Capítulo I – Cinema – Arte

PJ Allsteam and the transcultural creative process

PJ Allsteam e o processo de transculturalização criativa

Fernanda Nardy Bellicieri

Universidade Presbiteriana Mackenzie, Brasil

Andrea Modugno

La Caravella - Divulgazione di Cultura italiana, Itália

Massimo Pini

La Caravella - Divulgazione di Cultura italiana, Itália

Claudio Garofalo

La Caravella - Divulgazione di Cultura italiana, Itália

Hania Cecília Pilan

Instituto Federal de São Paulo, Brasil

Abstract

This text aims to describe the process of transculturalization of the character PJ Allsteam. An independent authorial project, auto-biographical, originated in literature (the book od chronicles “Contos de F…”), later moving to web platform and which is currently in the process of transculturalization, towards the rescue of the italic roots of character and author. A project in constant symbiosis, mixing elements of fiction and reality. In this cross-cultural stage, PJ counts on the collaboration of other artists and gains traces of comics, a language that is extremely appropriate to her ironic voice and comedy covered with criticism. Still, because it is universal, a language quite adequate to her glocal path.

Keywords: Transculturalization, Character Personagem, Italicità, Comics, Authorship

Introdução

Todo personagem conta uma história… Não apenas a própria, mas as de seus autores; em entrelinhas carregadas de subtextos das experiências compartilhadas por ambos e transcritas processos criativos. Personagens são, em maior ou menor grau, instâncias transicionais do autor em resgate aos seus domínios (intelectuais, cognitivos, sensoriais, culturais, espirituais). Um modo de experimentar a alteridade contaminada de si mesmo e, por isso, tão empática: autores amam seus personagens, ou amam-se em seus personagens, ou amam o que de si odeiam, em seus personagens…

Esse exercício de exercer-se a si mesmo em um outro, para além de ditatorial ou narcísico, pode ser visto como tentativa (nobre) de real compaixão: por si, e as entrelinhas mal elaboradas que a vida, essa e outra vez, inscreve como percalço e servem como semente narrativa, frutificando-se linguagem, expressão e arte; e pelo outro e seus discursos terceiros que tantas vezes não se alcança, mas se pode, na virtude vicária da arte, tangenciar. Personagem é múltipla persona: intersecção entre o autor, os outros, os outros no autor e o autor de outros. Com o personagem pretende-se: entender e entender-se.

Nesse sentido, nos trajetos de trejeitos autorais de uma atriz-escritora contaminada dos outros em si, e refletindo-se neles, nasce Pussy Jane Allsteam: uma mistura de Jane Austen com uma pussy qualquer… Espécie de alterego de Fernanda Bellicieri, incitado por questões reflexivas, inerentes a autores, artistas e outros críticos da existência, sempre cortantes, rentes ao ato (falho) do mundo contemporâneo em suas superficialidades e vicissitudes de consumo. Uma personagem que, de um colateral constante, em posição e efeitos, tendo como substrato a personalidade da autora, arrenda-lhe aspectos nucleares, quase que por transmissão de carga genética; e devolve-lhe, em um intercambiamento de percepções, visões de mundo que essa mesma autora, que reclama direito sobre a personagem, jamais teria por si só…

Mais de dez anos de existência compartilhada, entre filosofias e fisiologias, dos quais, um capítulo, foi trazido a Avanca 2015 no texto “Construção de personagem para formato audiovisual seriado: uma experiência autoral”; que tratava da criação da personagem com base em diferentes parâmetros midiáticos de concretização do sujeito ficcional (os palcos: teatro, TV, web, performance) e suas diferentes premissas, para se chegar à lógica do formato seriado em plataforma digital. O tema foi desenvolvido e fez parte da Tese doutoral de Fernanda Bellicieri: “A experiência do corpo texto: um aceno à construção da cena no corpo e à reinvenção do corpo em cena”.

Anos depois, a comunicação proposta para Avanca 2021, diz respeito à continuidade do trabalho com Pussy Jane Allsteam e à ampliação de seu universo ficcional, sempre às vistas com as transformações da autora e seus contextos de inserção e atuação; especificamente, nesse caso, a transculturalização da personagem com base no sublinhar autoral da identidade itálica a partir do trabalho colaborativo com outros artistas.

Pussy Jane Allsteam: uma mulher objeto feminista

Pussy Jane nasce personagem literário, em 2011, com o livro de crônicas “Contos de F…”, uma coletânea de aventuras e desventuras da heroína, sempre explicitamente e auto-declaradamente entrelaçadas às questões da autora. Os textos são camadas de sobreposição que, ora relevam autora, ora transparecem personagem, conectando-as pelo compartilhamento das experiências físico-sensoriais e cognitivas: é desse arcabouço fisiologicamente condicionado que se extraem as figuras ficcionadas pelo real, ou concretiza-se, o real, a partir da ficção. Ao longo dos anos, personagem e autora dividem os mesmos argumentos em um relação que já alinhava uma dupla ficção como única realidade. O tempo de exposição ao personagem (Bellicieri, 2016), quanto mais longo, condiciona-os, autor e criatura, a uma relação mediada por um construto de percepção compartilhada que se faz guia à materialização da criatividade em linguagem. Quanto maiores os pontos de intersecção e contato, mais amplo pode se dar o uso das linguagens.

