AVANCA | CINEMA

Charlie Kaufman’s characters and Eduardo Coutinho's ‘non-characters’

Os personagens de Charlie Kaufman e os ‘não personagens’ de Eduardo Coutinho

Marcos De Bona de Carvalho

Universidade Tuiuti do Paraná, Brasil

Abstract

In this article I propose to relate the works, apparently quite distinct, of two cinema professionals, the Brazilian documentarist Eduardo Coutinho and the American ficcional screenwriter Charlie Kaufman. More specifically, I will focus on the characters featured in their films. When interviewing ordinary people, Coutinho is able to reveal a certain character that those people try to create. With great ability, he exposes their souls, their truths. Fernando Andacht, Coutinho’s great scholar disagrees with the filmmaker himself by stating that his interviewees are not characters, they remain real, authentic people. Kaufman is capable of creating complex characters by nature, far removed from the typical Hollywood heroes who obey the script manuals and Christopher Vogler’s hero’s journey. Some try to show power, integrity, smartness, but in the course of the stories, the fragility and vulnerability of all of them becomes very exposed, in the same way revealing their authenticity. This way I argue that both Coutinho and Kaufman are able to reflect on human behavior. To the point that, in absolutely different ways, they reach similar goals, I even say complementary goals.

Keywords: Charlie Kaufman, Eduardo Coutinho, Documentary, Character, Human Behavior.

Introdução

Uma situação de extremo perigo, dois homens lutam em cima de um trem que está prestes a entrar em um túnel estreito. Um desses homens é Bond, James Bond, que usa sua força física e habilidades de lutador para jogar seu oponente do trem e deitar-se sobre o vagão segundos antes de ser coberto pelo túnel. Esse é um começo genérico (não recorri a nenhum filme específico) de um filme do espião 007, uma das franquias mais bem sucedidas da história do cinema. Bond não é um super herói no sentido de ter poderes mágicos: trata-se de um ser humano comum, num sentido amplo da palavra. Visto em um restaurante, com seu terno bem cortado, tomando seu dry martini com limão espremido, não chamaria tanta atenção. Não seria nada além de um homem bem apessoado. Mas quando o conhecemos de verdade, não é alguém que encontramos no nosso cotidiano. É um personagem típico de Hollywood, gerado pela indústria cinematográfica dominante e mais lucrativa do planeta. Que movimenta rios de dinheiro entregando ao público justamente o que não se vê no dia-a-dia.

Filmes como os de James Bond, os da franquia Star Wars, assim como inúmeros outros de Hollywood baseiam-se na Jornada do Herói, fundamentada nas ideias de Joseph Campbell e Vladimir Propp, assim explicada por Christopher Vogler:

Todas as narrativas, em todas as culturas e em todas as épocas, seguem um padrão de raiz mitológica que se repete em todas as histórias. Esse pensamento recorre às ideias de Jung sobre os arquétipos, “personagens ou energias que se repetem constantemente e que ocorrem nos sonhos de todas as pessoas e nos mitos de todas as culturas, como uma espécie de inconsciente coletivo da humanidade. (VOGLER, 2006, p. 72)

Portanto, na história da indústria cinematográfica temos vários exemplos de personagens sofisticados e com grandes habilidades, histórias de superação com finais edificantes, muitas vezes moralistas, com a pretensão de divertir, entreter, ensinar uma lição ao público, o que é denominado de moral da história. Contudo, neste artigo, não é esse tipo de história que nos interessa. Essa introdução foi para exemplificar o oposto do que vamos tratar. Vamos analisar filmes documentários e ficcionais que mostram pessoas comuns, muito distantes dos típicos heróis de Hollywood.

Os filmes de ficção abordados serão: Quero ser John Malkovich (1999), Adaptação (2002), e Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004). Todos escritos por Charlie Kaufman, roteirista que se consagrou em Hollywood, após o sucesso desses filmes. Seus roteiros estabelecem várias diferenças com os filmes chamados blockbusters. Kaufman não quer afirmar nada, muito menos dar lições ou dizer como as pessoas devem viver sua vida. O que ele procura é refletir, principalmente sobre o comportamento humano, sem a finalidade de passar mensagens ou chegar a conclusões.

Charlie se recusa a escrever cenas de sexo, armas e perseguições. E acima de tudo, não quer que os personagens aprendam profundas lições de vida, cresçam e superem obstáculos. (LINGUAGEM, p. 85).

Vamos nos concentrar mais especificamente em seus personagens, muito diferentes de James Bond, Darth Vader ou Homem Aranha. O roteirista prefere abordar pessoas que encontramos no nosso trabalho, na nossa família, no nosso círculo social e principalmente diante do espelho.

