AVANCA | CINEMA

Encounters, Festivals and Exhibitions – ways to build brazilian black cinema

Encontros, Festivais e Mostras - um caminho para construção do cinema negro brasileiro

Edileuza Penha de Souza1

Universidade de Brasília (UnB), Brasil

Marcus Vinicius Mesquita2

Universidade de Brasília (UnB), Brasil

Abstract

The article seeks from the realization of the “Afro-Brazilian Cinema Moments Exhibition - Retrospective”, to analyze the process of consolidation of the concept of Black Cinema, and how the specific Encounters, Festivals and Exhibitions strengthened this process. Based on the questions about the image and the place of the black population in film production, we investigated the factors that led to the increase of production made by black filmmakers. In this way, we understand this process as a consequence of the racially defined public policies developed in recent decades, strengthened by the advance and access of new technological mechanisms and apparatuses of production; the establishment of the Association of Black Audiovisual Professionals (APAN); and also the outbreak of contemporary film festivals and shows, shaped around the racial issue in all regions of the country.

Keywords: Black Cinema, Film Festivals and Exhibitions, APAN, Public Policies, Digital Technologies.

1 - Introdução

A vida é igual um livro [ou um filme]. Só depois de ter lido [e assistido] é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha [nossa], até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro [preto é o cinema que construímos]. Carolina Maria de Jesus - Quarto de Despejo (1960)

Ao longo da história da sétima arte, mostras e festivais têm sido um importante veículo de divulgação, tornando-se vitrines para as mais diversas produções cinematográficas. Para a pesquisadora Miriam Alencar (1978), a dinâmica dos festivais torna possível as condições de exibição e viabiliza desde a comercialização até a projeção das obras cinematográficas. Ainda que considerados espaços elitistas, mostras e festivais de cinema têm a tarefa de formar público e de ampliar a produção audiovisual.

Nesse sentido, o papel dos festivais e mostras não é diferente para promover o cinema negro. A participação do Cineasta Zózimo Bulbul3, por exemplo, no III Festival de Cinema de Diretores da Diáspora Africana, em Nova York, no ano de 1995, possibilitou-lhe participar do FESPACO – Festival Pan Africano de Cinema de Ouagadougou, em Burkina Faso, em 1997. O olhar visionário e as andanças de Zózimo levaram à criação do Centro Afro Carioca de Cinema (CACC)4, nascendo na sequência o I Encontro de Cinema Negro Brasil África5, que inaugurou um lugar ímpar do cinema negro brasileiro.

A reflexão proposta neste artigo tem como referência temporal o ano de 1995, quando ocorreram os festejos do tricentenário de Zumbi dos Palmares6. Escolhemos dois acontecimentos díspares desse período, para analisar de que forma encontros, festivais e mostras contribuem para consolidar o cinema negro brasileiro: a participação de Zózimo no III Festival de Filme Africano e Diáspora Contemporâneo, ocorrido em Nova York (USA), e a realização da “Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva”, realizada no Brasil, da qual o único diretor negro foi Zózimo. Nesse sentido, 1995 é o ano em que Bulbul dá início à construção do que hoje denominamos cinema negro brasileiro7.

O Cinema Brasileiro tem sido, antes de tudo, um processo de realização de filmes de pessoas brancas8, mesmo considerando que a população negra sempre estivesse presente, reivindicando espaços e visibilidades, como demonstram todos os movimentos de resistência ao sistema escravocrata ocorridos antes da assinatura da Lei Áurea, bem como a permanente luta contra o racismo, o preconceito e a discriminação racial. Nesse contexto, pode-se destacar a carta escrita por Grande Otelo9, denunciando a ausência da população negra nos comerciais. A imagem da população negra no audiovisual, entretanto, correspondia àquilo que Muniz Sodré chamou de “síndrome de vampiro”, pois os negros não são vistos (Carvalho, 2013), (Souza, 2013); (Araujo, 2010); (Sodré, 1999).

Na década de 1990, o debate antirracista se consolida em torno do cinema, passando inclusive por contestações, no sentido de ressignificar as imagens e as representações do negro no cinema brasileiro, a exemplo do Movimento Dogma Feijoada. As polêmicas geradas pelo Manifesto “Dogma Feijoada” fomentaram inúmeras discussões em torno do conceito de “cinema negro” e influenciaram diretamente as realizações e produções que ocorreram a partir do 11º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, em 1997. Controvérsias à parte, o manifesto Gênese do Cinema Negro Brasileiro provocou debates que se mantêm na ordem do dia:

Escrito pelo jovem cineasta Jeferson De (nome artístico de Jeferson Rodrigues de Rezende), então estudante do curso de cinema na Universidade de São Paulo (USP), foi lido e debatido em uma das sessões do festival. Seis filmes (entre curtas e documentários) integravam o programa Dogma Feijoada Mostra da Diversidade Negra foram exibidos: Dia de alforria (Zózimo Bulbul, 1981), Abá (Raquel Gerber e Cristina Amaral, 1992), Almoço executivo (Marina Person e Jorge Espírito Santo, 1996), Ordinária (Billy Castilho, 1997), O catedrático o samba (Noel Carvalho e Alessandro Gamo, 1999) e Gênesis 22 (do próprio Jeferson De, 1999) (Carvalho e Domingues, 2018, p.1).

Inicialmente marcada pelo fim da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes), da Fundação do Cinema Brasileiro e do Concine (Conselho Nacional de Cinema)10, a década de 1990 foi um marco importante na indústria cinematográfica nacional, sobretudo pela retomada das Políticas Públicas de incentivo ao cinema brasileiro em 1993, quando aprovada a Lei do Audiovisual11. Mesmo que a atuação da Lei tenha sido precária, ela foi responsável pelo crescimento da produção de longas-metragens.

O artigo “Encontros, Festivais e Mostras - um caminho para construção do cinema negro brasileiro” parte de um panorama da produção da “Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva”, ocorrida em um momento de baixa produção e consequentemente invisíveis exibições do cinema produzido por diretores(as) negros e negras12, para constatar a existência de um contexto atual, em que o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul se soma a uma quantidade de mostras e festivais cinematográficos contemporâneos, moldados em torno da questão racial, contribuindo para a consolidação do conceito de cinema negro. Esses eventos têm produzido grandes transformações na estrutura do cinema negro brasileiro. Nossa perspectiva é demarcar o crescimento do cinema negro como consequência do aumento do número de mostras e festivais de cinema, do desenvolvimento de políticas públicas, do avanço e acesso de novos processos tecnológicos de produção, da popularização da internet e, ainda, da criação da Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro (APAN).