Pussy inicia como texto (o livro de crônicas) e, por influência vocacional da autora (atriz), encaminha-se à cena. O fato da matriz inicial de trabalho ter sido o verbo, contribuiu para a consolidação dos corpos, físico e simbólico da personagem, uma vez que a palavra, em suas infinitas sugestões associativas, permite entrincheirar-se por sutilezas do espírito do autor e dele extrair movimentos sensoriais ligados à memória e memórias (suas e não) capazes de transcender a própria experiência e, por conseguinte, transpo-la a uma sua personificação enquanto alteridade. E é nesse ponto que o autor perde (ou deve perder) o controle: quando disponibiliza suas experiências a esse outro derivado de si, que as toma como de seu próprio traço genético. Esse jogo de triangulações é tão mais rico quanto esse autor fizer-se disponível a deixar-se revelar e transbordar-se, transformando-se.

Assim, o que era drama de uma Fernanda amargurada ou raivosa, reflexiva ou entediada, transformava-se em verbo-riso ou pranto, de uma Pussy Jane muito mais irônica e crítica de seus fantasmas (e dos monstros de sua autora).

Uma vez literatura, Pussy Jane, embriagada pela natureza performática da autora, sente necessidade de expandir-se para além do código verbal. À época, 2015, a solução foi a inauguração de uma plataforma digital (site) e um canal no Youtube, atualmente ativos; tendo passado, ao longo dos anos, por algumas mudanças, em função do surgimento de novas plataformas e ferramentas digitais.

Na página inicial do site, linkados ao Youtube, uma série de monólogos curtos, com duração entre 5 e 7 minutos, sempre trazendo Pussy, interpretada pela autora, ao telefone com algum outro personagem que nunca corporificado por imagem ou outro índice, a quem pode-se vislumbrar através das reações e incursões de uma Pussy sempre verborrágica. Os monólogos exploram de modo mais superficial e cômico-irônico, algumas temáticas tratadas reflexivamente e em tom crítico no livro “Contos de F”. No total, até 2021, foram produzidos 50 episódios ficcionais, divididos em 6 temporadas. Todo processo, totalmente independente e de caráter autoral, foi realizado pela autora (dos storylines, desenvolvimento dos roteiros, gravação, edição, contatos para permuta de figurino e outros itens quando necessário).

Essa relação entre autor e personagem, em cena, trazem um aspecto muito interessante e rico às escritas, física e verbal. Nessa trincheira de embate autor-personagem em um só corpo interoperacional entre ficção e realidade, as associações, subtextos e as próprias gêneses (autor-personagem), tornam-se amplamente acessíveis e condicionadas a um tempo de ação-criação mais reflexo, possibilitando encarnar uma escrita ativa, e repleta de argumentos. Surge então a necessidade de retornar ao texto das sutilezas, mais aprofundado (as crônicas), como forma de aproveitar os insights e ideias que, com o monólogo em vídeo, pelos poucos recursos, seriam inviabilizadas.

Assim, foi introduzida, no site, uma sessão dedicada a crônicas, a linguagem de concepção da personagem. Nas crônicas foi possível retomar alguns temas com maior profundidade e enfatizar uma característica de Pussy Jane, já evidenciada nos monólogos audiovisuais e no livro: a verborragia interior evidenciada em longos períodos de solilóquios, entrecortados por ações da personagem e outros interventores. Ainda, explora-se a possibilidade de relação factual com outros personagens que, nos monólogos audiovisuais, estão apenas sugeridos pelo contato telefônico. O código verbal, nesse sentido, enriquece e complementa o universo da personagem.

Tanto os episódios como as crônicas, não se relacionam cronológica, temática ou hierarquicamente; estruturam-se como compêndio das camadas diversas da personagem: de sua conversa superficial ao telefone com um suposto chefe megalomaníaco, passando pela consulta com o psiquiatra por que nutre um amor platônico, chegando aos encontros frustrados com o que parece ser sempre o mesmo rapaz nada ideal… Ações e associações atemporais conduzem Pussy a sua história interna-externa e, em se considerando sua gênese de intencionalidade compartilhada com a autora, endossa, dessa última, também a vida real: somatório-cumulativa e algoritmicamente dramático-existencial.

Essa é a leitura que se quer de Pussy Jane: hipermidiática e inconclusiva, uma “never ending story”, capaz de acompanhar leitores, seguidores e a autora ao longo de seus percursos, anos, e décadas, em diferentes contextos. Uma personagem que se quer sempre atual e autoral, tendo como função a discussão de temas contemporâneos caros; sobretudo no que diz respeito ao universo e posicionamento femininos, sob a perspectiva dialógica do contraponto, do levar em conta o si e o outro, autor e personagem(s).

Cabe ressaltar que esse mosaico só pode ser dado como narrativa, a partir do advento da linguagem digital, que não meramente audiovisual (no caso dos monólogos em vídeo), nem apenas verbo-textuais (no caso das crônicas da plataforma ou mesmo do livro). A linguagem digital permite que complemente-se todas as facetas e se construa um painel da personagem, que jamais seria possível com apenas uma série, ou apenas o livro, ou filme. O aprofundamento na lógica da personagem, sua construção algorítmica e, portanto, as possibilidades de expansão da narrativa, são dados apenas a partir da integração entre códigos, em ambiente digital.