Assim podemos fazer uma ponte com filmes documentários, em particular os do diretor brasileiro Eduardo Coutinho. Seu modus operandi, nos filmes que nos interessam para este artigo, é basicamente entrevistar as tais pessoas comuns, ordinary people, termo usual em inglês. Coutinho possui um talento incrível para conversar com essas pessoas a ponto de fazê-las ficarem à vontade e revelarem seu lado humano, suas fraquezas e fragilidades. Assim consegue obter belos depoimentos, levando essas pessoas a se emocionarem, rirem, chorarem e revelarem grandes histórias, acima de tudo histórias verdadeiras, histórias reais. Como afirma Fernando Andacht (2005, p. 105).

Trata-se de uma arte radicalmente oposta à épica, ao relato das grandes façanhas dos heróis. É o momento de glória da pessoa comum fazendo o que há de mais comum, viver o dia a dia, existir na temporalidade da rotina.

Os não personagens de Eduardo Coutinho

Coutinho é a principal referência em se tratando de documentários no Brasil. Ao longo de sua carreira, o diretor estabeleceu a forma que se consagrou por revelar histórias de vida capazes de gerar grande empatia com o público. O próprio Coutinho afirma que as pessoas que concordam em dar depoimentos em seus documentários transformam-se imediatamente em personagens. Isso aconteceria por estarem num contexto específico, diante de uma câmera, de uma equipe de filmagem, em um ambiente em que nunca estiveram, é o que Ismail Xavier denomina “efeito câmera”. Andacht contesta essa ideia afirmando que aquelas pessoas não deixam de ser elas mesmas. Parte do princípio que todos nós nos comportamos de maneira diferente em situações diferentes, no ambiente de trabalho, diante de nossa família, no nosso círculo social ou sozinhos. Afinal quando são entrevistadas por Coutinho, aquelas pessoas da mesma forma estão em um novo contexto. A princípio, sabendo que seus depoimentos serão vistos por outros, podem tentar construir personagens para passar uma boa imagem, que reflita como elas querem ser enxergadas. No entanto, com sua habilidade, Coutinho usa o tempo necessário para deixá-las à vontade e vai aos poucos desconstruindo o personagem para revelar pessoas autênticas.

O autêntico é isso que estaria além das aparências e das palavras: os índices que o corpo produz sem nossa vontade ou censura têm o poder de revelar a alma da pessoa, sua verdade. (ANDACHT, 2005, p. 107)

As imagens captadas pela equipe de Coutinho estão repletas desses índices. Risadas envergonhadas, mãos que mexem no rosto e remexem os cabelos, olhares que desviam do entrevistador e se movem para o nada, corpos que se retraem e se expandem, cabeças que se abaixam e se levantam. O mais impressionante é quando o diretor consegue extrair tamanha emoção que as pessoas se permitem chorar diante da câmera, para logo depois tentar esconder as lágrimas enxugando o rosto com as mãos, levantando a cabeça como numa desajeitada tentativa de fazer as lágrimas retornarem aos olhos. Coutinho parece subestimar seu grande talento para desvelar a pessoa por trás de um possível personagem.

Dissertando agora sobre Charlie Kaufman, apresento em seguida um resumo do argumento de cada um dos três filmes.

Quero ser John Malkovich (1999)

Craig (John Cusack) é um titereiro fracassado, casado com Lotte (Cameron Diaz), uma dedicada veterinária. Precisando de dinheiro, Craig começa a trabalhar na Lester Corp, uma empresa bastante peculiar, localizada no andar 7 ½ de um prédio comercial. O andar tem a metade da altura de um andar normal, obrigando as pessoas a andarem curvadas. Dr. Lester (Orson Bean), dono da empresa, é um sujeito excêntrico que vive reclamando dos problemas da velhice. Em seu novo emprego, Craig conhece Maxine (Catherine Keener), por quem se apaixona. Porém, quanto mais ele tenta chamar sua atenção, mais ela despreza-o.

Um dia Craig descobre uma porta atrás de um armário de arquivos. A porta dá para um estranho túnel escuro. Ao adentrar o túnel, Craig descobre que passou por um portal para a cabeça de John Malkovich. Ele assume seu ponto de vista, sendo capaz de ver, ouvir e sentir o que o ator sente. Este é o evento que muda os rumos da história de todos os personagens já mencionados, inclusive de John Malkovich, que representa a si mesmo.