2. A “Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva”

Iniciar nossas reflexões sobre o cinema negro brasileiro na contemporaneidade, a partir da “Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva”, ocorrida no ano do tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares, possibilita-nos demarcar o lugar do cinema negro na atualidade; pois, passados pouco mais de 20 anos, podemos observar o crescimento e a consolidação de um cinema classificado dentro da categoria étnico-racial.

A “Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva” ocorreu em três importantes cidade brasileiras: São Paulo, entre os dias 06 à 17 de novembro de 1995, na recém inaugurada sala “CINUSP Paulo Emílio13”; da Universidade de São Paulo (USP); Belo Horizonte, onde fez parte da programação do FAN - Festival Internacional de Arte Negra14, entre os dias 23 de novembro a 03 de dezembro, no auditório JK, na sede da Prefeitura Municipal; e Salvador, entre os dias 27 a 30 de novembro, na então sala de Cinema Nazaré Liberdade.

Em São Paulo e Belo Horizonte, foram exibidos os longas:

Filmes Diretor
Barravento (1962), O Leão de sete cabeças (1970) e A idade da terra (1980) Glauber Rocha
Brasilianas: Cantos de Trabalhos (1955) Humberto Mauro
Partido Alto (1976) Leon Hirszman
Assalto ao Trem Pagador (1962) Roberto Farias
O Criolo Doido (1970) Alberto Prates Correia
Integração Racial (1964) Paulo Cezar Saraceni
O tigre e a Gazela (1977) Aloysio Raulino
O fio da memória (1991) Eduardo Coutinho
Xica da Silva (1976) Cacá Diegues
O dia em que Dorival encarou a Guarda (1988) Jorge Furtado e José Pedro Goulart
Orí (1989) Raquel Gerber
Moleque de Rua (1988) Márcio Ferrari

Em Belo Horizonte, onde a Mostra foi exibida por mais tempo, fizeram ainda parte da programação os curta e média-metragens.

Filme Diretor
Alma no Olho (1976) Zózimo Bulbul
O que eu estou vendo (1978) Carlos Augusto Calil
Okê Jumbeba - A pequena África no Rio de Janeiro (1985) Roberto Moura
A morte de um poeta (1981) Aloysio Raulino
Frio na Barriga (1987) Nilson Villas Boas

Na cidade de Salvador, a Mostra ocorreu em apenas três dias. Não conseguimos identificar quais filmes foram exibidos.

A curadoria da “Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva” foi da cineasta Raquel Gerber, ficando a coordenação geral a cargo de Maria Dora Genis Mourão do CINUSP. A organização do evento formou um Grupo de pesquisa da filmografia Afro Brasileira, com objetivo de selecionar as obras com base nos acervos da Associação Brasileira de Vídeo Popular (ABVP); da Cinema Distribuição Independente (CDI); da Cinemateca Brasileira; da Cinemateca do M.A.M Rio de janeiro; do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura (IBAC); do Museu da Imagem e do Som (MIS) - São Paulo e da Associação Vídeo Brasil. Maria Aparecida Braga(Cuca), Maria Cristina Amaral, Raquel Gerber e Rose Ferreira estiveram à frente dessa seleção, a qual se fundamentou nos catálogos: Cultura Negra (CDI - Cinema Distribuição Independente: São Paulo, 1989); Programas Jornadas Brasileira de Curta Metragem da Bahia: Cachoeira, 1983, 1984,1985 e 1988; O Cinema e a Escravidão (Museu da Imagem e do Som: São Paulo, 1988); O Cinema Cultural Paulista (Museu da Imagem e do Som: São Paulo, 1991); II Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo (Museu da Imagem e do Som: São Paulo, 1991).; Nos Programas de Homenagem ao dia Nacional da Consciência Negra (Museu Lasar Segall, São Paulo, 1981, 1982 e 1983); de dois materiais produzidos pela Embrafilme15 e do livro: O Negro no Cinema Brasileiro, de João Carlos Rodrigues

O estranhamento ocorre, ao confrontar os documentos que serviram de parâmetro para seleção dos filmes e o conjunto de obras selecionadas, pois elas contemplam um único diretor negro, Zózimo Bulbul; ainda assim com um curta, quando o mesmo já tinha estreado seu longa metragem “Abolição” em 1988.

Em uma entrevista, o diretor explicita o apagamento tanto dos filmes feitos por diretores negros, quanto a possibilidade de uma discussão mais aprofundada sobre as questões que atingem a população negra no Brasil, a partir do que aconteceu com o seu longa-metragem:

Ganhei mais um prêmio em Nova York, mas aqui no Brasil nunca saiu uma nota de jornal sobre o filme e sobre os prêmios que eu ganhei. Voltei muito triste com essa coisa do filme ter ganhado vários prêmios em festivais e aqui no Brasil não ter acontecido nada, nem comigo e nem com o filme. Eu tinha pretensão de ser conhecido de mostrar o filme, eu queria botar a cara na rua, discutir não só a cinematografia negra brasileira, mas também a temática do filme, e ficou uma coisa muito do tipo “cala boca negão – isso não existe!

Esse trecho da entrevista demonstra que historicamente o cinema brasileiro tem apagado as realizações de diretores(as) negros(as), acarretando, por sua vez, a impossibilidade de exibição e circulação de seus filmes. Por sua vez, o debate sobre a realidade da população negra no cinema foi um espaço reservado unicamente a diretores brancos, os quais recorreram a estereótipos na construção de seus personagens, conforme analisa Robert Stam (2008).

Em um momento histórico, como foi o ano do tricentenário de Zumbi dos Palmares16, a Mostra Momentos do Cinema Afro-Brasileiro – Retrospectiva”. priorizou os realizadores brancos, deixando com isso de refletir sobre as experiências vividas pelos negros no Brasil, através do olhar dos próprios diretores negros; pois, mesmo cineastas mais antigos — como Waldir Onofre, “As aventuras amorosas de um padeiro” (1976); Antônio Pitanga, “Na boca do mundo” (1978); entre outros — ficaram de fora da Mostra. A invisibilidade de diretores negros na referida Mostra já apontava para a necessidade de se pensar em caminhos para construção do cinema negro brasileiro com representantes negros em todas as etapas de criação, como o que tem ocorrido desde o Primeiro Encontro de Cinema Negro Brasil África e nos festivais e mostras que surgiram nos últimos anos e abriram espaço para que diretores e diretoras negras pudessem exibir suas produções, reafirmando nossas negritudes.