A exploração da característica enciclopédica do meio amplia as esferas de discussão de determinado argumento quando, por exemplo, insere-se o link de um local citado no texto, ou do site da banca de rock’n roll favorita da personagem na descrição do vídeo no Youtube, ou na hashtag de uma postagem no Instagram. A operação com texto, vídeo, áudio, desenho, sejam esses nativos (links operando internamente no site) da plataforma de Pussy Jane ou não, criam uma rede de colaboração narrativa que opera a partir do interesse específico do usuário/leitor/interator, desse internauta multicodicial. Ainda, a possibilidade de navegação constante tornam o espaço da narrativa muito mais amplo e contaminado de contextos outros, fora do controle do autor. Exercer autoria em tempos de rede é, em parte, perder o controle sobre o personagem e, exatamente por isso, essa persona ficcional deve estar absolutamente consolidada: para atualizar-se enquanto algoritmo narrativo, espontaneamente, em função de quem a consome enquanto conteúdo.

A somatória desses diversos fatores interacionais entre linguagens constitui os personagens multiplataformas, transeuntes, assim como Pussy Jane Allsteam; possibilitando, no contexto atual, dez anos após sua criação concretizada livro, que ela se reinvente, amplie e expanda discursos; ao mesmo passo em que se consolida enquanto persona, derivada e intrínseca à autora, mas também autônoma.

Cabe ressaltar o que se intenta definir por consolidação ou amadurecimento de personagem: no contexto proposto, consolidação e exploração midiática, são realidades que, ainda que não excludentes, não necessariamente coexistem. Com amadurecimento de personagem busca-se apontar à evolução de sua lógica narrativa, a ponto de fazê-lo autor das próprias histórias (ainda que sob a pena de um autor), entalhado de uma gênese tão consolidada que, não se torna possível introjeta-lo de aspectos e respostas que não convenham ao seu desenrolar narrativo e sua construção interior. E isso deve ocorrer a despeito da necessidade ou vontade do autor em direção à necessidade de exploração midiática. Amadurecimento, aqui, refere-se ao momento em que autor e personagem, um mesmo, descolam-se, à distância cabível a que continuem unos, mas pertencentes a suas próprias linhas de destino. Autor e personagem cicatrizam-se em um só corpo criativo, em permanente mutação.

Tal amadurecimento não diz respeito à exploração midiática digital, como fim por si só e; muitas vezes, opera em lado diametralmente oposto. A exploração midiática, sobretudo impulsionada pela aceleração dos novos meios, pode direcionar a personagem a trajetórias não inerentes a si. Talvez apenas oportunas ao autor por questões extrínsecas à criação; ou ainda, conduzir a um preterir de qualidade de conteúdo por quantidade, ou à tentativa de alinhamento com questões que não orbitem no espectro nuclear temático do personagem.Tal fórmula prevê-se desastrosa por operar no sentido da descaracterização.

Assim, pode-se dizer que o ideal, em termos de construção autoral de personagens, considerando-se o contexto contemporâneo da comunicação, no caso experimental de autor-ator-personagem aqui proposto, pode ser dado mediante concomitante construção de personagem e plataformas, em redes de interação que promovam contato direto com o público, operando a construção de uma narrativa online, partindo-se do algoritmo prévio e bem consolidado do personagem; para, a partir daí, ampliar-se conteúdo em redes cabíveis e melhor adaptáveis às necessidades criativas especificas.

É nessa fase que se encontra Pussy Jane: descobrir os meios de apoio e redes que lhe serão mais convenientes ao propósitos primeiro de exercer senso crítico, sob uma perspectiva irônico-satírica, sempre com muito senso de liberdade autoral.

Assim, em 2020, acrescentou-se uma nova sessão à plataforma Pussy Jane Allsteam, o Blog “Allsteam: a tutto Vapore”, ancorando a italicità da personagem, com intuito de explorar outros aspectos narrativos envolvendo suas raízes itálicas, compartilhadas com a autora. Um aspecto da gênese de Pussy enfatizado no livro “Contos de F…”, mas ainda pouco trabalhado nos monólogos e crônicas até então.

“Allsteam: a tutto vapore” é o blog assinado pela autora, em primeira pessoa, e se divide em duas sessões: “A Pussy que a pariu” e “A Tutto Vapore”. A primeira, dedicada a reflexões sobre intencionalidade e processos criativos; uma espécie de bastidores e diário de bordo. A segunda, “A Tutto Vapore”, é o espaço para a autora fazer suas próprias incursões no universo não ficcional, pautada sempre por temas e motivações que a levam a Pussy Jane (seu espírito crítico assumido ficção). Posts em diferentes linguagens (áudio, vídeo, texto), trazendo parceiros, artistas, colaboradores e interesses do universo Allsteam de Fernanda. Esse vínculo com o contexto atual real (não ficcional), pautado em players não-personagens (parceiros, empresas e marcas), abre espaço à exploração das redes sociais, algo até então também pouco explorado. E em contexto oportuno, uma vez que as redes e as relações interculturais, sublinhadas, estreitaram diálogos, encurtando distâncias. Sobretudo no último ano, quando acometeu-se, em nível global, de uma nova realidade phygital nunca antes experimentada, em função da pauta pandêmica. Esse contexto não só impulsiona autores-personagens impelidos por pautas reflexivas, mas ancora a possibilidade de atravessar culturas, confronta-las, coexisti-las, reencarna-las, em um processo incessantemente transformador, a autor e/ou personagem.

Então, embalando-se na reconquista da italicità de Pussy Jane, em um contexto em que o próprio esgotamento do processo de globalização sugere a necessidade de assunção identitária por parte dos autores, de suas histórias (factíveis, ficcionais ou reais; e ainda phygitais), “A Tutto Vapore” sinaliza uma fase de Pussy Jane em processo de transculturalização e colaboração com outros artistas parceiros. Um trajeto que se inicia a partir de uma questão pessoal da autora, motivada, talvez, pelo enlace global de angustiante pauta única a que o mundo submeteu-se no último ano; e engajada a um senso de pertencimento e retorno às origens, opondo-se à liquefação das ontologias dos sujeitos e suas histórias… Um trajeto que se trava, no início, sob a pena do autor, mas inevitavelmente culmina, na voz da personagem, que “a tutto vapore”, também parla l’italiano.