Finalmente Craig consegue um pouco da atenção de Maxine. Mas ela, agindo apenas por interesse, decide cobrar ingressos para as pessoas experimentarem a sensação de ser John Malkovich. Lotte também entra no portal e sai de lá completamente transformada, obcecada em viver novamente a experiência. Maxine consegue o telefone de John Malkovich e marca um encontro com ele. Durante o encontro, Lotte está no corpo do ator, elas repetem a experiência e Lotte fica extasiada quando, dentro do corpo de John Malkovich, faz sexo com Maxine.

Agora, além de Craig, Lotte também está apaixonada por Maxine. Mas ela rejeita Craig e só aceita Lotte quando ela ocupa o corpo de Malkovich. Enciumado, Craig obriga sua esposa a ligar para Maxine e marcar um novo encontro. Mas dessa vez é ele quem estará no corpo do ator. O titereiro deixa sua esposa presa em casa, com as mãos amarradas, dentro de uma gaiola com um chimpanzé e, através do portal, vai ao encontro de Maxine.

O chimpanzé consegue soltar Lotte e ela procura Dr. Lester. O empresário excêntrico faz uma surpreendente revelação. Na verdade ele é um homem chamado Capitão Mertin. O Capitão Mertin, através do portal, ocupou o corpo do Dr. Lester. O corpo de Dr. Lester é apenas um recipiente que o Capitão Mertin usa com o intuito de viver eternamente. E em pouco tempo Dr. Lester deve usar novamente o portal para ocupar o novo corpo recipiente, John Malkovich.

Mas há um problema, o corpo de John Malkovich está ocupado por Craig, que com suas habilidades de titereiro, consegue ficar permanentemente dentro dele, assumindo a identidade do ator. Então Maxine enxerga uma nova oportunidade de enriquecer.

Passam-se oito meses. Malkovich muda o rumo de sua carreira tornando-se um titereiro de sucesso, está casado com Maxine e ambos estão prestes a ter uma filha.

Ajudado por Lotte, Dr. Lester sequestra Maxine, e ameaça matá-la caso Craig não deixe o corpo de Malkovich. À princípio Craig não sabe o que fazer. Desesperada, Lotte tenta matar Maxine, as duas acabam entrando no portal onde visitam o subconsciente de Malkovich. Ao saírem, Maxine confessa seu amor por Lotte e diz que o filho que carrega no ventre é dela. Pois Lotte estaria dentro de Malkovich quando a criança foi concebida.

Craig finalmente concorda em deixar o corpo de Malkovich. Dr. Lester entra no portal seguido por vários amigos para ocupar em definitivo o novo corpo recipiente.

Lotte e Maxine ficam juntas e criam sua filha, Emily. Craig entra novamente no portal mas é direcionado ao corpo de Emily, o próximo corpo recipiente. Porém o titereiro fica preso dentro do corpo da menina sem conseguir controlar seus movimentos. Está condenado a passar o resto de sua vida dentro de um corpo alheio, vendo o mundo através dos olhos de outra pessoa.

Adaptação (2002)

Este filme apresenta um exercício de metalinguagem ao extremo. O próprio roteirista aparece como personagem, o filme a que estamos assistindo é o filme que o personagem Charlie Kaufman está escrevendo.

Charlie Kaufman (Nicolas Cage) é contratado para adaptar o livro O Ladrão de Orquídeas, da escritora e jornalista Susan Orlean (Meryl Streep). Alternamos entre duas tramas, a que mostra a dificuldade de Charlie escrever o roteiro e a história de como Susan Orlean conheceu John Laroche (Chris Cooper), plantador de orquídeas, em 1995 para escrever um artigo para a revista The New Yorker. Mais tarde o artigo se transformaria no livro que Charlie tenta adaptar para o cinema.

Além da crise criativa, Charlie enfrenta problemas pessoais. Sua amiga Amelia dá todos os sinais de que se interessa por ele, o sentimento é recíproco, mas Charlie não tem coragem para se declarar. Para piorar, Donald Kaufman, seu irmão gêmeo (também Nicolas Cage), foi morar na casa dele e decidiu ser roteirista. Os irmãos têm personalidades opostas. Charlie é introspectivo, Donald é extrovertido. Charlie quer escrever algo original, sem clichês, sem cenas de sexo ou perseguições. Donald quer escrever um roteiro típico de Hollywood e está fazendo um curso com Robert McKee, maior autoridade em roteiros da atualidade. Charlie rejeita manuais de roteiro ou cursos de roteirista. Sua irritação é visível quando Donald pede seus conselhos profissionais.