3- As ações afirmativas e as tecnologias digitais como fatores de consolidação do cinema negro brasileiro

Torna-se impossível analisar a história do cinema negro brasileiro sem passar pelas políticas públicas que viabilizaram a realização de inúmeros filmes. Desde 2003, surgiram várias ações que possibilitaram outros atores sociais adentrarem o mercado cinematográfico e audiovisual. Políticas públicas formuladas com o recorte racial colaboraram diretamente para esse cenário. O maior número de produções feitas por realizadores(as) negro(as)s e as discussões decorrentes desse contexto possibilitaram que esses profissionais se organizassem em busca de manter-se no mercado e, assim, continuar produzindo. O desenvolvimento das tecnologias digitais e sua rápida disseminação pela sociedade permitiram o acesso aos meios de produção e, dessa forma, contribuíram para consolidar o cinema negro. Além disso, os festivais e mostras que surgiram no Brasil nos últimos anos, constituíram janelas de exibição para as produções. É importante ressaltar que nossa perspectiva não é criar uma hierarquia entre esses fatores, mas mostrar como eles se entrelaçam e ocorrem de maneira conjunta.

Não resta dúvida de que as Políticas Públicas acompanharam a mudança do cenário do Brasil e consequentemente do cinema:

O aumento do salário mínimo para o maior patamar em 40 anos, a geração de empregos, o aumento da renda e a proteção dos direitos trabalhistas, entre outras conquistas, consolidam a inclusão social como o mais revolucionário efeito das ações de governo. Programas de transferência de renda e a concomitante redução da desigualdade da distribuição de renda possibilitaram a quase 40 milhões de brasileiros e brasileiras a superação de situações de vulnerabilidade e pobreza (SOUZA, 2016, p.38).

As ações afirmativas possibilitaram a compreensão da cidadania como consolidação de direitos fundamentais17. Assim, programas e instrumentos jurídico-legais — como as Leis 10.639/200318 e 12.711/2012, conhecida como a Lei das Cotas, tornando obrigatório a reserva de cotas raciais para ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e no serviço público; os Pontos de Cultura; e os Editais com recorte racial — são algumas bases que serviram de apoio para construção do cinema negro brasileiro, reforçada, na sequência, por meio da fundação da Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro (A.P.A.N): “instituição de fomento, valorização e divulgação de realizações audiovisuais protagonizadas por negras e negros bem como a promoção de profissionais também negros para o mercado audiovisual” (APAN, 2018).

A APAN nasce da união de realizadoras(es) e profissionais negras e negros do audiovisual, com o objetivo de demarcar os territórios e as territorialidades do audiovisual no Brasil, de promover ações que contribuam para o fomento de novas produções e, com isso, possibilitar a inserção e a manutenção desses profissionais no mercado.

Nos últimos anos, assistimos à significativa mudança na forma como as produções cinematográficas e audiovisuais são realizadas, distribuídas e exibidas. Equipamentos e meios de circulação digitais possibilitam novas estruturas de produção e circulação da produção cultural. Essas inovações, muitas vezes, permitem a quebra das estruturas tradicionais da cadeia produtiva da cultura audiovisual e cinematográfica no Brasil.

O cineasta André Klotzel (2016), enfatiza que “a inovação digital na captação e reprodução de imagens moderniza e barateia os custos da produção audiovisual, universalizando o acesso a alguns meios tecnológicos e, com isso, possibilitando o aumento da produção” (2016, p. 18). Nesse contexto, grupos de realizadores(as) negros(as) passam a produzir seus filmes.

As câmeras digitais, os avançados equipamentos e softwares, bem como as políticas públicas citadas anteriormente, permitem a esses sujeitos históricos o contato com a linguagem do cinema e o arranjo de novas práticas. Surgem, assim, discussões sobre as representações que essas imagens podem veicular, visto que agora além de consumidora, a população negra também se torna produtora de conteúdo. Souza (2012) enfatiza que essa produção cinematográfica é produzida com “baixo custo e com boa qualidade, faz uso das novas tecnologias como poderosas ferramentas que permitem apresentar e defender posicionamentos, histórias, experiências, vivências e culturas” (2012, p. 104). Da mesma forma, contribui Mohamed Bamba, ao explicitar que a apropriação das tecnologias digitais por cineastas negros e negras gera uma produção:

que conduz a renovar o modo de representação das memórias das tradições culturais populares negras e de matriz africana no Brasil bem como os leva a produzir narrativas em que não hesitam em introduzir certa poesia em narrativas que constroem, geralmente, com uma consciência política e étnica afirmada (BAMBA, 2011, p.64).

Esses(as) realizadores(as) estabelecem, portanto, uma nova ordem imagética frente às suas realidades, conduzindo por meio das tecnologias digitais um processo dialético de ruptura e progresso, que se destina a compartilhar conhecimentos, produzir novos imaginários e práticas pedagógicas, num compromisso ético e político com a representação da população negra. Refletindo acerca de sua própria realidade, esses e essas profissionais iniciam um processo de reformular as perspectivas de como seus espaços e modos de vida são retratados pelo cinema. Essa luta por espaço na produção cultural dá-se nas esferas econômica, política e psicológica, pois por meio da imagem ocorre o rearranjo das estruturas de poder e da forma como as pessoas enxergam a si próprias.

Todos esses fatores se conjugam para reestruturar a participação de negros e negras na produção cinematográfica e audiovisual brasileira, apesar da persistente desigualdade de raça e gênero nas grandes produções do cinema nacional, como indica o estudo “A cara do cinema nacional: gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012)19”, coordenado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e da “Pesquisa da Ancine sobre filmes lançados no Brasil em 201620”. Realizadores negros e negras têm utilizado dos festivais e mostras como brecha de não apenas exibirem seus filmes, mas também de possibilitar que circulem em espaços e locais nos quais distribuidores e programadores tenham acesso a essas produções, que crescem numericamente a cada ano.