Da Poggiomarino

Pussy Jane Allsteam, uma ítalo-brasileira na faixa dos quarenta anos, de nome dolarizado, complexo de Barbie, tendência a barbitúricos, mulher objeto-feminista, subproduto da indústria cultural, mas paradoxalmente reflexiva e filosófica, frustrada com a profissão medíocre de publicitária e eterna aspirante a escritora, decide viajar à Italia de Nonna Tormenta, em Poggiomarino (Nápoli) e, aproveitando reviravoltas transatlânticas globais, tentar nova vida. Qual? Só o algoritmo autor-personagem responderá.

Inicia-se em 2020, a ideia de trabalhar a faceta itálica de Pussy, sob influência das pesquisas realizadas pela autora sobre interculturalidade e italicità em perspectiva glocal, tendo como principal referência o Instituto Globus et Locus e o autor Piero Bassetti:

Tutti sappiamo chi sono e quanti sono oggi gli italiani: le X persone con passaporto italiano in Italia a cui si aggiungono le Y all’estero. Ma gli italici? Per contarli bisogna definirli. Provammo a farlo. Non fu facile. Alla fine ci trovammo concordi sulla definizione, ormai ripresa e acquista, secondo cui: si ha italicità quando da cultura di un individuo di origine o phília italiana incontrandosi con una cultura locale da essa diversa e distinta, con questa si ibrida, così che la persona coinvolta in questo processo risulterà in possesso di elementi culturali prodotti dalla sintesi dell’intera gamma delle sue ibridazioni. Questa base - intrisa di italianità peninsulare, ma da essa diversa, perché integrata con le molte culture incontrate - è appunto l’italicità, qualcosa la cui forza di attrazione è sufficiente per accomunarne i possessori attorno a un parziale ma analogo sistema di valori, costumi, interessi. (BASSETTI,2015, 47-48) 1

Cabe ressaltar, a importância da pesquisa na constituição das temáticas elencadas para essa fase transcultural da personagem. Aqui, trata-se explicitamente de um cruzamento de questões entre a autora (pesquisadora) e o modo como a personagem (agora não mais somente sob rédeas criativas da autora) lida com as questões trazidas como pauta. Nessa fenda se faz possível a reflexão do autor, sua transformação e a constituição e também transformação, da personagem. A produção de viés itálico teve inicio na sessão Crônicas na plataforma Pussy Jane Allsteam. Até o período de escrita do presente texto, um total de quatro histórias, todas ambientadas na Itália (nas cidades de Firenze, Roma e Verona), com descrição detalhada de locais, links dos monumentos citados; intentando construir pontes entre a realidade local e a perspectiva de personagem e autora, ítalo-brasileiras. Glocais.

per favorire l’aggregazione degli italici, la sfida è combinare la novità della condizione italica - abitare un mondo glocale - con la parallela novità dei linguaggi stessi: questi ultimi dovrebbero essere i più adatti a incarnare le necessità comunicative di un mondo fluido e i più attrezzati per percorrere le nuove autostrade della comunicazione globale. Bassetti (2015, 67) 2

As crônicas foram escritas em português e possuem, em muitos casos, trechos cujas expressões idiomáticas e ironias propostas atendem apenas ao público brasileiro, ou ainda, italo-brasileiro, conhecedor de ambas a culturas e inserido no âmbito de determinadas tradições consolidadas. Muitos trocadilhos e ambiguidades (característicos do discurso da personagem) são funcionais apenas a esse público, apesar dos temas tratados pela personagem serem contemporâneos e, considerando-se os contextos no sentido discutido anteriormente, universais.

A crônica “Going Rome” é ambientada em Roma e narra um trajeto da personagem pela via Nazionale, uma das principais passarelas do centro da cidade. Pussy inicia uma grande elucubração sobre relacionamentos quando, tomando por base sua própria história de fracassos amorosos, depara-se com um casal, típico representante do modelo paradigmático “homem cafajeste e sua pobre namorada”. Os solilóquios de Pussy são entrecortados por referências aos casais de sua própria árvore genealógica e, portanto, um resgate também a sua italicità.

As crônicas “Zefirelli, San Zeno e o vestido Capodanno - na Arena de Verona, em 2 atos - Partes I e II”, são ambientadas em Verona, no contexto dos preparativos para a virada do ano; quando Pussy empenha-se, passando por uma série de percalços, em conseguir os euros necessários a garantir seu lugar em uma festa à altura de suas ambiciosas intenções supersticiosas, previamente traduzidas na compra de um belo vestido que, subitamente, fez falir suas finanças. Em diálogo, referências com a Arena, a Casa de Julieta, via Mazzini, e outros fenômenos sócio-políticos como a imigração e a compra de empresas tradicionalmente italianas por empreendedores chineses.

A crônica “Bruneleschi e a Cúpula do trovão” conta uma Florença, como sempre, sob o olhar dramático-catastrófico de uma Pussy Jane às voltas com suas incursões em relacionamentos amorosos fadados ao fracasso. Narrando, concomitantemente, e em analogias dantescas, sua epopéia rumo ao cume da cúpula de Bruneleschi,.