Susan fica cada vez mais fascinada por John Laroche, apesar de ele ser um caipira desdentado e ela uma intelectual e requintada jornalista de Nova York. Ela admira a paixão de Laroche pelas orquídeas e começa a questionar a futilidade da vida que leva com seu marido e seus amigos petulantes.

Amelia arranja um namorado. Donald começa a namorar uma maquiadora de Hollywood, e seu roteiro, por mais mirabolante que seja, vai ganhando corpo. Charlie está cada vez mais instável. Há momentos em que se anima, pega um gravador portátil e, bastante empolgado, grava suas ideias. Para logo depois rejeitá-las e voltar a ficar deprimido. De qualquer forma, as imagens que ele evoca ao gravador são mostradas na tela. Num desses momentos é que surge a ideia de colocar-se no filme como um personagem. O mais interessante é como Charlie Kaufman (o roteirista) conseguiu transformar a crise criativa de Charlie (o personagem) em um ótimo filme.

Depois ter concluído o artigo para a revista. Susan volta a entrar em contato com Laroche. Pedindo mais informações para agora escrever o livro. Também parece haver algo mais entre os dois. O livro acaba sendo uma boa oportunidade de manterem contato.

Charlie decide ir até Nova York para encontrar Susan Orlean. Mas chegando lá, sua timidez o impede de falar com a jornalista. Recebe uma ligação de seu agente que o pressiona para terminar o roteiro, além de dizer que gostou muito do roteiro escrito por Donald. Então Charlie se rende, decide fazer o curso de Robert McKee. Depois de uma aula, em uma conversa num bar, McKee lhe dá alguns conselhos, como colocar um arco de personagem. A cena termina com um abraço entre os dois. Charlie Kaufman começa a desenvolver o arco de seu personagem. O que inclui também reconhecer o talento de Donald e aceitar sua ajuda.

Donald vai para Nova York e, já que Charlie não tem coragem, ele mesmo vai falar com Susan. Na conversa, Donald insinua que ela tem atração por Laroche, ela nega, mas ele percebe a mentira. Mais uma vez vemos o exercício de metalinguagem, depois de fazer o curso de McKee, o roteiro começa a andar. Charlie, que fazia de tudo para fugir de clichês, começa a escrever a história de amor entre Susan e Laroche. O filme praticamente muda de gênero. Daqui para frente aparecerão cenas de sexo, armas e perseguições. E Susan Orlean formará um par romântico com John Laroche.

As duas tramas se misturam. Os irmãos descobrem que Susan vai para Miami e decidem segui-la. Laroche a pega no aeroporto e a leva para sua casa. Charlie invade a casa e vê o casal transando e se drogando com um pó extraído das orquídeas. Laroche captura o intruso em sua casa e Susan decide matá-lo.

Charlie dirige seu carro sob a mira do revolver de Susan, são seguidos por Laroche em sua van. Entram na reserva indígena onde são colhidas as orquídeas. Quando sai do carro, Susan é surpreendida por Donald, que estava escondido no chão entre os bancos. Charlie e Donald fogem para um pântano enquanto são procurados por Susan e Laroche. Os irmãos se escondem atrás de uma árvore tombada e começam a conversar, trocam confidências. Charlie demonstra ter mudado a forma como enxerga seu irmão (arco de personagem). Trechos dessa conversa serão incluídos mais tarde no filme.

Amanhece, Charlie e Donald tentam fugir de carro. Mas batem em uma viatura policial e Donald é arremessado pelo para-brisa. Charlie tem tempo apenas de se despedir do irmão que morre logo em seguida. Susan e Laroche voltam a persegui-lo pelo pântano. Quando parece que tudo está perdido e Laroche vai atirar em Charlie, um crocodilo ataca-o mortalmente.

Então vamos para a resolução. Charlie se reencontra com Amelia, ela está de partida para uma viagem com o namorado. Mesmo assim o roteirista se declara e beija-a na boca. Ela vai embora, não sem antes dizer que também o ama. Confiante, Charlie sente que precisa ir para casa terminar o roteiro.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004)

O filme começa com Joel (Jim Carrey) acordando de manhã para ir ao trabalho. Mas na estação do metrô, repentinamente ele decide pegar o trem para Montauk, uma vila perto de Nova York. Lá ele encontra Clementine (Kate Winslet), os dois voltam conversando no trem, ela convida-o para tomar um drink em seu apartamento. No dia seguinte eles vão passear em um lago congelado onde observam estrelas, imagem icônica do filme.

Em seguida, há uma interrupção, começam os créditos e Joel aparece chorando em seu carro. Ele vai até a livraria onde Clementine trabalha e ela age como se não o conhecesse. Joel se desespera, até que amigos o avisam que Clementine passou por um procedimento e o apagou de sua memória. Então Joel decide passar pelo mesmo procedimento, apagando de sua mente as memórias que envolvem Clementine.

