAVARO, 2018, p. 46).

Não se discute se a didática era adequada ou não, porém, o que se observa é quanto ao conteúdo que era oferecido, e a forma como isso ocorria.

Há um a certa dificuldade para que os professores dominem o devido conteúdo ou que conheçam o projeto político pedagógico, ou mesmo que tenham uma didática de ensino, quando assumem pela primeira vez uma sala de aula, Como observam Pimenta e Almeida (2011, p. 26):

[...] o que se constata então é que o professor universitário não tem uma formação voltada para os processos de ensino e aprendizagem, pelos quais é responsável quando inicia sua vida acadêmica.
[...]
Assim, predomina dentre os professores universitários brasileiros um despreparo e até um desconhecimento científico do que seja o processo de ensino e de aprendizagem, pelo qual serão responsáveis a partir do instante em que ingressarem no departamento e na sala de aula.

Ibernon (2012, pg.49), esclarece que, ja ha algum tempo, foi introduzida às salas de aulas universitárias, uma metodologia mais ativa, mais interativa, onde são priorizadas as comunicações com troca de conhecimento, para que os alunos possam construir sua própria aprendizagem, através da apendizagem dos colegas: “O envolvimento entre os membros de um grupo na classe universitária surge como um bom complemento da atividade unicamente expositiva”.

Fica claro, então, que através das metodologias ativas, o professor é praticamente um tutor, um condutor do que deve ser produzido, do que será elaborado e finalizado pelos alunos, para que eles possam ter a compreensão do problema a ser resolvido. Para além disto, o professor participa de um desenvolvimento mais amplo de seus alunos, em outros aspectos que não só o acadêmico.

Para finalizar o tópico, tomamos as palavras de Imbernón (2012, p. 8): “Ser professor ou professora pode ser fácil, mas é muito difícil ser um bom professor ou uma boa professora.”

Conclusão

Como aspectos conclusivos, foi possível verificar como o filme The Rewrite consegue abordar de uma forma leve, porém, contundente, situações de um professor ingressante, suas razões para dar aulas, suas dificuldades para que estas se concretizem e se tornem interessantes a ponto de atrair a atenção de diferentes personalidades presentes na sala de aula e, conhecer as diferenças de cada um, suas dificuldades, peculiaridades, tudo isto em meio a descoberta de uma nova realidade institucional, suas regras, suas políticas e o relacionamento interpessoal, principalmente considerando as diferenças entre os dois ambientes abordados: o do cinema, da comunicação, com seu glamour, festas, um certo deboche, com suas vantagens e privilégios e competitividade, e por outro lado, o acadêmico, com suas regras, hierarquias, codigos de conduta, e que busca valorizar o conhecimento e o possível crescimento do outro.

É interessante ressaltar também como as metodologias ativas são enaltecidas, mesmo que indiretamente, como técnicas presentes para que os objetivos acadêmicos sejam alcançados. Como as aulas podem ser mais interessantes, atrativas, que deem significado aos alunos e os façam seguir adiante, cada um com sua competência, conhecimento, capacidade. Cabe ao professor cumprir seu papel, que é o de buscar conhecer, entender e valorizar seu potencial.

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