Outras crônicas com temática itálica estão em desenvolvimento. Todas operando com base em duas Itálias: a concreta, manifesta nas referências geográficas, artísticas, monumentos e costumes; e uma outra, que a personagem traz de suas próprias raízes. Ambas territorializadas no construto revelado pela intersecção autor-personagem.

As crônicas foram escritas no próprio país (Itália), durante viagens realizadas pela autora, aproveitando-se desse repositório de incidentes compartilhados entre si e a personagem. Experiências capazes de, por exemplo, friccionar o passeio na Via Nazionale (da autora) e seu mais recente drama amoroso, à lógica irônica da personagem e seus fantasmas, muitos desses emprestados (novamente) da autora, em um ciclo constante de intercambiamento entre ficção e realidade. Ou melhor definindo: intercambiamento entre realidades.

Em continuidade ao desenvolvimento da faceta itálica da personagem, foram escritos e produzidos pela autora, 3 roteiros (monólogos) para a websérie. A língua eleita, dessa vez, foi o italiano, pela possibilidade de ampliação de público e contatos; e sobretudo por necessidade de sublinhar a italianidade como pressuposto identitário.

As temáticas elencadas derivaram de pesquisa sobre as principais pautas geradas no período entre março e abril de 2020. Foram selecionados os seguintes veículos italianos para análise: RAI Play (Rai News 24, Rai uno, Leonardo, Medicina 33), Canela Itália (programas Notizie Oggie e Linea sera), Radio Radio, money.it, Il vaso di pandora, Finanza in chiaro e Motore Italia. Dentre as temáticas elencadas para discussão: a pademia e o lock down na Itália, a política da UE, o Recovery Fund, Economia Humanística e o lançamento do app Immune.

No episódio “La quarentenne in quarantena”, Pussy, em visita a Nonna Tormenta em Poggiomarino, telefona para a mãe que está no Brasil, e conta como está a situação Covid-19 na Itália. Alguns assuntos como o preço exacerbado da máscara de proteção, o confinamento, a política de Trump em relação à pandemia, a incerteza sobre o cenário que, à época, estava sendo posto e a crítica a China, aparecem delineados de modo irônico e, como é característico da personagem, sempre ambíguo. O episódio entrou para uma mostra virtual cuja temática era o impacto Covid, promovido pelo Fabrica Center (instituto de arte da cidade de Treviso).

O episódio “Immune” dá continuidade à questão pandêmica mas, dessa vez, ridicularizando o uso do app de rastreamento Covid-19, “Immune” que, quando de seu anúncio, gerou especulação e polêmica, contrapondo aqueles que tratavam Covid como produto complotista de um cenário premeditado apocalíptico, e aqueles que defendiam essencialmente a adoção de um modelo biomédico de política pública sanitária. Tais perfis, um ano após a início da pandemia, persistem colaterais em confronto, embora já diluídos em suas motivações iniciais; conforme pode-se contatar nos mesmos veículos adotados para pesquisa de pauta inicial. Sobre o episódio, foi produzido um texto (em português), alocado na sessão do blog “ A Pussy que a pariu”: “ Or well or hell, George Orwell “ trata do tema da vigilância, mas tendo como objeto de discurso o app Well, desenvolvido nos Estados Unidos, com a mesma funcionalidade do app “Immune”. Aqui a perspectiva é sobre o tema é da autora.

No episódio “La mucca pazza”, Pussy recebe a ligação de uma entidade sem fins lucrativos que trata de pacientes com a doença da vaca louca; mas, uma vez fazendo uso de seu italiano de vocabulário incipiente, Pussy distorce completamente a informação. Tal mal entendido é argumento para que, sutilmente, sejam exploradas questões como a recuperação econômica da UE, a postura ativista da mulher em âmbito político, o imperialismo e, novamente, o cenário Covid-19.

Tal cruzamento entre pautas cotidianas, pesquisa de assuntos locais e glocais itálicos, ficção e realidade, crítica e reflexão, inserção e observação, trouxeram à personagem e autora novas possibilidades de sobreposições narrativas e, inclusive, atores outros em um cenário de autoria colaborativa.

Pussy Genesis e parcerias itálicas

Em meio a um cenário de intensificação da comunicação global, Pussy encontrou parceiros que contribuíram para seu resgate identitário ligado à descendência italiana, aprimorando-lhe a narrativa a partir da geração de novos conteúdos, em um processo de experimentação de autoria compartilhada.

Em um cruzamento, impossível de precisar geograficamente: talvez entre a Cúpula de Bruneleschi e a Julieta de Zefirelli; ou nas entrelinhas dos telefonemas a Nonna Tormenta da Poggiomarino; ou ainda, em meio a Roma incendiária de Nero, a autora, levando Pussy na bagagem, chega a Buon Giorno San Paolo, um podcast criado por dois italianos, Alessandro Gaini e Claudio Garófalo, cujo objetivo é representar e divulgar a cultura italiana, também glocalmente e em endereço incerto, entre o Brasil e a Itália, qualquer espaço-tempo em que resida a italicità.

Os cerca de três meses como colaboradora, participando das reuniões de pauta, extremamente ricos de discussões, serviram como base para direcionamentos acerca de novos rumos da personagem. De experiência com Buon Giorno San Paolo surge a ideia de expansão de conteúdo com a criação de uma nova sessão na plataforma: o podcast Pussycast, que inicialmente consistirá na gravação e edição dos áudios, nos idiomas italiano e português, das crônicas já presentes no site, com as adaptações idiomáticas necessárias. O podcast será iniciado em Setembro de 2021 e tem o intuito de difundir a sessão crônicas e promover o livro que, em versão pdf, é disponibilizado gratuitamente na plataforma.