O segundo ato se passa enquanto Joel está dormindo. Ele revive as memórias relacionadas a Clementine. Os acontecimentos são mostrados cronologicamente invertidos, dos mais recentes para os mais antigos. Portanto Joel começa vivenciando o término do namoro e as brigas. As cenas se desenvolvem normalmente até certo ponto. Então passam a apresentar imagens desfocadas, sons abafados e elementos que vão se apagando. Como se em um sonho, Joel estivesse esquecendo Clementine.

Ao mesmo tempo temos uma trama paralela que envolve os funcionários da Lacuna, empresa que faz o procedimento de apagar lembranças. Dr. Mierzwiak é o dono da empresa, Mary, a dedicada secretária, Stan, o encarregado de realizar o procedimento auxiliado por Patrick. Na noite em que as memórias de Joel serão apagadas, Stan e Patrick vão à sua casa, instalam uma série de aparelhos em Joel e acompanham o procedimento por um monitor. Patrick revela que está namorando Clementine, que conheceu uma semana antes, quando ela apagou Joel de suas memórias. Ele conta para Stan que está usando informações fornecidas por Joel e Clementine para conquistá-la. Patrick recebe uma ligação de Clementine, ela está confusa, irritada, ele resolve ir até sua casa. Mary, namorada de Stan, encontra-o na casa de Joel, os dois, bebem, dançam e ouvem música em cima da cama em que Joel está dormindo.

O roteiro intercala as duas tramas, enquanto acompanhamos a noite que envolve os funcionários da Lacuna, continuamos acompanhando a história de Joel e Clementine contada de trás para frente. Em um dado momento, coincidente com o meio do filme, Joel se arrepende de sua decisão. Ele começa a reviver os bons momentos que teve com sua namorada e percebe que não gostaria de esquecê-los. Desesperado, tenta interromper o procedimento, mas uma vez iniciado, isso é impossível. Então, ele e Clementine, enquanto revivem as memórias dentro de sua cabeça, elaboram uma estratégia. Eles tentam se “esconder” em memórias que não incluem Clementine, portanto, que não seriam apagadas.

Isso faz com que dispare um alarme nos monitores da Lacuna, Stan e Mary, percebendo que algo está errado, chamam o Dr. Mierzwiak. Ele chega e precisa passar o resto da noite na casa de Joel. Continuamos vendo Joel e Clementine lutando para manter suas memórias. Patrick leva Clementine (no mundo real, fora da cabeça de Joel) até o mesmo lago congelado. Ela fica mais confusa, se desespera e briga com seu novo namorado. Na casa de Joel, enquanto Stan sai para fumar, Mary beija o Dr. Mierzwiak. Descobrimos que os dois já haviam tido um caso e ela também o havia apagado da memória.

Na cabeça de Joel o casal revive o começo do namoro, o momento em que se conheceram em uma festa na praia. Anoitece, Clementine invade uma casa e o convida para entrar. Joel entra, mas fica receoso e resolve sair. Antes de ir embora Clementine sussurra em seu ouvido “me encontre em Montauk”.

No mundo real, Mary, revoltada, vai até a Lacuna e decide por um fim na empresa. Pega todos os arquivos e os devolve para os clientes, incluindo fitas cassete em que os mesmos revelam os motivos porque decidiram apagar parte de suas memórias.

Então voltamos ao ponto do começo do filme. Percebemos que aquela, em Montauk, não foi a primeira vez que o casal se encontrou. Eles já haviam passado por todo um relacionamento conturbado, porém um apagara o outro de sua memória. Passamos para o dia em que os dois voltam do lago congelado. Clementine vai até sua casa, pega a correspondência e volta para o carro de Joel. Vê o arquivo da Lacuna e coloca a fita cassete no toca-fitas do carro. O casal ouve Clementine falando o quanto odeia Joel. Eles brigam e ela desce do carro. Pouco depois ela vai até a casa dele e encontra-o ouvindo sua fita, falando mal dela. Clementine decide ir embora mas Joel a impede. Apesar de agora saberem que já passaram por vários problemas, o casal resolve se dar uma nova chance.

O comportamento humano nos filmes de Charlie Kaufman

Referindo-se à representação do real em documentários afirma Andacht (2005, p. 100).

Considero razoável o posicionamento sobre os limites naturais do documentário como representação do real, porém, essas restrições são comuns a todos os signos, os quais conseguem capturar apenas aspectos parciais do real, e o fazem de modo falível.