4 - Encontro, festivais e mostras - Demarcando o território e a territorialidade do Cinema Negro

Nos últimos anos, surgiram inúmeros encontros, festivais e mostras de cinema negro em vários estados do país, demarcando territórios e territorialidades do cinema, como um espaço de pertencimentos e negritudes. Frutos das ações contínuas do Movimento Social Negro21, esses eventos são iniciados, na contemporaneidade, com a Carta de Grande Otelo, o Movimento Dogma Feijoada, o Manifesto do Recife e de outros tantos. Essas intervenções buscaram alçar espaço para negros e negras na produção do cinema nacional.

Se tomarmos como exemplo um dos mais antigos textos sobre Cinema Negro, publicado um ano antes das comemorações do primeiro centenário da assinatura da Lei Áurea, veremos que os autores(as), Helena Theodoro Lopes, José Jorge Siqueira e Maria Beatriz Nascimento, nutrem-se de filmes dirigidos por brancos, para analisar o que, naquele momento, era chamado de cinema negro, ou seja, filmes de realizadores brancos, com temáticas raciais. Esses(as) intelectuais já criticavam os trabalhos de Carlos Diegues, de Orlando Senna e de Arnaldo Jabor, por desenvolverem suas narrativas pautadas em estereótipos e no pouco conhecimento sobre a história da população negra. Mencionam o filme “Rio, 40 graus”, do cineasta Nelson Pereira dos Santos, como uma possibilidade de abertura para os negros no cinema brasileiro e apresentam o grupo de estudo sobre cinema da Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil (SECNEB), que já havia produzido alguns documentários sobre a religiosidade afro-brasileira, como potenciais autores do cinema negro brasileiro. Vale ressaltar que o cineasta Zózimo Bulbul já havia dirigido os filmes “Alma no Olho” de 1974 e “Aniceto - Dia de Alforria” de 1981; no entanto, mesmo morando no Rio de Janeiro, cidade do(as) pesquisador(as), Zózimo fora totalmente ignorado.

Atualmente, a grande quantidade de festivais e mostras específicas do cinema negro baliza territórios e diferentes territorialidades, apropriadas para o florescimento de um outro cinema e consequentemente de uma nova sociedade. Nosso objetivo é apresentar o crescimento do cinema negro brasileiro como fruto de uma somatória de fatores da contemporaneidade. Para nós, encontros, mostras e festivais são aqui configurados como terras férteis e aráveis, aguardando as sementes, simbolizadas pelos filmes de diretores(as) negros(as). Com base nessa perspectiva, tentamos catalogar alguns dos principais, festivais e mostras que brindam o cinema negro em todo o país.

4.1 - Cinema Negro no Nordeste - produzindo cinema através do seu foco

No Estado mais negro da diáspora africana, destaca-se o Bahia Afro Film Festival (BAFF), Festival de Cinema Negro realizado em diferentes cidades, como Salvador e Cachoeira. A sua VI edição aconteceria em 2015, mas foi suspensa por falta de apoio financeiro, desde então não houve novas edições.

Como os ventos não param, efetuou-se a Mostra de Cinema Negro – Ancestralidade na África e diáspora, na cidade de Salvador em 2014, integrando as comemorações do Novembro Negro. Em 2016, as organizadoras do Festival de Documentários de Cachoeira (CacheiraDoc)22 apresentaram o programa Por um cinema negro no feminino, em que exibiram filmes realizados por cineastas negras, com o intuito de discutir o cinema negro feminino.

O ano de 2018 pode ser considerado o momento do cinema negro no Brasil, e a Bahia abriu a temporada do calendário de eventos do nordeste do país com a Mostra Performance Negra no Cinema Brasileiro, realizada pelo Cineclube Mário Gusmão23 em março, na cidade de Cachoeira – Recôncavo Baiano. Em setembro, essa mesma mostra ocorreu na cidade de Maceió, no CineSesc. O ponto alto da mostra foi homenagear a presença dos atores e atrizes negras nos filmes do cinema brasileiro, bem como exaltar suas trajetórias no cinema.

A Mostra Itinerante de Cinemas Negros – Mohamed Bamba24 homenageia o professor marfinense. Em sua primeira edição, circulou por diversos bairros de Salvador, exibindo 35 longas e curtas-metragens de cineastas negra(o)s do Brasil e de países africanos de língua portuguesa. A equipe da produção foi formada unicamente por mulheres negras, com objetivo de apresentar e debater a produção audiovisual realizada por cineastas negras(os) de África e da diáspora negra, além de estimular o debate sobre identidade, gênero e sexualidade. A segunda edição da Mostra foi em 2019, exibindo mais de 70 filmes.

Ainda em 2019, o projeto de extensão Cinemalês realizou a terceira edição da Mostra Ousmane Sembene de Cinema (MOSC) na cidade de São Francisco do Conde, Bahia, reunindo filmes de todo o Brasil, América Latina e África, exibidos ao longo de cinco dias.

Sergipe se destacou com a Egbé - MOSTRA DE CINEMA NEGRO DE SERGIPE em sua quarta edição consecutiva25, apresentando filmes que compõem a imensa diversidade do cinema negro nacional. Para a realizadora e produtora da mostra, Luciana Oliveira26, “O Cinema Negro é um espaço de luta pela nossa existência”.

A Mostra Negritude Infinita acontece desde 2018 em Fortaleza, onde os organizadores construíram um espaço para a reflexão sobre a representação do corpo negro no cinema brasileiro e os rumos do cinema negro contemporâneo.

Em Maceió, o Centro Cultural Arte Pajuçara recebeu a Mostra Quilombo de Cinema Negro produzida pelo Mirante Cineclube. Em 2019, o evento reuniu 14 filmes, além de diversas atividades culturais, propondo-se a ampliar as subjetividades e as possibilidades de imaginários de pessoas negras no cinema.