Derivado desse encontro entre autora, Pussy e Buon Giorno San Paolo, surge outra ideia, capitaneada por Claudio Garofalo, um dos speakers do podcast ítalo-brasilero e fundador de La Caravella - Divulgazione di Cultura italiana. Cláudio, napolitano que vive no Brasil e trabalha diretamente com cultura e língua italianas é multitask: arquiteto, artista, design e escritor, operando na intersecção entre diferentes linguagens e línguas, visualiza em Pussy Jane a oportunidade da ampliação para o HQ (fumetto). Inicia então uma gênese para reconstruir a ancestralidade da personagem e inseri-la na macro-história do imigrante italiano; reconduzindo-a, uma Pussy Jane Allsteam nipote di Nonna Tormenta e Nonno Michelle da Poggiomarino, a sua micro-história contemporânea e dando direção a uma nova linha narrativa, glocal e transcultural. Inicialmente operando as novas temáticas em âmbito de pesquisa, criação e produção de conteúdo colaborativo para, consequentemente, ampliação de público.

E, na tentativa de traduzir para traço o que Pussy representa em suas entrelinhas narrativas, inclusive o aspecto interseccional explícito com a autora, Cláudio elenca, para caracteriza-las, um foco pouco explorado na plataforma, mas parte constituinte do universo Pussy em simbiose com sua criadora: a prática do Pole Sport. Massivamente conhecido como Pole Dance.

Assim nasce uma nova Pussy Genesis de PJ Allsteam, por Claudio Garófalo, que descobre a fixação de Pussy pelo Pole e a liberdade acrobática que a torna quase heroína, advinda de sua memória genética e da história de seus ancestrais. Essa gênese da macrohistória da personagem pode ser lida e metaforizada como a própria motivação feminina contemporânea do apoderar-se de si; ainda que trazendo nesse pacote auto-indulgente, todas as aventuras e desventuras de tornar-se quem se é (aludindo aqui, não por acaso, mas pelo caráter filosófico farsesco de Pussy, a Nietzsche.

Modugno e Pini
Figura 1: PJ Allsteam

Claudio ancora a ancestralidade da personagem enquanto elemento universal, para recontar o trajeto do feminino:

Se Fernanda, la VIAGGIAUTRICE mamma di PJ è italo brasiliana e atleta di Pole Dance, perchè PJ “não pode”? PJ, soprattutto, non può rinunciare... Lei non ha mai capito il motivo di quell’attrazione verso il palo. Forse perchè in amore, di pali, ne ha presi tanti e adesso, per vendetta, vuole imparare a gestirli. O forse il motivo trascende la stessa PJ ed è da ricercare el suo DNA, nella sua storia. Impariamo la sua, per capire la nostra! Si sente sempre parlare dell’Italia associata all’impero romano. Ma possibile che “prima” non esistesse niente, su questa penisola, che valga la pena di essere menzionato? Facciamo un salto indietro di, diciamo, 40 mila anni. Dei romani, ovviamente, nessuna traccia. Anzi... dell’uomo stesso, nessuna traccia... o quasi! Cominciamo con il dire che il sapiens, il nostro cuginetto, era ancora relagato in Africa e in Italia, come del resto in tutt’Europa (usiamo il termine per facilità di comprensione), “regnava” il Neanderthal. Ma non per molto... Infatti, secondo alcuni ricercatori, la scomparsa del Neanderthal si fa risalire intorno al 40 mila a.C. e si deve ad un’immensa esplosione – la più grande degli ultimi 200 mila anni - avvenuta... nella zona di Napoli! Niente a che fare con il Vesuvio, che a quell’epoca era già vecchiotto e che si è formato 400 mila anni fa. Quindi, se stai pensando a quel che sto pensando io, per far danni di Pompeiana memoria si dovrà aspettare ancora fino al 79 d.C. L’esplosione, responsabile dell’estinzione del Neanderthal, sarebbe avvenuta nella zona corrispondente agli attuali “Campi Flegrei” e, a seguito di questa, un’enorme nube di ceneri, avrebbe portato per anni temperature rigidissime, oscurità e piogge acide dall’Europa, fino in Asia. Probabilmente un “colpo di grazia” per il povero Neanderthal (e non solo per lui) che, quindi, si sarebbe estinto 10 mila anni prima rispetto a quel che si pensava. E prima del Neanderthal?... il primato (e non il primata) va al Molise. Infatti, nei pressi di Isernia è stato ritrovato... un dente da latte – l’incisivo - di un bimbo vissuto... 600 mila anni fa. Questo bimbo sarebbe, quindi, il “nonno” del Neanderthal e il suo dentino, perso dalla fatina primitiva, diventa anche uno dei reperti più antichi d’Europa. Auguriamo buona fortuna alla nostra “Pussi Genensis” (homo ascensor) che, rifugiatasi su un albero di limoni, probabilemente è sopravvissuta al lupo primitivo... e all’esplosione dei “Campi Flegrei” 3 (Pussy Genesis, online)

Nesse sentido, de contribuir com novas visões e galgar horizontes transnacionais à personagem, como produtor executivo e também autor da fase transcultural de Pussy, Claudio passa a equacionar a produção do HQ (fumetto), contatando outros artistas italianos, Andrea Modugno (desenhista) e Massimo Pini (roteirista). Ambos com experiência na área, e extremamente bem sucedidos no trânsito entre linguagens.