Assim, me proponho a demonstrar como os filmes de Charlie Kaufman, assumidamente de ficção, procuram refletir sobre o comportamento humano construindo personagens muito parecidos com pessoas que encontramos no nosso dia-a-dia. Mesmo assim é preciso lembrar que tratam-se de personagens de ficção. Tenho o cuidado de não fazer como outros autores que caíram na tentação de criarem oximoros, como os explicitados por Andacht (2016a, p. 8)

Uma curiosidade a destacar é o oximoro ou encontro de termos contraditórios que não merece nenhum comentário ou explicação: ‘personagens reais’ (MESQUITA e LINS, 2014) e ‘personagens ordinários’ (BALTAR, 2010).

A forma como Kaufman atinge seu objetivo é bastante curiosa, criativa e original. O roteirista é capaz de colocar seus personagens diante das mais diferentes situações: fatos corriqueiros como lembrar o marido de alimentar seu animal de estimação, decisões importantes como mudar de emprego e até mesmo situações inimagináveis que beiram o surrealismo.

Recorro mais uma vez a Andacht que dá ao termo personagem três definições distintas:

Ao adotar essa premissa, poderíamos reservar o uso acadêmico do termo ‘personagem’, em primeiro lugar, para nomear os seres imaginários no universo da ficção literária, novela ou cinema comercial. Também não podemos ignorar um segundo sentido do termo, que designa alguém da esfera política, financeira ou artística, ou seja, uma pessoa que ocupa um lugar de destaque no universo da informação midiática. Finalmente, um terceiro significado de “personagem” refere-se às atitudes, ao estilo discursivo ou de vestuário de uma pessoa que, em sua interação com os outros, atrai poderosamente a atenção; talvez o termo “pitoresco” seja sinônimo desse terceiro significado do termo. (ANDACHT, 2016a, p. 3)

Notamos que as definições se referem tanto ao universo da ficção quanto ao “universo real”. Nosso objetivo é diferenciar os filmes escritos por Charlie Kaufman dos chamados blockbusters. Assim não há o que discutir quanto à primeira definição, pois se tratam de obras ficcionais. O interessante é quanto às outras duas. O público dos filmes comerciais prefere personagens que se encaixam na segunda e terceira definições. Em geral, nos dramas e filmes de ação aparecem os poderosos que ocupam lugares de destaque na sociedade e nas comédias aparecem os caricatos, espalhafatosos, pitorescos. Ou seja, são personagens que, mesmo que não estivessem em um filme, ainda seriam personagens como definiu Andacht.

Já nos filmes de Kaufman temos dificuldade ao tentar encaixar os personagens na segunda ou terceira definições. Quanto à segunda, “pessoa que ocupa lugar destacado no universo da informação midiática”. Temos um exemplo que parece se encaixar, porém apenas parcialmente. Em Quero ser John Malkovich, o ator presente no título do filme, representa o papel de si mesmo. Aí precisamos analisar a seguinte questão. Imaginemos um filme em que um dos personagens é um ator famoso, conhecido, destacado, poderíamos encaixá-lo sem titubear na segunda definição de Andacht, “pessoa que ocupa um lugar destacado no universo da informação midiática”. Mas não é isso que acontece em Quero ser John Malkovich. O que vemos é uma versão construída de John Malkovich pelo roteirista e pelo próprio ator. Kaufman usa da persona de um ator importante, mas também trata de humanizá-lo mostrando-o em seu cotidiano de pessoa comum. Vamos à primeira cena em que aparece. Malkovich faz gestos corriqueiros como verificar diante de um espelho se há comida entre seus dentes. Em seguida entra em um taxi, com uma fala mansa e educada, conversa com o taxista que confunde seu nome e um filme do qual teria participado. A cena é mostrada em câmera subjetiva, do ponto de vista do personagem, portanto não vemos seu rosto, apenas ouvimos sua voz. A atuação é tão boa que apenas pelos índices produzidos por sua fala percebemos que o ator demonstra um certo incômodo, mas continua sendo educado ao conversar com o taxista. Mais tarde, quando está em um restaurante esperando por uma pessoa, é reconhecido por alguém e tem uma conversa corriqueira. Quando a pessoa finalmente chega, apresenta-se simplesmente como John. Portanto, apesar de ser um astro de cinema, o personagem o personagem se comporta como uma pessoa comum.