4.2 - Região Sudeste - Zózimo Bulbul e os novos olhares sob cineastas negros

Criado por Zózimo Bulbul, na cidade do Rio de Janeiro, em 2007, o Centro Afro Carioca de Cinema realizou naquele mesmo ano o I Encontro de Cinema Negro Brasil/África, homenageando o pai do cinema negro africano Ousmane Sembène. O sucesso do encontro foi tão grande, que durante quatro anos ocorreu de forma contínua e, posteriormente, ampliou-se para acolher o cinema Afro latino americano e caribenho. O V Encontro de Cinema Negro Brasil África e Caribe, ocorrido em 2011, homenageou o país Burkina Faso e o mais importante festival de cinema negro do mundo, o FESPACO – Festival Pan Africano de Cinema de Ouagadougou. Com a partida de Zózimo para o Orum, em janeiro de 2013, o VII Encontro (2014), foi acrescido de seu nome tornando-se VII Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe / Zózimo Bulbul. A 13º edição, prevista para 2020 tem como proposta o acréscimo de outras diásporas no nome, o que reafirma o trabalho de pesquisa da antropóloga Sheila Walker (2018) no documentário “Rostos familiares, lugares – uma diáspora africana global”27. O ENCONTRO DE CINEMA NEGRO ZÓZIMO BULBUL – BRASIL, ÁFRICA E CARIBE E OUTRAS DIÁSPORAS é, sem dúvida, o principal e maior aglutinador do cinema negro no Brasil, reunindo filmes do continente africano e de toda a diáspora negra.

Também no Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2009 aconteceu a Mostra de Cinema Negro de Mesquita, no Município de Mesquita, na Baixada Fluminense. Essa Mostra foi resultado da parceria entre a Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com a Casa de Cultura Rasta Brasil (C.C.R.B.) e com o Movimento Negro de Mesquita, no entanto, até o momento teve apenas uma edição.

Se São Paulo é a capital cultural do Brasil, lá nasceu a Mostra mais antiga do país, a Mostra Internacional do Cinema Negro. Em sua 15ª edição consecutiva, ela se realiza com curadoria do professor e pesquisador Celso Luiz Prudente28, exibindo filmes de cineastas negros de diversos países e consolidando-se como uma das mais importantes do mundo.

Sediada em São Paulo, a Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro, tem realizado a Mostra do Audiovisual Negro, buscando apresentar as produções de realizadores e realizadoras negras para o público que muitas vezes não tem acesso a esses filmes. A primeira edição aconteceu em novembro de 2016. Em 2019, a IV Mostra foi realizada em uma versão on-line na plataforma do spcine, que constitui-se como a única plataforma pública de streaming do Brasil.

Em Minas Gerais, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) organizou, como parte da programação da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca em 2017, a Mostra de Cinema Negro, que tinha como objetivo valorizar obras audiovisuais produzidas por cineastas negros e negras, trazendo para cena questões históricas, culturais, políticas e estéticas dos negros na África e na América, especialmente no Brasil. Na mesma Universidade, em setembro de 2019, realizou-se a I Mostra de Cinema, Literatura e Identidade Cultural Negra, que visava a promover a cultura negra por meio de diferentes expressões artísticas, em especial do audiovisual, da poesia e da música. A programação do evento contou com cine-debates, oficinas de Slam (batalhas de versos), danças urbanas, rodas de conversa, intervenções e uma mostra musical.

Como parte do 10º Festival de Arte Negra em 2019, realizou-se a Mostra Cinema FAN que exibiu no Museu da Imagem e do Som (MIS) Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte, um panorama das produções do cinema negro contemporâneo, com filmes de jovens realizadores(as) e de importantes filmes da cinematografia africana. Também como parte da programação do FAN, a Mostra de Cinema Negro: Re-costuras e Afetos, organizada pelo Projeto Enquadro, foi realizada durante todo o mês de novembro de 2019. Concluímos ser importante ressaltar que, em 2017, o Festival de Arte Negra de Belo Horizonte realizou a Mostra Cinema Negra, que exibiu filmes realizados por mulheres negras.

A cidade de Belo Horizonte sedia a Mostra CineAfroBH, cuja terceira edição, exibiu, entre os dias 01 e 03 de novembro de 2019, majoritariamente filmes de realizadores afro-brasileiros mineiros. Essa edição teve como tema quilombos urbanos, fé e cultura.

A terceira edição do Cine Pojichá Festival de Cinema dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha trouxe para diversas cidades do estado de Minas Gerais filmes que conversavam com o tema Negros Olhares. Com esse tema o festival selecionou filmes de curta, média e longa-metragem de cineastas negros e negras de distintas regiões do Brasil. Importante ressaltar que o festival tem um tema diferente em cada edição, demonstrando a importância do cinema negro.

No Espírito Santo, a 5ª Mostra Produção Independente da ABD Capixaba (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas do Espírito Santo) realizou, entre os dias 13 a 17 de outubro de 2009, a Mostra – Cinema em Negro & Negro, homenageando o ator e diretor Markus Konká29. A Mostra contou com a presença dos diretores Zózimo Bulbul, Jefferson De e Joel Zito Araújo. No mesmo ano, a edição da revista Milímetros, organizada pela ABD, também foi dedicada ao Cinema Negro. Em 2019, a ABD trouxe o tema Resistência para a 14ª Mostra, pela segunda vez a questão racial foi pautada.

Em 2016, o jornalista e produtor cultural Adriano Monteiro e o cineasta Délio Freire, na época estudantes do mestrado em comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em parceria com o NEAB - Núcleo de Estudos Afro-brasileiro, realizaram a I Mostra de Cinema Negro da UFES. A mostra exibiu 22 obras de realizadores(as) negros(as) do Brasil e do exterior, promovendo debates e oficinas sobre cinema. No entanto, a segunda versão da Mostra só viria a ocorrer em novembro de 2019, intitulada II Mostra de Cinema Negro do Espírito Santo. Segundo o organizador Adriano Monteiro, a luta e o desejo é possibilitar que a mostra se realize bianualmente, entendendo que essa é uma “importante janela de produção, mercado e exibição do cinema afro brasileiro e afro capixaba” (MONTEIRO, 2020).

Em 2017, a Mostra do Cineclube Teresa de Benguela realizou sua primeira edição na Ilha do Mel, como é poeticamente chamada a cidade de Vitória. O evento foi idealizado por quatro jovens negras cineastas — Hegli Lotério, Karol Mendes, Daiana Rocha e Láisa Freitas —, instigadas pela professora Gabriela Santos Alves. A edição inaugural da mostra contou com cinco dias de programação e teve como tema “Trajetórias”. Em 2018, a segunda edição foi nomeada de “Encontros”. Por falta de patrocinadores financeiros, a Mostra não ocorreu em 2019. No entanto, o cinema das meninas negras tem por objetivo se firmar no calendário cinematográfico da cidade, ocupar e fortalecer o cinema negro realizado por mulheres negras nacionalmente. Desse modo, a mostra tem como propósito discutir o cinema negro a partir da reunião de uma filmografia dirigida, produzida e roteirizada por cineastas negras, exibindo filmes que valorizam as narrativas e memórias da cultura negra.