A transcrição da personagem para quadrinhos, pelos artistas, levou em consideração esse aspecto peculiar de autora e personagem (a prática do Pole Dance). As narrativas gráficas construídas, trazendo à tona uma Pussy heroína, itálica e glocal, habitante de uma terceira camada de realidade, são completamente independentes das pautas da própria autora. Aqui, a total liberdade criativa dos autores envolvidos só é possível mediante um algoritmo de personagem consistente, que inicia sua trajetória na literatura, passa à multiplataforma e, colaborativamente, vai compondo novas possibilidades de seu mosaico autoral-experimental prismático. Com certeza, muito mais rico e contemporâneo em sua transculturalidade.

Attraverso la lente distorta e infinitamente libera del fumetto, Pussy Jane assume di fatto il ruolo di eroina (non si fa riferimento all’abuso dei creativi). PJ è un’essere incasinato normale ma, come ogni essere umano, ha del divino che esprime grazie ai poteri conferitigli dal suo cappello. Quando lo indossa è capace di cose incredibili, come parlare con una segreteria telefonica per tre ore, o sventare una rapina. Grazie al palo della Pole Dance, si trasferisce da un luogo all’altro della terra (per ora tra San Paolo e l’Italia... piano piano imparerà) dove vivrà fantastiche avventure che condividerà con noi. Dìaltronde gli italici sono così, che a fare le cose da soli “non c’è sfizio”, parola di Pussy Jane Allsteam! (GAROFALO) 4

Como primeira das ações voltadas à expansão narrativa da personagem e, agora, de seus todos autores, a plataforma Pussy Jane Allsteam assumirá uma página voltada especificamente ao HQ (fumetto) e a produtos/conteúdos correlatos. Pussy será também transformada em linguagem audiovisual teatralizada, a partir dos estudos de linguagem cênica incorporados do projeto de pesquisa Ânima in crônica, que trata de transcrição entre linguagens mediante reconfiguração dos diferentes palcos e suas potencialidades expressivas. Serão realizadas, sob direção de Hânia Pilan, duas esquetes teatrais que transitarão entre o live action e o audiovisual, utilizando-se de cenário virtual com intervenção de projeções em HQ, desenvolvidas pelos artistas Andrea, Massimo e Claudio. As esquetes serão interpretadas em ambas as línguas: português e italiano e, não por acaso, um dos textos escolhidos será Pole Position, que integra o livro “Contos de F…”. O texto trata de uma auto-reflexão de Pussy e, inevitavelmente, da autora, ancorando suas perspectivas “testa in giù”. Mais uma vez, enfatiza-se o ambiente autoral colaborativo mas, agora, sob a ótica da multiplicidade artística transculturalizada.

No fundo ela não sabia o que queria. Era uma mulher-objeto feminista, uma mistura de emancipação sexo-cultural com resquícios (muito, muito fortes) de submissão à demanda machista. Claro que se importava com a opinião masculina. Deus a livrasse das celulites e culotes maltratados, das dobras na barriga e dos números mínimos de sutiã. Ao mesmo tempo detestava a idéia de estar subordinada à opinião pública masculina. Ela devia ser uma aberração da natureza. Não encaixava nem cá nem lá.

Conclusão: PJ, il fumetto

Esse universo multicriativo e transcultural, colaborativo, abre portas a que artistas reinventem-se e, assim, a seus personagens. Aqui, a personagem descola-se do autor e se infiltra de outros, o que colabora a que se faça, ainda mais, em vida própria, apesar de atada ao sujeito que lhe transfere a identidade primeira. Essa liberdade de deixar exercer-se um personagem, a partir das variáveis instauradas por artistas capazes de operar diferentes linguagens, corrobora o mosaico que Pussy sempre intentou em suas transfusões entre verbo, cena, web, audio e video. E, sobretudo pelo fato da temática transversal transcultural, o contato com artistas italianos é fundamental para que haja expansão narrativa factível.

Outos aspecto interessante nesse modo de produção colaborativo, é o fato de ser totalmente independente e, portanto, dado à pauta livre, guiada pelos próprios artistas, empreendedores culturais. Um caminho convidativo à arte reflexiva e à ironia que, quando transformada em produto mercadológico, perde função, por desprender-se de sua intenção motriz: a crítica.

No que diz respeito a potencial de alcance, o HQ (fumetto), em sua linguagem universal, prevalece à língua escrita/falada e, por isso, talvez, seja a melhor forma de expansão de uma personagem e seu intento glocal.

Ainda, por ser naturalmente propensa ao humor e ironia, a história em quadrinhos adapta-se perfeitamente ao universo de Pussy Jane Allsteam, da Poggiomarino. Um universo nunca antes, felizmente, tão “testa in giù”.

As ilustrações a seguir trazem uma gênese da macrohistória de Pussy Jane Allsteam: sua Pussy Genesis. Um retrato sócio-histórico da linha do tempo do feminino, representado pela personagem e seu mastro contemporâneo de Pole Dance. Uma alusão clara ao empoderamento, sob a interpretação irônico-artística de Andrea Modugno e Massimo Pini.

Figuras 2 a 6 - percurso da macrohistória de PJ, sua Pussy Genesis - da Italia de 40.000 a.C a Poggio Marino (NA) ao campeonato mundial de Pole Dance 2021.