O próximo exemplo nos faz entender melhor a curiosa experiência que o roteirista e os atores conseguiram realizar nesse filme. Em outro momento, o roteirista brinca com a persona do ator Charlie Sheen, que também representa a si mesmo. Sheen aparece justamente quando as coisas começam a sair de controle para Malkovich. Craig, o protagonista do filme, começa a tomar conta do corpo do ator para, em breve, viver permanentemente sua realidade. A cena mistura elementos corriqueiros com outros nem tanto. John está assustado, paranoico, fechando portas, janelas e cortinas de seu apartamento, pois desconfia que uma mulher está se apoderando de seu corpo. Sheen, sentado relaxadamente em uma poltrona, tenta tranquilizá-lo. Sua atuação é bastante naturalista, mesmo que suas falas sejam sarcásticas, irônicas:

Uau! Agora sim! Ela está te usando para se encontrar com uma amante lésbica morta. Me avisa quando terminar com ela. É o meu tipo de mulher! (KAUFMAN, 1999, p. 59)

Nada fora do normal em se tratando de uma conversa entre dois amigos, sendo um deles a persona de Charlie Sheen. Apesar de ser retratado como o típico astro de Hollywood que ele é (já teve problemas com mulheres, drogas e se envolveu em diversas confusões), ainda se trata de uma versão de si mesmo. O filme mostra um astro de Hollywood fazendo o papel de um astro de Hollywood num filme de ficção. Assim podemos constatar que o filme brinca com a representação do real ao percebermos que Charlie Sheen é, e ao mesmo tempo não é, ele mesmo. É o mesmo que acontece com John Malkovich, mas como ele não corresponde a um estereótipo como Sheen, é mais difícil perceber.

Ao não se encaixarem nem na segunda nem na terceira definição de Andacht, os personagens criados por Kaufman aproximam-se do termo autêntico. Assim definido por Jeffrey C. Alexander:

Uma pessoa autêntica parece agir sem artifício, sem autoconsciência, sem referência a algum plano ou texto minuciosamente pensado antes, sem preocupação em manipular o contexto de suas ações e sem preocupação com a ação do público ou seus efeitos. (ALEXANDER, 2004; ANDACHT, 2016a, p. 15)

Voltando a James Bond, o herói possui alguns ‘defeitos’ como a arrogância, a vaidade e o fraco por mulheres. É uma tentativa de humanizá-lo, de torná-lo mais complexo ou autêntico. Já os personagens de Kaufman, sobretudo seus protagonistas, são pessoas complexas por natureza, muitos deles apresentam fragilidade e vulnerabilidade latentes. Não são heróis, muito menos super-heróis, e o roteirista faz questão de distanciá-los ao máximo desse estereótipo.

Em Quero ser John Malkovich, Craig Schwartz é um excelente titereiro (também se revela um excelente arquivista), porém preguiçoso, ambicioso e com uma série de defeitos, por isso corrompe-se ao longo da história. No mesmo filme, Lotte, esposa de Craig, uma veterinária amável e dedicada, revela insegurança ao entrar em uma crise de identidade. Charlie Kaufman (personagem que tem o mesmo nome do roteirista), de Adaptação, é um excelente roteirista, porém em crise criativa, extremamente tímido e socialmente inábil. Clementine de Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004), é simpática, alegre, engraçada, “descolada”, características supervalorizadas por seu namorado Joel justamente por não possuí-las. Mas em determinado ponto do filme ela fala para ele:

Muitos caras acham que eu sou um conceito. Ou que eu os completo ou que vou fazê-los se sentir vivo, mas eu sou só uma garota problemática procurando por minha paz de espírito. Não me responsabilize pela sua. (KAUFMAN, 2003, p. 87).

Com relação à aparência, os filmes se permitem até a brincar com as estrelas de Hollywood. John Cusack apresenta cabelos longos e desgrenhados e quando assume o corpo de John Malkovich, transporta para este a mesma aparência, tornando-o careca e cabeludo ao mesmo tempo. Cameron Diaz, conhecida por sua beleza, substitui os cabelos louros e lisos por castanhos, enrolados e mal penteados, que ainda cobrem os harmoniosos traços do rosto da atriz. Nicolas Cage, outrora galã, também apresenta cabelos ralos e desgrenhados, além de uma barriguinha saliente. Para piorar, todos os exemplos citados têm péssimo gosto para se vestir.

Outra estratégia do roteirista para reforçar a humanidade e autenticidade de seus personagens é criar duplas com personalidades opostas (os defeitos de um são as virtudes do outro) como os casais Joel e Clementine de Brilho eterno de uma mente sem lembranças, Craig e Lotte de Quero ser John Malkovich e os irmãos gêmeos Charlie e Donald Kaufman de Adaptação.