4.3 - No Centro do Planalto cinematográfico

Na capital do Brasil, realiza-se desde 2017, a primeira mostra competitiva de cinema negro do Brasil. A Mostra Competitiva de Cinema Negro – Adélia Sampaio reúne filmes recentes de cineastas negras de todo o Brasil. Em 2019, a terceira edição promoveu importante debates sobre a mulher negra no cinema e várias oficinas sobre a produção cinematográfica, com a participação de realizadoras de todo o Brasil.

A Caixa Cultural de Brasília abrigou em suas dependências a Mostra de Diretoras Negras no Cinema Brasileiro30, com curadoria de Kênia Freitas e Paulo Ricardo de Almeida, o projeto apresentou uma retrospectiva da produção cinematográfica de cineastas negras no Brasil, desde a primeira cineasta negra Adélia Sampaio aos nomes mais recentes e contemporâneos, exibiu longas, médias e curtas entre documentários e ficções.

No mesmo espaço da Caixa, em 2018 foi a vez da Mostra Visionária - O Olhar da Mulher Negra, composta por trinta curtas-metragens que demonstram o olhar das mulheres negras que atuaram na direção, roteiro, produção e como protagonistas na construção de uma narrativa cinematográfica refletindo suas próprias histórias. Essas duas, entretanto, mostras foram apenas eventos pontuais.

Também como evento pontual, destaca-se a 16ª edição do Goiânia Mostra Curtas (2016), que realizou uma mostra paralela sobre cinema negro. Além de homenagear o cineasta Zózimo Bulbul, a mostra exibiu um panorama que retrata as preocupações e narrativas desenvolvidas pelos cineastas negros.

No Estado do Mato Grosso, a Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso, ocorre desde 2016 cumprindo o objetivo de debater e refletir sobre o protagonismo dos(das) negros(as) nas produções audiovisuais. Consolidado com sua quarta edição (2019), o evento é um incentivo para produzir, contar histórias e tornar o audiovisual democrático e, ainda, revelar a arte e a cultura brasileira, com diversidade artística e ampliação das vozes negras do país.

4.4 - Cinema Negro na Região Sul

No Rio Grande do Sul, a primeira edição da Mostra de Cinema Negro de Pelotas aconteceu em 2017, na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Desde então, a Mostra tem reunido anualmente produções de cineastas negras e negros contemporâneos.

Sem se constituírem como eventos de fluxo contínuo, encontramos, em Porto Alegre, o Ciclo de Cinema Negro e a Mostra de Cinemas Africanos, ambos ocorreram em 2019.

O Núcleo de Estudo Afro-brasileiros da Universidade Federal do Paraná realizou, em 2010, a I Mostra de Cinema Negro e Indígena de Curitiba. Essa mostra parece ter sido pontual, pois não conseguimos obter informações sobre outras edições.

Desde 2017, Curitiba realiza a Mostra de Cinema Negro Brasileiro. O evento ocorre no Cine Passeio e na Cinemateca e no Museu de Imagem e Som (MIS), apresentando trabalhos de cineastas negros e negras do Brasil.

Em 2019, o Movimento Negro Periférico, Projeto É Da Nossa Cor e Coletivo Pele, em parceria com o programa Cinemática Temas Transbordantes, criaram o Festival Cinema Negro de Santa Catarina. A primeira edição do evento abriu o mês da Consciência Negra em Florianópolis, no Centro Integrado de Cultura (CIC). Dentro do Festival, aconteceu a Mostra Competitiva de curtas-metragens e a Mostra de Cinema Infantil, ambas pautadas na temática da negritude.

4.5 Região Norte - O negro na Amazônia

No Pará, a Mostra de Cinema NEGRO FICCA ocorreu na cidade de Belém e reuniu 10 filmes nacionais e estrangeiros, de autores negros e de temáticas a partir da arte e da resistência negra. A mostra aconteceu em novembro de 2017, na Sala de Leitura do Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/UFPA). A Mostra de Cinema NEGRO FICCA não teve, entretanto, continuidade.

Em 2019, o I Festival de Cinema Negro Zélia Amador de Deus nasceu com o objetivo de discutir o racismo das produções audiovisuais e valorizar o cinema afro-brasileiro, com ênfase na produção da região amazônica. A iniciativa do Festival é do Cine Diáspora, projeto da artista visual Luana Peixe e do cineasta Rafael Ferreira, e homenageia a professora e ativista paraense Zélia Amador de Deus, referência nacional na luta pela valorização de mulheres e homens negros.

No estado de Roraima, em maio de 2015, ocorreu o segundo ciclo de filmes do projeto Cine Neabi I - Multiplicando Olhares, com obras que retratam a cultura negra. O Cine Neabi é um cineclube que tem a diversidade e os direitos humanos como foco principal. O projeto é desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do Instituto Federal de Roraima (IFRR) Campus Boa Vista-Centro.

A Universidade Federal do Amazonas, promoveu em 2015 um Seminário e Mostra de Cinema, com o intuito de debater as questões raciais. Na programação, a Mostra de Cinema Cine & Vídeo Tarumã apresentou três filmes que focavam diferentes perspectivas da população negra: “Selma”, “Teza” e “Quanto vale ou é por quilo?”

Embora esses últimos eventos não sejam uma produção exclusiva de cineastas negros, consideramos essas mostras dentro desse panorama, por ser serem as únicas que encontramos na região amazônica. Nota-se um visível crescimento de cineastas negros e negras na região e a incansável luta de exibição de suas produções. Desse modo, esperamos que o I Festival de Cinema Negro Zélia Amador de Deus se consolide como evento anual da região.

5 – Conclusão

Em 1987, ao dissertarem sobre Cinema Negro Brasileiro, os intelectuais Helena Theodoro, José Jorge e Beatriz Nascimento apresentaram as dificuldades que a população negra enfrentou [e enfrenta] para acessar conhecimentos e escolaridade. Apontaram que a luta pela educação formal da população negra também fez parte da luta pela independência; pois, sem o acesso à educação formal, as desigualdades econômicas sociais e culturais são respectivamente maiores.