Modugno e Pini
Figura 2: Pré história

Modugno e Pini
Figura 3: Antiguidade

Modugno e Pini
Figura 4: Na Idade Média

Modugno e Pini
Figura 5: Grandes Navegações

Modugno e Pini
Figura 6: PJ Allsteam, na era digital

Notas Finais

1Todos nós sabemos quem são e quantos italianos são hoje: as X pessoas com passaporte italiano na Itália, às quais se junta o Y no exterior. Mas o itálico? Para contá-los, você deve defini-los. Nós tentamos fazer isso. Não foi fácil. No final concordamos com a definição, agora retomada e adquirida, segundo a qual: o itálico ocorre quando a cultura de um indivíduo de origem italiana ou phília se encontra com uma cultura local diferente e distinta dela, com esta se hibridiza, para que a pessoa envolvida nesse processo resultará na posse de elementos culturais produzidos pela síntese de toda a gama de suas hibridizações. Essa base - impregnada da italianidade peninsular, mas diferente dela, porque está integrada às muitas culturas encontradas - é precisamente a italianidade, algo cujo poder de atração é suficiente para unir seus donos em torno de um sistema parcial mas análogo de valores, costumes, interesses . (BASSETTI, 2015, 47-48)

2para favorecer a agregação do itálico, o desafio é combinar a novidade da condição itálica - viver em um mundo glocal - com a novidade paralela das próprias línguas: esta última deve ser a mais adequada para dar corpo às necessidades comunicativas de um mundo fluido e o mais equipado para percorrer as novas rodovias da comunicação global.

3“Se Fernanda, a VIAGGIAUTRICE mãe de PJ é italo brasileira e atleta de Pole Dance, por que PJ “não pode”? PJ, sobretudo, não pode renunciar... Ela nunca entendeu o motivo de sua atração pelo pole. Talvez os amores por mastros teve tantos e agora, por vingança, quer aprender a gerencia-los. Ou talvez o motivo a transcenda e seja devido ao seu DNA, sua história. Aprendamos a sua para entendermos a nossa!
Ouve-se sempre falar da Itália associada ao império romano. Mas será que “antes” não havia nada que valesse a pena mencionar nesta península? Vamos dar um passo para trás, digamos, 40.000 anos. Dos romanos, é claro, nenhum vestígio. Na verdade... do próprio homem, nenhum vestígio ... ou quase! Comecemos por dizer que o sapiens, nosso primo, ainda era parente na África e na Itália, como de fato em toda a Europa (usamos o termo para facilitar o entendimento), o Neandertal “reinou”. Mas não por muito tempo ... Na verdade, segundo alguns pesquisadores, o desaparecimento do Neandertal remonta a cerca de 40.000 aC. e é devido a uma imensa explosão - a maior dos últimos 200 mil anos - que aconteceu ... na área de Nápoles! Nada a ver com o Vesúvio, que na época já era velho e se formou há 400 mil anos. Então, se você está pensando no que eu estou pensando, para danificar a memória de Pompeu, você terá que esperar até 79 DC. A explosão, responsável pela extinção do Neandertal, teria ocorrido na área correspondente ao atual “Campi Flegrei” e, em seguida, uma enorme nuvem de cinzas, teria trazido temperaturas muito rígidas, escuridão e chuva ácida da Europa por anos, até a Ásia. Provavelmente um “golpe de misericórdia” para o pobre Neandertal (e não apenas para ele) que, portanto, teria morrido 10 mil anos antes do que se pensava. E antes do Neandertal? ... o primado (e não o primata) vai para Molise. Na verdade, perto de Isernia foi encontrado ... um dente de leite - o incisivo - de uma criança que viveu ... 600.000 anos atrás. Essa criança seria, portanto, o “avô” do Neandertal e seu dente, perdido pela fada primitiva, torna-se também um dos mais antigos achados da Europa. Desejamos boa sorte ao nosso “Pussi Genensis” (homo ascensor) que, tendo se refugiado em um limoeiro, provavelmente sobreviveu ao lobo primitivo ... e à explosão do Campi Flegrei “

4“Através das lentes distorcidas e infinitamente livres dos quadrinhos, Pussy Jane realmente assume o papel de heroína (não há referência ao abuso de criativos). Expressa graças aos poderes que seu chapéu lhe confere. Quando o usa, ele é capaz de coisas incríveis, como falar três horas com uma secretária eletrônica, ou impedir um assalto. Graças ao pólo do Pole Dance, ele se desloca de um lugar a outro na terra (por enquanto entre São Paulo e Itália ... aos poucos ele vai aprender) onde viverá fantásticas aventuras que vai dividir conosco. Além disso, o itálico é assim, que fazer as coisas sozinho “não tem capricho”, palavra de Pussy Jane Allsteam!

Referências

Bassetti, Piero. 2015. Svegliamoci, italici! Manifesto per un futuro glocal. Venezia: Marsili editori.

Bellicieri, Fernanda. 2011. Contos de F…, São Paulo: Edição do autor.

Bellicieri, Fernanda. 2015. Construção de personagem para formato audiovisual seriado: uma experiencia autoral in AVANCA Congress.

Bellicieri, Fernanda. 2016. A experiência do corpo texto: um aceno a construção da cena no corpo e da reinvenção do corpo em cena. Tese de Doutoramento Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Garofalo, Claudio. @claudio_la_caravella. 2020. Pussy Genesis in Pussy Jane Allsteam (plataforma online). Disponível em: www.pussyjaneallsteam.com. Acesso em: Abril 2021.

Modugno, Andrea. Ilustrações. @Andreamodugno78: instagram.

Pini, Massimo. Ilustrações. @pini_massimo: twitter. massimopini_1971: Instagram.

Pussy Jane Allsteam. 2015. De Fernanda Nardy Bellicieri. Brasil: plataforma digital. www.pussyjaneallsteam.com