No eixo narrativo principal, Charlie divide a sua história com o irmão gêmeo, Donald, literalmente seu outro. Se por um lado Donald é menos inteligente e até meio abobalhado, isso não parece afetar sua autoestima, sendo perfeitamente integrado socialmente. Charlie, ao contrário, é brilhante mas altamente inseguro, diante, inclusive de características físicas que não parecem ser problema para o irmão. (LINGUAGEM, p. 88)

Voltando à terceira definição de personagem por Andacht (os pitorescos), encontramos alguns exemplos na obra de Kaufman. Um traço comum em seus roteiros é a composição de personagens “estranhos”, em alguns casos beirando a caricatura. Os melhores exemplos estão em Quero ser John Malkovich. Maxine, Dr. Lester e Floris muitas vezes deixam Craig sem graça, sem reação ou sem a menor ideia do que fazer diante de atitudes absurdas, inesperadas ou não convencionais. Em certo momento, no ambiente de trabalho, Dr. Lester fala para Craig sobre Floris, sua secretária:

Eu quero sentir as coxas nuas de Floris contra as minhas. Eu quero sentir paixão. Eu quero que meu corpo inspire desejo naquela mulher bonita e complexa. Eu quero que ela trema num espasmo de êxtase quando eu a penetrar. Oh, Deus, a agonia da carne, Shwartz! (KAUFMAN, 1995, p. 19).

Em Adaptação a caricatura fica por conta de John Laroche, um caipira orquidófilo que mesmo sendo feio e desdentado conquista a escritora e intelectual Susan Orlean. Portanto esses personagens “estranhos”, apesar de coadjuvantes, conseguem proporcionar guinadas no roteiro com seu poder de influência sobre os protagonistas, cuja fragilidade permite esse tipo de submissão. A “estranheza” daqueles e a autenticidade destes é acentuada pela forma como todos se relacionam. Como afirma Andacht (2016a, p. 4) ao citar Goffman:

Tanto fora como dentro de um filme documental, em um âmbito social que Goffman (1983) descreveu pioneiramente como “a ordem da interação”, a identidade humana é de natureza relacional: ela surge no encontro real ou virtual com outro, inclusive a si mesmo, através do diálogo interno.

Já em Brilho eterno de uma mente sem lembranças, esse tipo não aparece, bastando que as relações e interações entre os personagens reforcem a humanidade dos mesmos.

Conclusão

Não foi fácil fazer a conexão entre os dois temas: personagens de Charlie Kaufman e “personagens” de Eduardo Coutinho (as aspas ficam por conta da contestação do termo por Fernando Andacht). Com isso misturam-se a representação do real e reflexões sobre o comportamento humano.

As pessoas entrevistadas por Coutinho podem inicialmente tentar construir um personagem. Isso acontece em maior ou menor grau, o que determina apenas o tempo que o diretor levará para atingir seu objetivo de chegar às suas intimidades. Alguns entrevistados rapidamente se acostumam ao “efeito câmera” e ficam à vontade para contar suas histórias. Outros, mais resistentes, dão um pouco mais de trabalho ao diretor, mas acabam da mesma forma revelando suas fragilidades e vulnerabilidades, o que acontece por meio de relatos de histórias já vividas, lembranças que vêm à mente no momento da entrevista fazendo com que o corpo produza os índices que acabam com qualquer dúvida sobre a autenticidade daquelas pessoas. Nos roteiros escritos por Kaufman, isso acontece com os personagens em ação. Alguns como Craig em Quero ser John Malkovich, Donald em Adaptação e Clementine em Brilho eterno de uma mente sem lembranças, esforçam-se para parecerem mais fortes, independentes, seguros. Porém as relações com os outros personagens (que se encaixam nas definições do termo segundo Andacht, mesmo pertencendo ao universo ficcional), acabam revelando da mesma forma suas fragilidades e vulnerabilidades. Quanto a esses outros personagens, constatamos claramente que revelam sua complexidade já no começo dos filmes, bons exemplos são Lotte em Quero ser John Malkovich, Charlie em Adaptação e Joel em Brilho eterno de uma mente sem lembranças.

A conclusão a que chego é que ambos (Kaufman e Coutinho), por caminhos absolutamente distintos, procuram objetivos similares, ouso dizer complementares, no sentido de retratar o ser humano e seu comportamento, um tema tão vasto que nunca se esgotará. O que também faz uma improvável conexão entre as duas obras é a distância das pessoas e personagens retratados para os personagens típicos dos blockbusters hollywoodianos que, em histórias épicas, realizam façanhas com suas habilidades extraordinárias. Se eles fossem James Bond, cairiam do trem.

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