Ao olhar atentamente para o passado do cinema brasileiro, constatamos a invisibilidade de cineastas negros e negras. Nos dias atuais, encontramos grupos que, no entanto, acionam um circuito independente, por meio dos encontros, dos festivais e das mostras, para distribuir e exibir as suas produções, como meio de romper com as estruturas excludentes do cinema. Dessa maneira, o cinema negro constitui um ponto de aglutinação de ações que visam a alterar o lugar a que a população negra foi relegada ao longo da história do cinema e do audiovisual no país.

O cinema negro tem sido arquitetado por cineastas que passaram por um processo de construção de suas identidades negras, encontrando na produção audiovisual meios concretos de denunciar e combater o racismo e as múltiplas formas de discriminação e preconceito tão arraigadas na sociedade.

É importante destacar que, em nenhum momento, tivemos a intenção de abarcar a totalidade das cerimônias do cinema negro. Não nos resta dúvidas de que, entretanto, os encontros, festivais e mostras específicas têm sido sim um dos caminhos para consolidar a construção de um cinema negro brasileiro.

Todas essas ações que desabrocharam principalmente nas últimas décadas possibilitaram a consolidação do cinema negro no Brasil, ao viabilizar reflexões sobre a história da África e das condições socioeconômicas da população negra. Além disso, as perspectivas de mudanças, por meio dos programas de transferência de renda e do acesso às universidades federais concretizadas pela política de cotas, colocaram no mercado um crescente número de profissionais que buscam em suas produções mostrar a complexa trama de experiências vividas pelos negros e negras brasileiros. Esse quadro reflete o que ficou evidenciado no artigo. Observa-se que grande parte dos eventos de cinema negro, nos últimos anos, estiveram associadas às universidades públicas em todas as regiões do país, refletindo parte dos desdobramentos do acesso da população negra aos espaços acadêmicos. Parafraseando a ativista Ângela Davis: “Quando a população negra tem acesso a educação, ela movimenta toda a estrutura das sociedades ao seu redor”.

Concomitantemente a esse avanço nas políticas afirmativas, assistimos ao desenvolvimento das tecnologias digitais, que permitiram o acesso aos meios necessários para a produção cinematográfica31 e com isso o aumento do número de produções feitas por realizadores e realizadores negras. Se as tecnologias digitais influenciaram, entretanto, o crescimento de novas narrativas cinematográficas, não é possível enxergar esse processo como uma mera consequência advinda dos aparatos técnicos. A partir dessa compreensão, nosso intuito aqui foi examinar o elo que esses grupos possuem com as tecnologias. Corroboramos as ideias de Jonathan Crary, que cita Deleuze para explicar que “máquinas são sociais antes de serem técnicas” (2012, p. 38), ou seja, a tecnologia se completa na relação que se constrói socialmente, é antes de tudo uma relação discursiva que se forma por meio de produtos materiais.

A confluência desses fatores possibilita que negros e negras possam inserir-se no mercado cinematográfico e refletir sobre as suas vivências e a história da população negra em suas produções, e assim provocaram uma intensa mudança na relação entre o cinema brasileiro e a população negra. Dois exemplos ilustram esse cenário de tomada de espaço no cinema nacional pela produção negra.

Em 2016, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro sediou o seminário “Produção audiovisual, identidade e diversidade – um olhar dos realizadores afro-brasileiros e indígenas sobre o cenário brasileiro do audiovisual”. Nos debates, realizadoras e realizadores negros apresentaram a urgência de se criarem editais específicos, bem como a necessidade de ampliação dos editais de cinema. O seminário também debateu a inópia participação de negros e indígenas nos festivais, mostras e nas seleções de júri. Segundo o crítico Heitor Augusto (2019), o debate que ocorreu em Brasília foi fruto de discussões sobre representatividade que cineastas negros e negras têm travado em diversos espaços.

Outra ação bastante significativa foi a criação do Prêmio Zózimo Bulbul na 51ª edição, do Festival do cinema brasileiro, em parceria com a APAN. O Prêmio teve como perspectiva: “o corpo negro na frente e por trás das câmaras e a inovação estética e narrativa na abordagem de subjetividades negras”. Apesar de sua inquestionável relevância, o prêmio não aconteceu em 2019.

Esses exemplos que transcorreram no mais antigo festival do país são consequências das mudanças ocasionadas pelos fatores descritos ao longo do artigo, isso demonstra que, na contemporaneidade, o cinema produzido por homens e mulheres negros(as) exige seu espaço, questiona as estruturas do cinema nacional, bem como marca uma territorialidade sedimentada no desenvolvimento humano, criando e recriando mundos e possibilidades, em que o fazer cinema constitui também uma oportunidade de reconstituição da imagem e da subjetividade do ser e de um povo, desenvolvendo uma arte engajada na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.

Notas finais

1Doutora em Educação e comunicação pela Universidade de Brasília (UnB).

2Mestrando em Artes Visuais na Universidade de Brasília e professor da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF).

3“O cineasta e ator Zózimo Bulbul produziu e dirigiu filmes e vídeos documentários de curta, média e longa metragem. Entre os quais Alma no olho (1973), Artesanato do samba (1974, em co-direção com Vera de Figueiredo), Músicos brasileiros em Paris (1976), Dia de Alforria...(?) (1981), Abolição (1988) e Pequena África (2001). A partir dos anos 1990 realizou vídeos sobre a história do negro no Rio de Janeiro. Trabalhou ainda como cenógrafo, produtor e assistente de montagem. Mas ficou conhecido do público como ator no cinema e teatro” (CARVALHO, 2012, p.2).

4Idealizado por Zózimo Bulbul o Centro Afro Carioca de Cinema foi criado com objetivo de promover a cultura afro brasileira e de seus artistas e dentre outras ações valorizar “a produção cinematográfica brasileira, africana e caribenha como um ato social de transmissão de sabedoria, formação técnica e artística, profissionalização e a inclusão no mercado de trabalho” (CACC, 2018).

5O I Encontro de Cinema Negro Brasil África ocorreu em novembro de 2007, exibindo 60 filmes de curta, média e longa-metragens, dentre esses, 48 brasileiros e 12 africanos. A curadoria foi realizada por Zózimo Bulbul, idealizador do evento (CACC, 2018).

6A data foi instituída pelo Movimento Social Negro em 1978, como dia Dia Nacional da Consciência Negra.

7“O produtor e cineasta Zózimo Bulbul – o inventor do cinema negro brasileiro” texto de Noel dos Santos Carvalho.

8Como demonstra pesquisa realizada pela ANCINE - Agência Nacional do Cinema. Órgão responsável pelo fomento, pela regula e pela fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil. <https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/repositorio/pdf/informe_diversidade_2016.pdf>

9Ver: ARAÚJO, Joel Zito (org.). O negro na TV pública. Brasília: FCP, 2010. Nessa carta, escrita em 1953, o ator reivindica maior participação de negros nas produções, e se configura hoje, como o primeiro manifesto do Cinema Negro Brasileiro.

10Extintos em 16 de março de 1990, por Collor de Mello que pôs fim ao Ministério da Cultura. O cinema brasileiro passou mais de uma década sem um órgão responsável, até a criação da Ancine em 2001.

11Ver: IKEDA, Marcelo Gil. As leis de incentivo e a política cinematográfica no Brasil a partir da “retomada” Vol. 17, nº 3, setembro-dezembro 2015. Disponível em: <https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/download/4308/pdf>.

12A participação dos/das negros/as na indústria cinematográfica historicamente foi insignificante e totalmente silenciada, a exemplo dos trabalhos de Zózimo Bulbul e Adélia Sampaio. Que apesar de terem produzido inúmeros filmes, possuem pouco destaque na história do cinema brasileiro.

13Criado em 1993 pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP (Universidade de São Paulo ), a sala leva o nome do professor, crítico e escritor Paulo Emílio Salles Gomes que, além de ser um dos maiores pensadores do cinema brasileiro, implantou um dos primeiros cursos de Cinema do Brasil: o da UnB (Universidade de Brasília) e, após seu fechamento, em 1967, ajudou a implantar o curso na USP.

14Criado em 1995 em Belo Horizonte, o FAN é um festival de arte negra, ocorre desde então com periodicidade bienal.

15 FILMOGRAFIA, “O Negro no Cinema Brasileiro”, in filme Cultura nº 40 - Ano XV Embrafilme, Rio de Janeiro, Ago/Out, 1992.

“100 anos da abolição nos 90 anos do cinema”, in Jornal da Tela, N29 - Ano VI,Embrafilme, Rio de Janeiro, Maio/Junho, 1998.

16Para além de todas os eventos e comemorações, o tricentenário de Zumbi dos Palmares foi um marco para construção de políticas públicas para a população negra. O Movimento Social Negro Brasileiro, reuniu em Brasília 30 mil pessoas de todos os estados do Brasil para denunciar o preconceito, o racismo e a discriminação racial como determinantes da ausência de políticas públicas para a população negra

17Sobre o assunto ver: SOUZA, Edileuza Penha de. Contando nossas próprias histórias: mulheres negras arquitetando o cinema brasileiro. Conferência Internacional de Cinema de Avanca. Portugal, 2016. (Pág. 485-495).

18Atualmente enfraquecida, a Lei 10.639/2003 alterou a Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira, tornando obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em toda educação básica do país.

19Candido, Marcia R.; MORATELLI, Gabriella; DAFLON, Verônica T.; FERES JÚNIOR, João. 2014. A cara do cinema nacional: gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012). In: Textos para Discussão GEMAA, Rio de Janeiro, n. 6, p. 1-24. Disponível em: <http://gemaa.iesp.uerj.br/publicacoes/textos-para-discussao/tpd6.htm>

20ANCINE (Agência Nacional de Cinema) divulgou os dados de 2016 reiterando a inexistência de diretoras negras. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2017-04/pesquisa-da-ancine-confirma-pequena-presenca-feminina-na-producao>

21Sobre o assunto ver: SOUZA, Edileuza Penha de. Cinema Negro – conceito corporificado pela militância. In: Cinema na Panela de Barro: Mulheres Negras, narrativas de amor, afeto e identidade. Brasília, UNB, 2013. (Capítulo: - pág. 64 - 84). Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/17262/1/2013_EdileuzaPenhadeSouza.pdf>

22O CacheiraDoc, ocorre desde novembro de 2010 na UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia em parceria com o Curso de Cinema e Audiovisual.

23O Cineclube é um projeto de pesquisa e extensão vinculado ao curso de Cinema e Audiovisual da UFRB, e conta com apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, por meio do Fundo de Cultura - Edital Setorial de Audiovisual 2016 da Funceb, em parceria com Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda do Estado.

24Doutor em Cinema, Estética do Audiovisual e Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), Mohamed Bamba, nasceu na Costa do Marfim e construiu toda sua carreira acadêmica no Brasil, era professor da Universidade Federal da Bahia.

25A quinta edição da Egbé - MOSTRA DE CINEMA NEGRO DE SERGIPE aconteceria em abril de 2020, mas foi adiada devido à pandemia de Covid-19.

26Cineasta e produtora audiovisual. Mestra em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe, é Co-criadora da Egbe- Mostra de Cinema Negro de Sergipe.

27A cineasta e antropóloga Dra. Sheila S. Walker, ratifica a diáspora africana em todo mundo e de como os povos africanos usaram seus conhecimentos e tecnologias africanas para a formação de novas sociedades, a exemplo das Américas, Turquia, Índia e outras diásporas.

28Doutor em Cultura pela Universidade de São Paulo - USP. Pós-Doutor em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem IEL/UNICAMP. Professor Associado da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Antropólogo, Cineasta. Criador e curador da Mostra Internacional do Cinema Negro.

29Ator, bailarino, coreógrafo e diretor, atuou em mais de 40 filmes, entre curtas e longas-metragens. Foi dirigido por importantes nomes do cinema nacional: Nelson Xavier, Ruy Guerra, Hector Babenco, Hugo Carvana, Arnaldo Jabour, Carlos Diegues e Neville de Almeida, dentre outros, acabou de completar 66 anos.

30Na sequência a Mostra de Diretoras Negras no Cinema Brasileiro ocorreu no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.

31Dentre esses espaços chamamos atenção para a AFROFLIX, plataforma que disponibiliza conteúdos audiovisuais online produzidos por pessoas negras.

6 - Referências Bibliográficas

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Lei 12.990/2014 – Lei de 9 de junho de 2014 – Reserva aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12990.htm>